Tinoco critica criação de secretaria para ponte Salvador-Itaparica e aponta fragilidades no projeto: "É temerário"
O vereador Cláudio Tinoco (União Brasil) criticou, em entrevista ao Bahia Notícias, a proposta do governador Jerônimo Rodrigues (PT) de criar uma secretaria específica para tratar da ponte Salvador-Itaparica. Para o parlamentar, a iniciativa soa mais como uma manobra administrativa do que uma solução efetiva para os problemas relacionados ao projeto.
“Isso soa para mim como uma fragilidade tremenda para quem faz parte, evidentemente, de um grupo político. O governador Jerônimo Rodrigues foi secretário de Rui Costa, então ele tem relação com o passado antes do momento em que assumiu o governo da Bahia. Depois de praticamente 16 anos, desde o primeiro anúncio em 2009, o governador vir agora com a proposta de criar uma estrutura burocrática e administrativa, sob a justificativa de que a ponte e todo o seu viário demandam essa secretaria, me parece incoerente”, afirmou.
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Tinoco destacou que o governo poderia adotar medidas mais práticas para avançar no projeto, envolvendo diretamente órgãos técnicos e populações impactadas. Segundo ele, diferentemente do que afirma o próprio Jerônimo, comunidades tradicionais e povos originários ainda não tiveram abertura para diálogos sobre os impactos da obra em seus territórios.
“O governador poderia criar um grupo de trabalho, trazendo representantes da Seinfra, da Sedur, da Sepromi. As populações de povos originários das ilhas de Itaparica e Vera Cruz estão indignadas porque até o momento não tiveram acesso ao projeto, não há estudo de impacto sobre suas comunidades e territórios. O relatório da FIPE, contratado pelo próprio governo através da Secretaria de Infraestrutura, traz uma série de considerações que ainda precisam ser atendidas para que esse projeto possa ser implementado. Ou seja, para iniciar a obra, que é o que todo mundo espera”, disse.
O vereador também deixou clara sua posição contrária à execução da ponte, defendendo alternativas diferentes para a região da Baía de Todos-os-Santos.
“Eu, em particular, sou contra o projeto da ponte. Queria deixar isso muito claro. Sou contrário porque tenho outra visão para a Baía de Todos-os-Santos. Por mais que eu entenda a importância da logística e da infraestrutura, acredito que existem alternativas”, reforçou.
Tinoco ainda demonstrou preocupação com os impactos viários que a obra pode trazer para Salvador. Segundo ele, o projeto atual não detalha adequadamente como será a chegada das vias na capital.
“O impacto viário em Salvador, eu diria, nem a Secretaria de Mobilidade da prefeitura tem noção. Hoje vemos algumas animações mostrando três vias da ponte entrando ali, mais dois túneis para a via expressa. Fala-se em impacto na Feira de São Joaquim, mas ficamos, assim, às cegas”, pontuou.
Outro ponto de crítica levantado pelo vereador foi o cronograma estabelecido após a revisão contratual assinada em junho deste ano. Ele apontou riscos financeiros e eleitorais relacionados ao andamento da obra.
“Hoje o governo se apega a um prazo contratual, a partir da revisão assinada em junho, de que em até um ano o consórcio iniciará as obras. Em junho de 2026, a três meses das eleições, uma obra orçada em R$ 11 bilhões, que técnicos dizem não sair por menos de R$ 15 bilhões no final. E olhe lá, em cinco anos, em 2031, se cumprirem os prazos. É temerário. Eu, se fosse presidente do Tribunal de Contas do Estado da Bahia e da União, porque há recursos federais envolvidos, mandaria paralisar nesse momento. Deixaria passar o processo eleitoral para, só então, avaliar a viabilidade e o comprometimento das finanças do Estado da Bahia”, criticou.
Por fim, Tinoco relacionou a construção da ponte à situação precária do principal sistema de transporte atual entre a ilha e a capital baiana. Para ele, a dependência do ferry-boat e a falta de renovação da frota revelam mais um ponto de fragilidade.
“A gente imagina pelo menos seis anos pela frente até a ponte ficar pronta, caso o prazo seja cumprido a partir de agora. Enquanto isso, temos uma frota sucateada e sem qualquer perspectiva de renovação do ferry-boat”, concluiu.