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Entrevista

PT não garante apoio a Lídice para prefeitura de Salvador: 'Não fazemos esse compromisso' - 04/06/2018

Por Bruno Luiz

PT não garante apoio a Lídice para prefeitura de Salvador: 'Não fazemos esse compromisso' - 04/06/2018
Fotos: Priscila Melo/ Bahia Notícias

Em meio às negociações para fechamento da chapa majoritária do governador Rui Costa à reeleição, uma das possibilidades apontadas para a senadora Lídice da Mata (PSB), que deve não estar na composição, é concorrer à prefeitura de Salvador nas próximas eleições municipais, com apoio do PT. Entretanto, segundo o presidente estadual do partido, Everaldo Anunciação, não há nenhuma garantia da sigla para a socialista em 2020. Em entrevista ao Bahia Notícias, ele chegou a citar até o deputado federal Nelson Pelegrino, que é petista, como um nome para disputar o comando do Palácio Thomé de Souza. “O PT não trabalha com compromisso nenhum para as eleições de 2020. Claro que o nome de Lídice é um nome com muito potencial, assim como o de Alice [Portugal], de Nelson Pelegrino. Mas não podemos antecipar esse debate, a escalação do time, se ele nem treinou para jogar ainda. Mas, a nível do partido, não garantimos nada, não trabalhamos com esse método”, assegurou o petista. Ainda durante a entrevista, ele reafirmou que a candidatura do ex-presidente Lula à Presidência será mantida e levada às últimas consequências e também defendeu a política de alianças adotada nos governos petistas, criticada pela militância. Leia abaixo a entrevista completa!

 

Começando pela Bahia, estamos na iminência do fechamento da chapa majoritária. A gente sabe que há uma disputa por uma vaga ao Senado entre PSD e PSB. Nos bastidores, comenta-se que uma possibilidade para a senadora Lídice da Mata seria ela ser candidata a deputada federal, já que ela pode perder a vaga para Angelo Coronel. Inclusive, esse é o caminho considerado mais provável. Como a acomodação daqueles que eventualmente fiquem de fora da composição está sendo pensada?
O PT tem já um consenso em sua direção. Somos gratos com a definição na base, de compreender que a reeleição de Rui é importante, e a candidatura de Wagner virou também consenso. O PT ocupa, então, 50% da chapa, uma parcela significativa. Então, as indicações do partido para a chapa são essas. As vaga restantes não cabem ao PT decidir de quem é. Agora, a gente quer participar desse debate, e o fórum para isso é o conselho político, que é formado por todos os partidos, junto com o governador. Acho que o melhor método para a gente trabalhar é esse, não o método da disputa externa. É a tática que vem dando certo nesses anos todos. E acho que esse método pode dar certo agora, e a gente fazer os senadores, principalmente em um cenário de fragilidade da oposição, inclusive com o recuo do prefeito ACM Neto e uma chapa, respeitadas as pessoas, fraca, sob o ponto de vista eleitoral. Ela não tem significância. O PT está muito tranquilo e não temos disposição de influenciar ou querer criar uma presença além. Óbvio que, comparando com um jogo de futebol, nós temos muitos craques e dois centroavantes. Um joga mais pela esquerda, outro mais pela direita ou centro, mas os dois fazem gol. Quem vai ser escalado será uma construção de consenso. 

 

A gente já recebeu informação, tanto de fontes ligadas a Coronel quanto de pessoas próximas à senadora, que a direção do PT está com apoio fechado a Coronel. Isso procede?
O PT não tem decisão fechada sobre quem deve ser. O partido tem uma definição e uma defesa: se a gente construir a unidade, vamos obter as duas vagas. Nós vamos decidir coletivamente. Os dois têm características diferentes, mas são muito importantes para o próximo governo de Rui. A política não é matemática, que é exata, então a melhor opção é essa ou aquela. É um processo de construção. A nossa posição é a indicação de Rui e Wagner e a construção da unidade de forma coletiva. 

 

O PT apostou em muitas políticas afirmativas, como a questão das cotas, e outras políticas sociais em seus governos. Há um debate interno agora na sigla sobre representatividade na chapa. Agora, na iminência do fechamento da composição, a senadora Lídice da Mata poderia ficar de fora. Então, a majoritária apenas homens brancos, sem nenhum negro e nenhuma mulher. Não seria incoerência do partido ter apostado nessas políticas afirmativas e ter uma chapa sem representantes de minorias sociais, como mulheres e negros?
Nós somos o único partido dirigido por 50% de homens e 50% de mulheres. A paridade no PT é uma realidade. Defendemos uma sociedade justa e com mais igualdade.

 

Então isso não deveria estar representado na chapa?
Mas a conjuntura e o momento político definem isso. Em 2016, a chapa para prefeitura de Salvador foi Alice Portugal e Maria del Carmem. Então, se a gente for achar, de forma sectária, que toda chapa deveria ser um homem e uma mulher, não poderiam ter sido duas mulheres, como foi. Se nessa chapa não houver uma mulher, temos que reconhecer que a conjuntura não permitiu. O que temos que ter é pessoas que tenham compromisso com essa questão. Não precisa ser negro para ter compromisso com a questão racial. Quantas mulheres assumiram espaços de poder e não tiveram essa preocupação? A gente tem que lutar pela participação, mas não podemos engessar.

 

Há também rumores de que, caso Lídice aceite se candidatar a prefeita, haveria um apoio do partido à candidatura dela prefeitura de Salvador em 2020. O PT realmente garante isso a ela?
Apesar de estar cedo ainda, nós temos uma eleição agora, o PT não trabalha com compromisso nenhum para as eleições de 2020. Claro que o nome de Lídice é um nome com muito potencial, assim como o de Alice, de Nelson Pelegrino. Mas o que acho é que o grupo que governa a Bahia precisa passar a governar também a capital. Esse pensamento tem que ser para depois. Nós temos nomes bons. Lídice é um deles. Mas não podemos antecipar esse debate, a escalação do time, se ele nem treinou para jogar ainda. Mas, a nível do partido, não garantimos nada, não trabalhamos com esse método.

 

Mas se isso entra nas negociações pelas mãos do próprio governador Rui Costa, que é um petista, como a situação seria administrada?
Eu ouso dizer que Lídice não é do tipo de pessoa que faz esse tipo de negociação. Ela é uma mulher de luta, de batalha, de conquista. Se tiver essa discussão para disputar, ela vai trazer isso para o partido, vai dialogar conosco.

 

Agora, se Lídice sai como candidata avulsa ao Senado, algo que a direção nacional do PSB cogita, como administrar três candidaturas para senador dentro da base?
Eu acho que não é o melhor método. Óbvio que, se for uma decisão, temos que respeitar. Mas não foi esse método que trouxe resultados positivos eleitorais para a gente. Até porque tem tanto espaço que pessoas competentes podem ocupar tanto na majoritária quanto na proporcional e na estrutura de governo. Eu acho que vamo conseguir equacionar.

 

Se fôssemos para dois critérios, coerência e pragmatismo, no sentido de pragmatismo, a Lídice da Mata aparece em segundo lugar nas pesquisas para o Senado. Então, tem mais voto que Coronel. Já falando em coerência, a senadora também sempre esteve no mesmo campo político que o PT e tem um pensamento mais parecido com a sigla. Analisando as duas coisas, por que ela ficaria de fora da chapa?
Volto a dizer que a política tem suas nuances, suas conjunturas e posições a serem tomadas. Se formos pensar mais friamente, em 2010, nós estávamos juntos, elegendo as duas vagas para o Senado, mas, em 2014, ficamos separados. Estamos em 2018 juntos de novo, com a sinalização de Lídice que vai continuar conosco, independentemente da votação. E esse lance da pesquisa é pontual. Acho que temos condições de eleger os dois senadores, independentemente de quem forem.

 

O PT defende a construção de uma frente de esquerda, de um programa de governo comum entre os partidos desse campo. Lula é o nome mais forte desse grupo, mas há uma possibilidade jurídica grande de ele não ser candidato. Não seria o caso de o PT apoiar um nome com mais viabilidade na esquerda, fortalecendo esse candidato e o campo? Apostar tanto em Lula, sem pensar alternativas nos outros partidos, não seria pensar demais apenas no partido e em salvar a biografia do ex-presidente?
Reconhecemos e apoiamos as candidaturas de esquerda e centro-esquerda que estão colocadas. Do ponto de vista político, o povo repete que quer Lula. As pesquisas mostram isso. O PT abrir mão dessa maioria seria um desrespeito.

 

Mas esse debate sobre uma alternativa não poderia ser construído pelo partido com a sociedade e outras siglas?
Por que vamos abrir mão do registro de candidatura se a lei nos permite isso para o Lula, mesmo preso? A lei diz que será analisado o pedido de registro e, se negado, podemos pedir recurso. Por que não insistir no recurso, se temos a plena convicção que ele não cometeu nenhum crime? Vamos insistir que a Justiça julgue. Não há elementos técnicos e jurídicos, nem políticos, para abrirmos mão da candidatura. Agora, o que o próprio Lula pediu e estamos fazendo é continuar o diálogo com os outros partidos. Essa conversa tem que continuar porque, se houver o segundo turno, essa aliança permanece, porque nós vamos ganhar essa eleição. Esse campo de centro-esquerda vai ganhar essa eleição. O povo não quer essa política do DEM, do MDB e do PSDB, quer derrubar as cotas, congela o orçamento, derruba o Minha Casa, MInha Vida, quer privatizar a Eletrobras. Mas o diálogo continua. A tendência é que, nesse primeiro turno, a gente caminhe separado, mas com objetivos iguais.

 

Como vocês pensam a campanha de Lula, sendo que há possibilidade de ele passar todo o período da campanha preso? É uma situação inédita.
Por isso que estamos recorrendo à Justiça para que ele tenha o direito de ser entrevistado na cadeia. Onde que se tem na Justiça que há esse impedimento. Estão querendo criar situações. Não há perigo nenhum à segurança. Estamos discutindo também como vai ser o programa eleitoral. Na verdade, setores do Judiciário e a direita, vendo o crescimento da candidatura de Lula, querem criar impedimentos a ele. Vamos estar enfrentando isso dentro da Justiça. Nós não queremos desrespeitar a lei, mas vamos levar isso até o fim, para que a Constituição seja respeitada e nós tenhamos o direito de ter Lula candidato.

 

O partido vem retomando o posto de sigla mais admirada pela população, mesmo após uma crise de imagem causada por diversos escândalos de corrupção envolvendo lideranças históricas, como o ex-presidente Lula, que está preso, além do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Apesar de todo o desgaste, uma pesquisa do Datafolha feita abril deste ano mostrou que o PT é o partido preferido dos brasileiros, com 20% de preferência da população. A que o senhor credita isso?
Eu credito isso a essa força da militância, que manteve a defesa intransigente do partido, e essas questões que levaram à desconfiança do PT foram se tornando mais claras. Os ataques feitos pela grande mídia, do Judiciário e da oposição ao PT foram para tirar as conquistas que os nossos governos tinham obtido. À medida em que isso vai ficando mais transparente, como nesse momento em que estamos vivendo agora, a credibilidade vai sendo retomada e chegando a patamares de 20%. Há uma conscientização das pessoas que vivem no mundo na política, ou em torno dele, de que a imagem que fizeram do PT não é real. Não que a gente não tenha cometido erros, mas a maioria das ações do partido orienta a construção de um país mais justo.

 

O PT também se beneficiou dos baixos índices de popularidade do governo Michel Temer?
Acho que sim. O golpe fica mais claro. Se o governo do PT foi na direção de distribuir rendas, fazer políticas voltadas para a área social, a chegada da aliança do MDB, do DEM ao governo Temer foi de retirar essas conquistas que as pessoas vinham creditando como esperança.

 

O senhor falou aí em erros cometidos pelo partido que deixaram muitos militantes e também simpatizantes decepcionados. O PT é muito cobrado, desde que os escândalos de corrupção envolvendo a sigla explodiram, para que faça uma autocrítica em relação a esses erros. Mas ela nunca veio publicamente. O partido ainda pretende fazer isso?
Nós temos feitos uns debates no partido, mas eu penso que, para a sociedade, será agora, quando nós estivermos disputando o governo central e vamos apresentar um ajuste nas nossas políticas de reestruturação do país. Eu penso que o debate sobre a reforma política precisa acontecer melhor - já tivemos algumas mudanças com o fim do financiamento privado de campanhas, que era uma bandeira do PT, mas poderia ter recebido um investimento maior na ação cotidiana do partido.

 

É, a reforma política mais ampla não foi feita nos governos do PT, e vocês tiveram 14 anos para isso.
A correlação de forças não permitiu. Alguns acham que a popularidade de Lula poderia ter sido usada. Eu acho que caberia, pelo menos o debate. Outra coisa é a reforma tributária. O debate sobre distribuição de renda no Brasil passa pela reforma tributária. Não é possível você ver milhões de brasileiros em nível de sacrifício, com aumento de impostos  - você pega o IPTU aqui em Salvador - há uma reforma trabalhista que tira conquistas e ainda tem o setor financeiro vivendo de altos lucros. Tem também a regulação da mídia e outra série de questões que podemos discutir a nível de políticas públicas para a população e dentro do partido. O PT criou um programa chamado o “Brasil que o povo quer”, para discutir políticas que possam fazer o país dar um passo à frente. Não só recuperar o que foi destruído nesses dois anos, mas pensar em outras ações que sejam estruturadas. Do ponto de vista interno, há um debate sobre a relação do PT com suas bases e seus movimentos sociais. 

 

Os protestos de 2013 foram uma mostra de como o partido havia se distanciado dos movimentos sociais, que sempre tiveram relação próxima com sigla, mas, naquele momento, se viraram contra o governo de Dilma Rousseff.
Acho que a relação, sob o ponto de vista da cumplicidade política, voltou a se consolidar, tanto é que as manifestações de defesas de Lula e Dilma demonstram isso. Mas acho que a gente tem que aprender com o que ocorreu nesse período. Na verdade, eu digo que o PT mudou, nesse tempo, seu espaço de militância. Muito companheiro e companheira nossos, que militavam nos polos, passaram a ser dirigentes de órgãos de governo. Faltou a gente pensar no futuro e ter uma relação mais ativa nas substituições dessas lideranças, principalmente com a juventude, mas com olhar moderno. A formação, os conteúdos têm que ser adequados a essa realidade. Difícil falar com a juventude sem falar com a internet. Além disso, algumas temáticas que são de partidos de esquerda, como o PT, mas têm dificuldade de fluir. A questão da cultura, do meio ambiente, do desenvolvimento sustentável, mas que há pouca presença do PT. E, do ponto de vista pessoal, acho que essa relação do partido com seus filiados é um pouco burocrático. Tem hoje milhões de pessoas não filiadas ao PT, mas que transitam nesses espaços do partidos, e nós não temos nenhuma política, nenhuma estratégia de como essas pessoas possam se envolver na vida partidária, sem ter esse vínculo burocrático. O PT vai ter que se adequar a essas coisas.

 

Os governos de Lula se caracterizaram por serem mais conciliadores, com uma posição mais ao centro dentro dos espectros políticos. Quando a crise na segunda gestão de Dilma começou, muitos setores da esquerda defenderam que ela desse uma guinada à esquerda no governo. Na construção do programa de governo para essas eleições, este debate vai estar incluído, de o PT fazer uma administração se posicionando à esquerda?
É um bom debate que acontece dentro do golpe. O PT fez uma opção de fazer a democracia e as transformações no Brasil pela [via] institucional, sem luta armada ou radicalização à esquerda. Essa luta exige essa capacidade de aglutinar. Os sucessos eleitorais do PT foram baseados em uma ampla política de alianças. Não sei se mudar isso ou radicalizar seria, nesse momento, o ideal. O que o partido fez no Brasil foi revolucionário, não foi no conflito e no confronto, foi em uma política de alianças. O que a gente não pode perder nunca é essa referência de aliança com o povo.

 

O prefeito ACM Neto disse nas eleições de 2016 que o governador Rui Costa era o maior perdedor do pleito. Em 2018, tivemos outro cenário, com Neto desistindo de ser candidato, e a oposição às voltas para tentar construir uma candidatura que consiga competir com o favoritismo do governador. Como o senhor avalia a declaração de Neto em 2016 com o cenário que temos agora?
Acho que o prefeito, mesmo com a pouca idade, tem um problema, que não sei se é genético, mas é a falta de humildade. Acontece isso com quem não tem humildade, acaba tropeçando nas próprias palavras. Nós sabíamos das dificuldades que iríamos enfrentar naquela eleição, com o populismo, com o prefeito tendo uma máquina de comunicação como a TV Bahia, que ia favorecê-lo, e não fugimos da raia. Se ele não melhorar, vai ser pior no futuro. Porque quem esfacela uma história cultural que tinha na Bahia, como o carlismo, em um dia, desagregando todo o seu grupo político, deixando em condições péssimas, com possibilidade de redução da bancada, não é um bom farol, um bom líder para o futuro.