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Entrevista

Ciro não acredita em apoio de Lula a ele e revela desejo de ter mulher como vice na chapa - 03/07/2018

Por Bruno Luiz

Ciro não acredita em apoio de Lula a ele e revela desejo de ter mulher como vice na chapa - 03/07/2018
Fotos: Enaldo Pinto/ Ag. Haack/ Bahia Notícias

Com uma bota ortopédica, o pré-candidato à Presidência da República pelo PDT, Ciro Gomes, recebeu o Bahia Notícias para uma entrevista exclusiva nesta segunda-feira (2), logo após sua passagem-relâmpago pelo tradicional desfile em comemoração à Independência da Bahia, em Salvador. Com dificuldades para descer as escadas do apartamento onde ficou hospedado, no Corredor da Vitória, o pedetista veio ao encontro da reportagem para uma conversa que durou 41 minutos. Quando questionado sobre o que provocou aquela entorse no seu tornozelo, ele respondeu, de forma bem-humorada. "Fui tentar ajudar o Neymar e aconteceu isso", brincou para, depois, contar que a lesão havia acontecido durante uma brincadeira com seu filho mais novo, o Gael, de 2 anos. À espera do jogo do Brasil, ainda arriscou um palpite para o duelo entre a Seleção Canarinho e o México: "Vai ser 3 a 0 para o Brasil". Não acertou o placar, mas passou perto. Horas depois, o time comandando por Tite venceria o México por 2 a 0 e passaria para as quartas de final da Copa do Mundo. E foi nesse clima tranquilo, de celebração, tanto pelo Dois de Julho quanto participação do Brasil no Mundial, que aconteceu a entrevista. Desarmado do conhecido jeito mais destemperado, o presidenciável respondeu tudo com serenidade e sem exaltações. No entanto, não deixou de lado a também conhecida incontinência verbal, que, segundo levantamento do jornal O Globo, tornou-o alvo de quase cem processos movidos por aqueles atingidos pela sua metralhadora de "amabilidades". Atacou um dos principais adversários na disputa pela Presidência da República, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL). "A nossa sorte é que o Bolsonaro é uma pessoa muito despreparada. Ele é uma caricatura, um personagem, que nem consegue interpretar com qualidade esse pensamento fascistoide que temos visto por aí", criticou. Também foi duro contra o presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB), autor de grande parte dessas ações e o presidente Michel Temer, a quem se referiu com alguém com "baixa qualidade moral". Outro alvo de críticas feitas pelo pedetista foi o mercado financeiro, segundo o qual, na opinião dele, sofre de "usura" ao colocar, por exemplo, juros considerados exorbitantes para a população. Ainda durante a conversa, Ciro falou sobre sua relação com o PT, de quem vem recebendo ataques recorrentes de setores do partido. Se disse injustiçado por ter ajudado sempre ao partido. Também afirmou não ter esperança de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, caso não seja candidato, peça aos petistas para apoiá-lo. Ainda apontou vontade de ter uma mulher como candidata a vice na sua chapa. Na entrevista, também mostrou um lado menos brigão e mais conciliador. Mostrou-se disposto a pedir desculpas a quem ofendeu, para ter aliança com os partidos do chamado centrão. "Se for preciso pedir desculpa para ajudar o Brasil, mesmo eu estando certo, eu faço, não tem problema. Minha cabeça está no futuro do país", destacou. E tocou, ainda, claro, na política baiana. Negou que uma possível aliança com o DEM nacional possa interferir no apoio que o PDT na Bahia dá a Rui Costa. "Nós vamos chegar ao melhor caminho", respondeu, ao ser questionado se, no acordo com o partido, poderia haver uma condicionante de os pedetistas apoiarem a candidatura de Zé Ronaldo ao governo estadual. Leia abaixo a entrevista completa!

 

Aqui na Bahia, festas tradicionais como a do Senhor do Bonfim e o próprio Dois de Julho acabam servindo, em ano de eleição, como termômetro para os candidatos. O que esse termômetro apontou para o senhor?
Eu fiz questão de vir, mesmo com entorse no tornozelo, porque é uma ocasião de falar com todo mundo, abraçar todo mundo. Eu tive a oportunidade de abraçar o governador Rui [Costa], o prefeito ACM Neto, tive com Zé Ronaldo, com Alice Portugal, Daniel Almeida, Lídice [da Mata]. Cumprimentei todo mundo. Foi muito agradável, mesmo tendo sido rápido.

 

Antes da prisão do ex-presidente Lula, e até mesmo nos momentos imediatamente pós-detenção, o senhor buscou aproximação com o PT e uma possível aliança. No entanto, o que temos visto ultimamente são setores do partido fazendo ataques públicos ao senhor. Isso, de certa forma, te afastou do partido, de uma possível coligação entre vocês no primeiro turno?
Não, eu me sinto injustiçado, porque eu ajudei o Lula desde sempre. Em 1989, quando ele foi uma promessa mirabolante, eu já era prefeito de Fortaleza e votei nele no segundo turno. Nesses 16 anos do experimento de poder do Lula e Dilma, eu ajudei todos os dias, sem faltar nenhum. Evidente que eu respeito o trauma que o PT está passando. Tudo isso me dói muito no coração. Mas, de repente, uma fração da burocracia do PT começou a agir de um jeito muito estranho comigo. Como eu acho que o Brasil está em uma situação de grave ameaça, eu estou tentando compreender a lição de Jesus e dar a outra face. A ameaça que pesa nossa sociedade é muito grande. O fascismo, a cultura do ódio na política, saíram do armário. Há um risco de consolidar essa agenda antipovo, antipobre pelo voto popular. Isso não nos permite fazer qualquer tipo de imprudência. Eu vou suportar isso com paciência, com tranquilidade, mas isso em nada muda meu itinerário. Nós apoiamos o PT no Piauí, no meu estado, o Ceará, e no Acre. Estamos no governo do Rui aqui. As agressividades de uma parte minoritária, mas muito barulhenta do PT, não guardam nenhuma coerência com a história da nossa relação. Mas veja bem. Lá atrás, o PT ficou contra a Constituinte, contra o governo Itamar Franco, contra o Real. Nós fizemos o impeachment juntos. Essas coisas, conjunturalmente, eles vão fazer a revisão depois. E eu acredito que nós vamos nos encontrar no segundo turno, de um jeito ou de outro.

 

 

O senhor colocou PSB e PCdoB como prioritários na aliança  que deve ser selada para sua candidatura à Presidência. Com relação ao PSB, a coluna Painel, da Folha de S. Paulo, chegou até a noticiar recentemente que, diante do entusiasmo com a provável aliança entre o partido e o senhor, haveria possibilidade de uma fusão entre a sigla e o PDT, caso haja uma vitória sua. Isso realmente está nas negociações do apoio?
Eu fiquei sabendo disso pelo jornal, da mesma forma que você. O que há é uma histórica aproximação, desde sempre. É uma aliança natural. Principalmente depois dessa tragédia que está acontecendo com o PT, nossa responsabilidade cresceu muito. Há possibilidade de nós fazermos história, de, desde a redemocratização, criarmos um campo novo. De uma esquerda democrática, preservada dessa crítica, sob o ponto de vista moral, que, infelizmente, atingiu pesadamente setores do PT e que pode guiar, dar uma luz para um projeto de país que falta ao Brasil.

 

A falta de definição sobre a candidatura do Lula é apontada como motivo para essa incerteza generalizada no cenário eleitoral, porque ainda não se sabe para onde vai o espólio dele. Como o senhor acha que fica o cenário eleitoral com essa questão? Quem receber o apoio dele, automaticamente, já desponta na liderança e vira franco favorito?
Por mais que seja muito triste isso, ninguém no mundo político considera mais a possibilidade de o Lula ser candidato. Não vão deixar ele ser candidato. Nós, então, tentamos profetizar o que vai acontecer. Eu creio que o nosso campo deve ganhar as eleições no Brasil, o que não quer dizer que já está ganho. Por isso, é preciso ter muita paciência, habilidade, muita humildade. Hoje, o que o PT anuncia é que o Lula deve apontar quem vai ser o candidato. Que efeito vai ter essa indicação, quanto disso será recebido como uma nova Dilma, uma pessoa boa, honrada, mas que, por inexperiência, acabou vulnerando o Brasil a esse golpe que aconteceu, ninguém tem ideia. Nas pesquisas, sai uma dispersão grande. Parte relevante vai para mim, que é a parte mais politizada, que entende que esse campo está com bandeiras mais legítimas, historicamente apresentadas por mim. Sou contra a privatização da Petrobras, contra a privatização da Eletrobras, me coloco a favor de um sistema tributário que diminua impostos em cima dos pobres e da classe média e aumente para os ricos. Estou levando pancada por tudo isso, o que me coloca em um campo popular, nacional e progressista com naturalidade.

 

 

O senhor mesmo apontou que o Lula deve indicar alguém para ser o ungido pelo partido. O senhor acredita na possibilidade de ele pedir apoio petista ao seu nome?
Não creio. Me surpreenderia, mas eu conheço a natureza do PT. A natureza do PT é ter candidato próprio. Nunca apoiou ninguém. É uma coisa impressionante. Todos nós, o PSB já apoiou a vida inteira, o PCdoB a vida toda e nunca nenhum de nós recebemos apoio. Nós agora disputamos uma eleição suplementar no Amazonas. O PDT votou 100% contra o impeachment, e os que votaram a favor nós colocamos para fora. O Eduardo Braga foi ministro da Dilma, saiu do ministério e votou o impeachment. Adivinha quem o PT apoiou lá no Amazonas, entre nós do PDT e o MDB de Eduardo Braga? O MDB de Eduardo Braga. Quem fez o impeachment foi o Senado. O Senado, na votação do impeachment, era presidido por Renan Calheiros. O Lula fez aquela caravana antes de ser preso, chegou em Alagoas e chegou abraçado com quem? Renan Calheiros. Então, essas coisas vão ficando marcadas, mas tudo bem. A gente precisa ter humildade, paciência e solidariedade a esse momento que eles estão passando. 

 

O Bolsonaro aparece em primeiro lugar nas pesquisas quando o ex-presidente Lula não está. Muitos adversários apontam que ele tem um teto, que não cresce mais do que aquilo que registram as pesquisas, acreditam em um processo de desidratação dele quando a campanha realmente começar. Nos Estados Unidos, a gente teve um candidato que era apontado como o azarão, o Donald Trump, que acabou contrariando os prognósticos e vencendo as eleições. Por que nesse cenário tão turbulento e incerto na nossa política o senhor garante que Bolsonaro não vencerá?
Eu penso diferente. Acho que a gente não deveria brincar com fogo nem dançar na beira do abismo. Em uma crise dessa complexidade, você cair na mão do fascismo, dessas soluções toscas, de frases feitas, pelo militarismo, extremismo, pela segregação das pessoas pela etnia, pela cor da pele, porque são mulheres ou LGBTs, essas coisas criam um caldo de cultura muito perigosamente ameaçador ao país. A nossa sorte é que o Bolsonaro é uma pessoa muito despreparada. Ele é uma caricatura, um personagem, que nem consegue interpretar com qualidade esse pensamento fascistoide que temos visto por aí. Por isso que defendo que precisamos ter muito cuidado. Em um deslize, uma falta de humildade nossa, podemos colocar o país em uma situação muito grave. 

 

O senhor tem se colocado como um dos candidatos com maior resistência ao mercado financeiro. Não teme que, sem apoio deste setor, fique mais difícil vencer a eleição?
Ninguém pode ser um bom presidente do Brasil querendo agradar todo mundo. Nosso problema é muito grave. Hoje, o Brasil está destruindo indústrias de uma forma como a história do capitalismo nunca viu. No último ano, o país fechou 1 mil indústrias e botou 580 mil para fora, no desemprego. Se nós puxarmos os últimos três anos, o Brasil já fechou 3,6 mil indústrias. E isso é fruto de um colapso imposto pelo setor financeiro e das contas públicas. Eu não tenho nada contra ninguém. Meu projeto é a favor do Brasil que produz. Em função disso, é preciso enquadrar o setor da especulação. Os juros pagos aqui no Brasil hoje, os juros nominais, são os menores dos últimos anos. A taxa de juros na ponta da economia real está subindo. Quando você cai no cheque especial, paga 282% de juros. Sabe quanto é isso nos Estados Unidos e na Europa? 6%. Então, isso é usura, não pode continuar assim. Nesse momento, 60 milhões das pessoas então com nome no SPC. Nenhum lugar do mundo conhece isso.

 

 

O senhor não teme que uma possível chegada sua ao segundo turno não gere pânico no mercado, a ponto de ser necessária uma “Carta ao Povo Brasileiro”, como aconteceu com o ex-presidente Lula?
Eles vão tentar antes esse pânico. Ninguém se endivide em dólar porque o dólar vai subir, já está subindo porque o governo está torrando nossas reservas para manter a taxa de câmbio até a eleição, para manter esse pânico. Mas nada do que pretendo fazer vai assustar ninguém. Já estive até com eles do mercado. Eu tenho uma história. Não caí de paraquedas, como o Bolsonaro, que nem administrou um boteco pequeno. Eu já fui ministro da Fazenda, ajudei a fazer o Real. Eu tive o maior superávit da história do Brasil. Paguei a dívida de títulos do Ceará com 20 anos de antecedência. Quem quiser fazer terror, faça. Mas não há razão para ninguém ter medo das medidas que vou tomar. Vou criar condições para que o país volte a confiar que é possível ser feliz aqui, não fazer que nem hoje, quando 62% dos jovens querem ir embora do Brasil. Isso é um crime.

 

Com relação à montagem da chapa, como está a definição do seu vice?
O vice, na história brasileira, é alguém muito relevante. Agora mesmo, estamos aí pela imprudência do PT de escolher uma pessoa com moral absolutamente podre para estar na linha de sucessão. Quem escolheu Michel Temer foi o PT. Com essa importância do vice, o perfil ideal, para mim, é alguém que guarde coerência com o plano que eu vou defender para o país. Mas, se eu pudesse, deveria ter na chapa alguém que aperfeiçoe a imagem dela. Por exemplo, se fosse uma mulher empresária do Sudeste, seria ideal. Ou um homem empresário do sudeste. Mas a mulher empresária do Sudeste seria o ideal. A questão é que temos que ver o real, que vai ser negociação com os partidos, que estou tentando construir uma boa aliança, menos para eleição, mas para o dia seguinte. Porque o partido que mais vai eleger deputados, se eu ganhar, vai ser o PDT, que vai eleger 60. Isso é pouco mais de 10% da Câmara. Portanto, é preciso ter paciência, humildade e falar antes para o povo que estou democraticamente obrigado, em respeito ao povo, a negociar. 

 

Até o momento, entre os nomes especulados para a sua vice, não houve de nenhuma mulher.
A mulher faz parte de 52% da população brasileira. Ela sente duplamente o peso da crise, pois tem dupla jornada de trabalho, ganha 76% do salário do homem na mesma atividade. A mulher pobre, mãe, está apavorada com o filho que vai fazer 15 anos e ela pode perder para o narcotráfico, para a violência. Se eu não conseguir uma mulher de vice, serei eu a interpretar com fidelidade extrema essa agenda. E vou buscar botar metade do ministério de mulheres, como eu fiz quando prefeito de Fortaleza e governador do Ceará.

 

O Josué Alencar como vice também chegou a ser aventado. Há realmente um desejo seu de que isso se concretize?
Tem. Esse, inclusive, nós chegamos a sondar, porque ele iria sair do PMDB, e nós imaginávamos, pois ele nos disse, que poderia ir ou para o PSB, ou para o PDT. Portanto, seria um empresário do sudeste, com seriedade política e compromisso nacional. Mas o Josué, não sei o porquê, e aí eu respeito, se filiou ao PR. Pra isso, a vida dele ficou um pouco mais difícil. 

 

Por que o senhor acha que a vida dele ficou mais difícil? Por causa do partido, em si?
Por causa do partido, em si. Se ele vier do PR, não tem problema nenhum. A questão é que não sei se o PR vai topar. Hoje, as informações que circulam é que o partido, puxado por Magno Malta, está condicionado a apoiar o Bolsonaro. Veja onde o Josué foi parar. 

 

 

O senhor mencionou anteriormente a questão do narcotráfico, o que me chamou atenção para falar de segurança pública, um dos grandes problemas do Brasil atualmente. Recentemente, o Atlas da Violência mostrou que o país teve mais de 62 mil homicídios, com uma taxa de homicídios que chega aos mais de 30 por 100 mil habitantes. Muitos especialistas apontam para uma falência no nosso sistema de segurança pública. Como o senhor avalia as políticas empregadas atualmente para a área, já que isso é um assunto que deve ganhar muita importância durante a campanha? Temos um candidato cuja principal plataforma é a segurança, por exemplo.
Esse modelo faliu explosivamente. O Brasil tem hoje 760 mil pessoas aprisionadas no sistema carcerário, que só tem vagas para 320 mil. Já é um modelo de indignidade em que os presídios, que deveriam ser locais de punição e reinserção social viraram verdadeiras universidades do crime. Destas 760 mil, praticamente metade são de negros, pobres e da periferia, que foram presos com minúsculas quantidades de droga nesta tal guerra às drogas. Ou seja, o sistema tradicional, a polícia prende para dar uns ‘bufetes’, fazer estatística e matar, o Ministério Público representa e o juiz condena e a cadeia segrega já está acontecendo. Mas, quando eles entram no presídio, viram exército de reserva do crime do verdadeiro problema de segurança público brasileiro que é a mistura entre o narcotráfico, que movimenta bilhões, e as facções criminosas, que se espalham pelo Brasil.  O problema é que os políticos ficam incitando a justa queixa da nossa população com soluções mirabolantes, tipo o Bolsonaro, como distribuir armas. Imagine os tiroteios hediondos na vida do brasileiro que iriam acontecer. Só para te dar um dado de como isso é patético, a gente precisa tirar a máscara desse elemento. O Bolsonaro foi assaltado no Rio de Janeiro e levaram a arma dele. Provavelmente, alguém já morreu lá na frente ou já foi assaltado com essa arma. Ele, capitão do Exército, não fez nada, imagine uma pessoa que não tem preparação e não sabe que o fator surpresa está na mão do bandido. Eu pretendo criar, já tivemos um passo nisso com o Susp. Não tem orçamento para ele, mas é uma boa ideia. É você organizar todo o sistema, a partir das guardas municipais, hierarquizar as tarefas e, a partir da Secretaria Nacional de Segurança Pública, você estabelecer um orçamento pesado, compatível com a prioridade que isso tem, e estabelecer condicionalidades. Mas vamos criar um sistema de informação, de inteligência para enfrentar a cabeça do crime organizado. Aqui está a solução para o homicídio. Claro que o roubo, que também amedronta nossa população, tem outra fórmula de enfrentamento, mas é mais tecnologia, com câmera, digitalização, entre outras. No fim do sistema, você tem a Polícia Federal, responsável por fazer esse enfrentamento, que é extraordinária. Nós temos 11 mil homens e mulheres no efetivo. Isso é a metade da tragédia. Mas metade deles, sofisticadamente treinados para investigação, estão carimbando papel, passaporte, fazendo atividades administrativas. Chegando, eu farei um concurso de nível médio para agentes da PF para substituir os investigadores nas atividades de ostensividade e um concurso para atividade administrativa. Só aqui eu coloco 5 mil homens, em uns dois anos e meio, em atividades de investigação. Aí tem uma série de medidas. Por exemplo, pretendo colocar como pena adicional para o juiz que ele viole as comunicações de quem está na cadeia chefiando o crime, perder a franquia de inviolabilidade da comunicação.

 
Antes do seu jantar com partidos do chamado centrão, uma declaração sua dizendo que a aliança com PSB e PCdoB seriam a garantia da hegemonia “moral e intelectual” provocou mal estar entre as outras siglas. E, dentro dessas legendas, há resistência de muitas figuras a apoiar o senhor por causa de rusgas passadas, o que poderia inviabilizar o apoio delas a suas candidaturas. Pelo visto, o senhor parece disposto a tê-las em seu arco de alianças. Como vai fazer para contornar esse problema?
Eu e o ACM Neto já nos desentendemos, por exemplo, mas nada que nos impedisse de conversar. No jantar, ele disse: ‘No DEM, você tem muita aresta’. Eu respondi que compreendo, pois eu sou um cara da luta. Lembrei que fui duro com ele porque uma dia ele foi para tribuna e ameaçou bater no presidente Lula, a quem eu servia, e eu fui o encarregado de responder. Ele disse que esquece essas coisas, mas o Pauderney, lá do Amazonas, é zangadíssimo comigo. Eu falei que, se for preciso pedir desculpa para ajudar o Brasil, mesmo eu estando certo, eu faço, não tem problema. Minha cabeça está no futuro do país. A humildade é um dos atributos que o próximo presidente precisa ter para romper com essa trajetória que o Brasil tem vivido. 

 

O senhor está negociando com o DEM, cujo presidente nacional é o prefeito ACM Neto. Aqui, o partido tem uma candidatura própria, a de Zé Ronaldo. Há risco de o PDT deixar de apoiar Rui Costa para se aliar a Zé Ronaldo, caso Neto coloque isso na mesa de negociações como condicionante para o DEM fechar aliança nacional com sua candidatura?
Eu não terei ingerência nisso. Sou ouvido por gentileza dos meus colegas. Eu que tenho que ser mais humilde que os outros. Aqui, nós temos algumas prioridades: eleger nossa bancada federal e a estadual. Temos pretensão de participar da chapa majoritária, mas não é condição. E essa delicadeza, que é uma novidade, nós viemos aqui com Rui, eu sou muito amigo de Jaques Wagner, todo mundo sabe disso, mas é uma novidade. O nosso presidente nacional, Carlos Lupi, tem cuidado desses assuntos por mim. E o Félix [Mendonça Jr.] tem nos ajudado muito aqui e vai achar o melhor caminho. Hoje, eu penso em ficar em casa, para não me mexer, porque veja como é grave a minha responsabilidade. Rui fez uma declaração extremamente gentil comigo, Wagner também, Zé Ronaldo e ACM Neto também. É meu privilégio, sou um cara que conheço as lideranças do país, fui colega de algumas delas. Como a gente resolve isso? Com transparência, lealdade, franqueza e autonomia para que os parceiros achem o melhor caminho para a Bahia.

 

 

Mas e a candidatura do Popó ao Senado seria um palanque para o senhor aqui no estado?
Sim. Eu não sei como está, se ele já tomou a decisão, mas isso depende de todas as composições. Mas que ele é bom, é.

 

Recentemente, o jornal O Globo publicou uma matéria apontando que o senhor é alvo de quase cem processos, por crimes como calúnia, difamação, danos morais. A publicação te dá a alcunha de metralhadora verbal, inclusive. O senhor tem receio de que esse jeito mais sem papas na língua prejudique, de alguma forma, conversas e alianças suas? A língua é seu maior defeito?
Não, mas vão tentar construir isso em cima de mim. Mas é alvissareiro, para mim, para meus filhos, minha netinha que o avô, estando na luta política há 38 anos, tudo que se diga sobre ele é que ele é bocão. As pessoas que me processam nem é por calúnia, pois isso admite a exceção da verdade. E eu não minto. Eu falo as coisas com dureza, pois conheço a podridão da política brasileira por dentro. E eu não sou da máfia. Tem essa conivência toda na política de ‘não fala no meu rabo que eu não falo do seu’. Eu não tenho rabo. Desses processos, metade são do senador Eunício Oliveira. É um barão do Ceará, que ficou podre de rico em contratos sem licitação com a Petrobras. Eu denunciei isso lá atrás e olha o que aconteceu. E eu falo basicamente a verdade. Você é repórter, pode ir lá investigar. O Michel Temer, por exemplo, denunciei a corrupção porque eu estava lá, ele enquanto deputado junto com o Eduardo Cunha, que também me processou. Eu sou processado por Eunício Oliveira, por Michel Temer e Eduardo Cunha. Lá atrás, o Collor também me processou. Ele foi cassado, o Eduardo Cunha está na cadeia e o Temer teve que comprar a maioria do Congresso para não para a cadeia. E eu estou aqui falando com você, olhando para essa vista maravilhosa, fui acarinhado nas ruas pelo povo da Bahia. Eu não tenho televisão, não sou sócio de empresa, não defendo nada, mas tenho inveja de quem tem. Mas minha luta é o povo brasileiro. Nunca, em 38 anos, como ministro, ex-deputado federal, ex-governador, ex-prefeito nunca fui processado por corrupção. Com essa franqueza é que o povo brasileiro está contando