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Enviem-me para Havana: tem rum e pode me fazer esquecer do Capitão Brasil

Por Fernando Duarte

Enviem-me para Havana: tem rum e pode me fazer esquecer do Capitão Brasil
Foto: Reprodução/ Redes sociais

É inegável que, às vezes, conseguimos nos surpreender. Na última terça-feira (13), uma imagem brotou na minha timeline. Era um pitoresco boneco representando um homem branco careca, vestido de super-herói com as cores do Brasil e um H no peito. É algo tão decadente e autodepreciativo que não mereceria holofotes. Porém o brasileiro não pode permanecer um dia na vida sem ter vergonha alheia. É um fato triste, mas um fato.

 

Como evidentemente o autor da brincadeira de mau gosto precisa se manter em evidência – e esse boneco é apenas mais uma tentativa disso -, evitarei divulgar o nome dele. Até porque é impossível não falar o quão brega é se dizer patriota apenas porque usa verde e amarelo. Eu, por exemplo, considero outras pessoas muito mais ligadas e fieis à pátria do que um empresário que já acumula algumas condenações na Justiça por danos morais coletivos ou ações por sonegação fiscal. Se bem que é bem fácil discordar de mim nesse ponto. Tem gente que acredita que Havana é decadente só por Cuba ser comunista e eu não penso assim.

 

A iniciativa, frise-se, não teria sido do homenageado pelo tosco brinquedo - que pode ser também um bibelô para ser fixado em crachás e computadores. Afinal, alimentar o ego de alguém que se veste como o Charada ou o Coringa, vilões de Batman, apenas com as cores trocadas não é algo tão difícil, não é mesmo? Se bem que será possível ver muitos Capitães Brasil espalhados pelo Brasil. A roupa cafona do “super-herói” estará disponível nas principais lojas do grupo de propriedade do representado.

 

Porém, apesar de admitir certo grau de surpresa com a fabricação do boneco, ficarei ainda mais surpreso quando tiver que lidar com esse novo símbolo nacional ganhando as ruas, as mentes e os corações de crianças e adultos do Brasil inteiro. Em um país cujas fronteiras entre o realismo fantástico e a fantasia foram completamente misturadas, o que há de novo nesse episódio de constrangimento público? Para mim, só a cara de pau de quem naturaliza um Capitão Brasil como uma espécie contraponto ao Capitão América. Convenhamos: o Zé Carioca, com a malandragem carioca, é muito mais brasileiro do que esse projeto de patriota.

 

Bertolt Brecht já dizia que é infeliz do povo que precisa de heróis. O Brasil no contexto de pós-verdade nos obriga a reformular um pouco essa citação. Louco é um povo que defende esse tipo de herói. E antes que digam: prefiro ir para Havana. Lá tem rum. E beber me ajuda a fingir que vivemos num país normal.

 

Este texto integra o comentário desta quinta-feira (15) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para a rádio A Tarde FM. O comentário pode ser acompanhado também nas principais plataformas de streaming: Spotify, Deezer, Apple Podcasts, Google Podcasts e TuneIn.