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Luis Ganem: O terceiro sol

Por Luis Ganem

Luis Ganem: O terceiro sol
Foto: Divulgação

Que beleza! A Bahia virou a terra do sol! Pra ser mais exato: do segundo sol. Nossa, quanta alegria ter uma novela feita na nossa terrinha (terrinha vale como referência poética). Como é bacana perceber que por aqui, eu, você e todo mundo fala cantando – agora consigo compreender porque temos tão bons talentos na música! Que bacana entender que em pleno século XXI nossa Salvador se resume, ao menos pelo que percebi, em um Bataclan moderno com suas lindas moças de formosa prosa – os termos quenga e acompanhante estão em desuso – e que passamos o dia, pasmem, jogando capoeira, pescando e xingando tudo que é nome, coisa que eu não faço e que só vou fazer se essa ‘mizera do cabrunco do estopó’, esse ‘lá ele’ (não pode falar desgraça que o povo bate na madeira e se benze) do meu computador parar agora por falta de energia. Mas enfim, dado o direito a tal da licença poética, o bom é que essa caricatura da Bahia e seus habitantes, está tomando forma, inundando o Brasil e o mundo com a nossa música, nossos artistas, nosso som... #sqn. Pois é. Nada disso está rolando nesse sol que está brilhando por essas pradarias.

 

Mas o que isso tem a ver com nossa realidade musical? Simples: A novela criou no seu entorno, nesse caso entorno musical, regravações da nossa música, com sucessos de outrora, repaginados na voz de outros artistas que não os nossos – com exceção de alguns, que conseguiram colocar seus sucessos na novela, a grande maioria do contexto musical ficou por conta dos “estrangeiros”.

 

Estava lendo inclusive, divulgado que foi em “verso e prosa”, que a trilha foi feita sendo uma homenagem à Bahia e ao seu ritmo que foram muito importantes nos anos noventa! Inclusive, o diretor artístico da produção reiterou que foi tudo escolhido a quatro mãos! Ou seja, não satisfeito com uma mão na “pá de cal” colocou quatro pares para jogar a cal nessa singela homenagem pós mortem. Até porque, se alguém me disser que viu um quê de homenagem nas regravações feitas com músicas da Bahia, só se foi homenagem póstuma ao nosso ritmo.

 

Antes de mais nada é preciso dizer que isso não desmerece nenhum artista que está cantando e que não estou aqui fazendo juízo de valor com as interpretações vigentes. Estou reiterando isso, para que não apareçam defensores do alheio querendo tirar onda de advogado por conta do meu prisma de visão. 

 

Olha, pra quem não labuta na música, está aí um bom momento pra se compreender o nível de influência que nossos artistas têm no cenário nacional: zero. Lógico nem todos passam por esse dessabor. Mas em falando sobre o coletivo, é muito pouco o que se tem em relação ao que fomos. Com a novela é que se consegue perceber como perdemos força. Quando poderíamos imaginar em outras épocas, estaríamos a mercê de vontade de novela, diretor, produtor e mais não sei o quê. Quando em sã consciência deixaríamos de lado reivindicar nossa expressão musical, para nos preocuparmos apenas com o mundo do cantor Roberto Falcão, da sua esposa Caroline Falcão e da representante das “mininas de formosa prosa” da noite na Bahia, Laureta Botini. 

 

O que fico mais chateado com isso tudo é que dentro da tal “pesquisa” musical que foi feita para se criar a trilha sonora da novela, nenhum valor local foi encontrado. Até entendo que para o mundo estamos em baixa, mas daí não ter encontrado mais que um valor artístico – fora os artistas que estão rodando bem no mercado – é um pouco demais. 

 

Olha, mesmo tendo sido regravação, releitura, rearranjo e tudo mais de nome que quiserem dar, poderiam ter pelo menos apostado em grandes artistas locais que muito já contribuíram e contribuem com a música nacional. Não consigo entender e nem quero, que não se veja no Cantor Lazzo uma possibilidade de fazer parte da trilha da novela, ou mestre Gerônimo, Jussara Silveira, Mônica San Galo, Elpídio Bastos, Sylvia Patrícia e por aí vai. 

 

O negócio foi tão bem escolhido, que nem o cara que é considerado o Rei da música baiana que é Luiz Caldas está na trilha. Até porque já que é uma homenagem, o certo era o Rei e a Rainha.

 

Mas pra não dizer que nada me agrada deixo aqui o meu registro com a canção ‘axé pelô’ do compositor Marquinhos Osócio – escreve assim mesmo viu redação. Fora Saulo, que é um entusiasta e persistente no estilo musical Samba-reggae, há muito que não vejo uma música que não dói aos ouvidos e nessa música tanto a melodia quando a forma de cantar foram uma grata surpresa do mar de licenças poéticas encontradas na trilha nacional da novela.

 

Talvez e como sempre digo talvez, esteja aí um caminho para as novas gerações trilharem. Lembro bem que éramos nós da Bahia que falávamos de amor. E essa música me fez reviver um pouco isso, do bom momento, e a certeza que nosso ritmo é contagiante e tem seu espaço. Só precisa a vontade dos bacanas em fazer algo que preste ao invés de querer ficar remando na onda do mercado.

 

Quando começamos há mais de trinta anos fizemos a nossa música, não fomos atrás do estilo dos outros. E olha que o diacho do ‘fio de cabelo’ já estava estourado naquela época e o povo já usava calça apertada no saco – cruz credo!

 

É isso aí, vou ficando por aqui me preparando pra ver a novela e a casa de Laureta. Pois se tem uma coisa boa nessa novela é a casa de Laureta, pois lá o que não falta é comida, como a própria Laureta fala.

 

Entendeu? Sabe de nada inocente!