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Entrevista

'A política é uma junção de interesses coletivos', diz Lídice ao avaliar cenário - 13/09/2021

Por Mari Leal / Mauricio Leiro

'A política é uma junção de interesses coletivos', diz Lídice ao avaliar cenário - 13/09/2021
Fotos: Priscila Melo/ Bahia Notícias

Pessoalmente, os planos da deputada federal e presidente estadual do PSB da Bahia, Lídice da Mata, é garantir a reeleição para a Câmara Federal. A postura, no entanto, não tira por completo o PSB de uma espécie de ‘stand by’ em relação à composição da chapa oriunda da base aliada, que deverá buscar a sucessão do governador Rui Costa. 


Em entrevista ao Bahia Notícias, Lídice garantiu que “se o cavalo passar selado”, a legenda não se esquivará de compor a majoritária. Vale ressaltar que, em uma eventual vitória do atual senador Jaques Wagner, a legenda liderada pela parlamentar ocupará uma cadeira no Senado. Assumiria o lugar de Wagner o atual vice-prefeito de Ilhéus e ex-deputado federal, Bebeto Galvão. 


"Acho que na Bahia, neste momento, a chapa é pequena, com muita disputa. Se o cavalo passar selado, o PSB terá alguém para colocar. Se não isso, o meu plano pessoal é ser candidata a reeleição e continuar ajudando a Bahia e os baianos nessa  condição", enfatiza.


No bate-papo, ela pontua também as prováveis dificuldades do pleito de 2022, tendo por base as atuais regras eleitorais vigentes no país e como afetará a organização dos partidos.  


Também avalia ainda as condições em torno do fortalecimento do impeachment do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), sobretudo após os atos de 7 de setembro, os quais aprofundaram os conflitos entre os Poderes constituídos. 


“Da nossa parte, como partido de oposição, e acho que os outros partidos de oposição, esse movimento todo que aconteceu, por mais que o presidente não queira, nos fortaleceu. Primeiro que consolidou aquilo que nós dizíamos dele, homem atrapalhado, sem controle e irresponsável.”

 

Após o 7 de setembro o conflito entre o presidente e os demais Poderes se aprofundou. No entanto, findou com uma carta e aparente recuo. Pela sua experiência no Legislativo, como fica na Câmara a pauta impeachment a partir de agora?

É claro que esse movimento foi feito pelo centrão e pelo MDB que, digamos, historicamente não era o centrão. Era um partido de centro democrático, com seguimentos radicalizados democraticamente. Mas mudou o seu perfil e virou um partido muito próximo do centro. Então o centro atuou, através de Arthur Lira e seus mais próximos, o PP atuou para abaixar o fogo e para intermediar e o MDB entrou dando as cartas, literalmente. Escreveu a carta e conseguiu fazer a negociação com Alexandre de Moraes. Foi uma negociação objetiva. O ministro agora já começou a liberar algumas prisões e o governo reduziu o tom sensivelmente. Foi feita uma negociação explícita, quase pública, quase sexo explícito. Isso vem no sentido de arrefecer e impedir aquilo que estava se tornando impossível de deixar de analisar, o impeachment do presidente. Da nossa parte, como partido de oposição, e acho que os outros partidos de oposição, esse movimento todo que aconteceu, por mais que o presidente não queira, nos fortaleceu. Primeiro que consolidou aquilo que nós dizíamos dele, homem atrapalhado, sem controle e irresponsável. Um homem que diz que vai convocar o Conselho da República. Não sabe nem o que é, não sabe que não está composto, não sabe nada e não sabe que não teria maioria no Conselho. Ao mesmo tempo, faz um discurso radical, de confronto cada vez mais, e depois recua totalmente. É parte de uma estratégia política dele. A medida que ele vai puxando a corda, ele vai enfraquecendo também essas instituições e criando certo descrédito. O ministro Alexandre de Moraes vai ter que pensar muito agora, porque se ele liberar tudo, flexibilizar, passar a ideia de que essa intermediação serviu para que ele não se pusesse numa condição de, realmente, vigia da democracia, ou seja, de perceber os crimes que estão sendo cometidos contra a Constituição brasileira e começar a afrouxar, certamente não vai ficar com a imagem de melhor do que ele tinha. Ele estava com a imagem boa diante da nação. Eu creio que o Supremo Tribunal Federal cumpriu uma função fundamental nesse momento do Brasil na defesa da democracia. Coisa que o Congresso, ou pelo menos a Câmara, não tem feito de forma tão explícita, por razões muito óbvias.

 

Como avalia o comportamento, os posicionamentos do Arthur Lira e do Legislativo como um todo diante dos sucessivos ataques do presidente? Bastam as mensagens de repúdio ou haveria outros mecanismos de chamar o presidente a realidade do cargo?

Não basta. Eu acho que os partidos de oposição não vão recuar. Primeiro diante da convicção que se forma em amplos setores da sociedades de que o presidente não tem condições de governar. É ruim para e economia, é ruim para a democracia e para o Brasil. E alguns pensam, como eu vejo discursos lá de que ‘nós vamos melhorar a economia e fica tudo normal’. Não, a democracia é mais importante do que a economia, porque com a democracia fincada, criando, gerando confiabilidade no resto do mundo, nós retomaremos a capacidade de atrair investimentos. Com essa instabilidade democrática os investidores não virão. A imagem do Brasil fora é muito ruim. Tudo estava tão armado, tão programado pelo presidente e seus apoiadores que até faixas em inglês foram feitas. Para desespero do povo brasileiro que não é bilingue. A nossa posição é avançar, avançar no sentido dos segmentos que vão aderindo a ideia do impeachment. Essa manifestação do dia 12 foi de segmentos que são  conservadores, que se assumem como liberais na economia, que esteve à frente do processo de impeachment de Dilma [Rousseff]. Mas nós temos que criar no Brasil uma ampla aliança em defesa da democracia, amplíssima. Essa manifestação é bem-vinda, outra manifestações são bem-vindas e, principalmente, é mais bem-vinda ainda a ideia de se criar uma ampla frente capaz de fazer uma manifestação unificada, para depois cada um construir seu caminho para 2022, mas é preciso mostrar ao Brasil que nós somos capazes de nos unir em defesa do país e do esteio democrático, da Constituição democrática. 

 

Pensando em uma manifestação maior, na sua avaliação, a esquerda conseguiria cooptar os arrependidos de terem votado no presidente? 

Eu acho que sim. No campo da política está cada vez mais claro que sim. Pode se dizer que Doria é um aliado do presidente hoje? Não é. Tem grande contradição com a esquerda, mas a mim não me incomoda nem um pouco estar numa manifestação em que Doria também esteja, se for para denunciar esse governo e reafirmar o campo democrático no Brasil. Eu acho que existe uma direita institucional, que defende uma democracia institucional e que, claro que participou de um momento muito ruim, que foi o impeachment de Dilma, por conta de projeto político esteve lá, mas não sei se tinha dimensão do resultado disso para o Brasil. Tudo isso, o equívoco que foi feito pelo PSDB, pelos outros partidos de oposição, pelo MBL e tantos outras organizações achando que tudo contra o PT valia a pena, está demonstrado que não valia a pena. Se conseguiu fazer algo muito grave para o país que foi colocar esse celerado no governo da nação, completamente despreparado para qualquer coisa. 

 

Lula é de longe o candidato do campo da esquerda com melhor desempenho em pesquisas. Qual o pensamento do PSB enquanto legenda diante do contexto da disputa, considerando também o aspecto nacional? 

Muitos estados, especialmente os do Nordeste, o nome de Lula é visto com muita simpatia pelo PSB, mesmo em Pernambuco onde até agora em 2020 nós tivermos um confronto muito grande. Isso vai dar trabalho? Vai. Mas o PSB quer tudo, menos Bolsonaro. E nós faremos uma aliança necessária para construir uma outra dimensão. Óbvio, se quer tudo contra Bolsonaro, isso não quer dizer que vai por um caminho de direita. Acredito que a maior parte do partido não concordará com isso. Então, nós estamos vendo um crescimento de uma oposição. Gostaríamos de ter um candidato. Não sei se teremos condições de ter a essa altura. Eu pessoalmente acho que já é muito tarde, mas na política as coisas mudam de uma hora para outra. Nós estamos concentrados em rever o nosso programa do partido, feito há 74 anos, e que passa pelo que nós apelidamos de autorreforma. Vamos fazer um congresso voltado para a construção dessa pauta e essa autorreforma também vai dirigir as nossas alianças. Para nos aliançarmos, e eu pessoalmente defendo que seja com Lula, teremos como compromisso a autorreforma na frente, que é uma modernização da visão sobre a economia brasileira. 

 

Quais os planos de Lídice para 2022?

Meus são concorrer a reeleição para deputada federal. Esse é o meu plano. Acho que na Bahia, neste momento, a chapa é pequena, com muita disputa. Eu digo sempre que todo mundo está desprezando a vice. Se sobrar, claro que o PSB se colocará. Mas ninguém é candidato a vice. Eu nunca tive esse desejo de ser candidata a vice e acho que ninguém deve ter. Vice é resultado de uma composição de forças ou de alguém que acrescente, que traga nos apoios para a chapa, ou, no limite, alguém que seja de muita confiança do próprio candidato ao governo. Eu, se o cavalo passar selado, o PSB terá alguém para colocar. Se não isso, o meu plano pessoal é ser candidata a reeleição e continuar ajudando a Bahia e os baianos nessa  condição. 

 

E na Bahia, o PSB já disse trabalhar pelo alinhamento da base de partidos aliados. Mas para a legenda, qual seria a melhor composição de chapa hoje?  Manter as posições atuais beneficia o PSB na medida em que uma eventual vitória de Wagner elevaria o Bebeto Galvão ao cargo de senador…

Claro que nós vamos lutar, inclusive, porque a eleição de Wagner nos dá a posição de termos um senador na Bahia. Nós não estamos ignorando isso. Quando eu digo que não estamos lutando para participar da chapa, entre outras coisas, porque percebemos isso. Essa vai ser uma eleição dificílima. Não porque é difícil Wagner disputar com Neto, com Roma ou quem quer que seja. Confio muito na superioridade de Wagner frente a esses dois candidatos. Wagner já provou sua capacidade de agregar e sua capacidade de governar. Fez um governo que o tornou capaz de fazer seu sucessor, ganhando no primeiro turno, e mantendo sua base aliada até os dias de hoje e, diga-se se passagem, uma base bastante diversificada. Ele tem carisma. O povo no interior gosta dele. O povo na capital gosta. Ela [a eleição] é difícil pelas normas atuais da eleição. Nós temos uma tradição de coligação proporcional no Brasil e as decisões últimas do Congresso Nacional criaram esse obstáculo, que agora se transformou em um tsunami sobre a vida dos partidos e a vida dos deputados. Se você entrar na Câmara agora, está todo mundo desesperado porque ninguém sabe o que é que vai valer para daqui a um ano no processo eleitoral. A Câmara está fazendo um esforço enorme. Nós votamos, aprovamos uma PEC que vem do Senado, redefinindo as regras eleitorais, e votamos também um código eleitoral, que tem referência nessa PEC, mas é também diferente. Estão tentando todos os caminhos. Se o Senado aceitar um, ótimo. Se não aceitar, nós vamos tentar o outro, que é o texto do Senado. Seria muito importante que o Senado deixasse de compreender a coligação proporcional como retrocesso. Esse carimbo de retrocesso é uma bobagem. A política não é uma escada para você subir reto. Ela necessita ser dado um passo à frente outro atrás, dois para frente e dois para atrás, enfim. É um processo dinâmico. E a coligação, hoje, teria uma função muito mais de ser um processo de transição para um outro caminho. O que o Congresso fez foi uma coisa sem transição. A transição foi na eleição de prefeito e vereador, que não pode ser um processo de transição. Ficou parecendo que estava-se tentando fazer um laboratório. O que não é correto. Primeiro, se queriam diminuir partido, não diminuiu partido nenhum. A realidade de um município, são mais de cinco mil, cada um tem sua realidade política. Um partido acaba em um município, mas no outro saiu mais forte. Isso não é regra. A regra e o exercício tem que se dar realmente na eleição nacional e essa eleição nacional, hoje, sem coligação, seria muito prejudicial aos partidos médios, aos partidos de pensamento. Ficariam sem capacidade de fazer chapa, com um fundo eleitoral menor do que o dos grandes partidos e sem condição, portanto, de apresentar chapas competitivas nos estados. 

 

Numa composição de manutenção dos espaços partidários, Rui vai até o fim do mandato e fica sem cargo. Acha que é justo com ele após angariar reconhecimento e popularidade  ficar a mercê de uma vitória aliada no plano federal para eventualmente ser ministro?

Isso não é uma questão de justiça. É uma decisão do governador. Eu não posso interferir nisso. Se o governador disser que ser senador, quem é que vai dizer que ele não será? Agora, isso tem consequências. Quem está desejando está no Senado vai dizer ‘opa, esse lugar era meu. E o que eu faço?’. Então, não é uma questão de justiça pessoal com A, B ou C. Eu também ouço dizer a mesma coisa com a candidatura de governo. ‘Isso seria uma homenagem a fulano, ciclano’. Não podemos fazer política com base nessa referência pessoal, embora tenhamos respeito e consideração por todas as pessoas que construíram o suficiente na política para chegar onde estão. A política é uma junção de interesses coletivos. Interesses de grupo que se tornam coletivos. São diversos os caminhos que se podem tomar, todos eles têm consequência. 

 

A senhora poderia também fazer uma atualização da CPMI das fake news? Há expectativa de retomada dos trabalhos?

A nossa expectativa é que ela possa retornar assim que acabar a CPI da Covid-19. Já tivemos conversa com os membros e compreendemos que duas CPIs agora seria muita dificuldade de funcionamento. O Senado retomou as comissões agora, diferente da Câmara, e ainda está no processo de acomodação. A única comissão que funcionou no Senado até então foi a CPI da Covid, que foi por determinação do Supremo. Então, nem a estrutura toda do Senado está preparada para essa volta total. Duas CPIs têm peso nessa forma de funcionamento. E depois, a CPMI tem uma parte que diz respeito à fake news, que é a parte da pandemia. Para nós, se a CPI avança nessa questão, é ótimo. Aproveitaremos todo o trabalho feito para consolidar no nosso relatório final. Da mesma forma que a CPI, mesmo não funcionando, a postura ousada, combativa, corajosa do Supremo, de não ter abaixado a bandeira da sua autonomia e da defesa da democracia, faz com que os dois inquéritos feitos pelo Supremo, de investigação das manifestações antidemocráticas e da agressão aos membros do Tribunal, elas levam ao mesmo caminho que estava levando a nossa investigação das fake news. Toda essa manifestação contra o Supremo, contra o Congresso, foi feita da mesma forma, com os mesmo instrumentos, os mesmo processo de criação das mensagens massivas. Tudo isso é um modus operandi que é absolutamente igual ao que acontece na fake news. O que chama a atenção é, provavelmente, pelos mesmos grupos e pessoas. Tudo que foi apurado nesses inquéritos será matéria-prima do trabalho da CPMI. Nós avançamos muito. Os grupos, as denúncias feitas foram revisitadas e aprofundadas pelo inquérito. Nós teríamos muita dificuldade em chegar a qualquer coisa de uma investigação mais profunda, que não fosse uma delação, uma denúncia vindo de dentro do processo de financiamento das fake news. Hoje não. Com a apuração dos inquéritos, a ponta do novelo do financiamento está se revelando. 

 

Em relação aos prazos da CPMI ainda temos 180 dias, relativamente extenso. Acredita que haveria algum impeditivo de esse prazo ser expandido e avançar a um ano de eleições?

Impeditivo regimental, não. Pode existir um impeditivo de necessidade dos parlamentares de flexibilizar seus tempos. E como muita coisa já foi feita, como eu disse, tudo isso pode ser aproveitado. Eu creio que o processo pode ser mais rápido.