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Entrevista

José Carlos Aleluia revela que a união das oposições começou a desandar - 23/07/2012

Por David Mendes / Evilásio Júnior / José Marques

José Carlos Aleluia revela que a união das oposições começou a desandar - 23/07/2012


Bahia Notícias - Quais são os planos e estratégias do DEM paras as eleições deste ano?

José Carlos Aleluia -  Nós faremos uma campanha sem ataques. Nós queremos fazer uma campanha mostrando propostas. O que a sociedade soteropolitana espera? As pessoas estão querendo reviver e renovar as esperanças da cidade. Salvador é uma cidade encantadora, mas vem sofrendo muito com o baixo desempenho das administrações municipal e estadual.

BN - Quais as propostas que o DEM tem para Salvador?

JCA - Vamos começar pelo campo da segurança, que é uma responsabilidade primordial do Estado, mas que não existe nenhuma experiência bem sucedida no combate à violência e criminalidade urbana que não tenha uma participação efetiva da administração municipal. E isso é assim no mundo todo. Então, nós vamos trabalhar com propostas nesta área. As maiores contribuições que a prefeitura pode dar são no campo da inteligência, usando a engenharia da informação. Hoje, no mundo todo, as cidades são operadas de forma centralizada, onde você consegue saber todos os problemas relevantes que estão ocorrendo nas zonas administradas, sejam eles ligados à segurança, trânsito, urgência, emergência e defesa civil. A prefeitura tem que trabalhar no sentido de construir uma inteligência para ajudar no combate a violência e a criminalidade. Outro ponto importante é a questão do ir e vir. Alguns chamam de mobilidade urbana essa questão da movimentação na cidade, que tem que ser uma responsabilidade primordialmente do município, mas não pode ser tratada só por ele. Mas o município tem responsabilidade porque, como todas as questões dos sistemas em operação, geralmente você tem dois tipos de problemas na operação. Você tem a questão da operação, que exige investimentos para a implementação do sistema, e tem questões que exigem apenas qualidades de manutenção e operação do sistema. O sistema de fluxo de pessoas e veículos em Salvador tem problemas na área que exigem investimentos, alguns de curto prazo, nos programas de pontos críticos que pretendemos atacar. E existem programas de longo prazo que serão planejados e que Salvador não faz absolutamente nada há vários anos nessa questão. Precisamos da abertura de novas artérias de movimentação na cidade e isso não ocorre há muito tempo. Há a necessidade de trabalhar no campo do investimento, do planejamento de um novo sistema ou da ampliação do sistema viário, mas há a necessidade de trabalhar no campo da operação. No campo do investimento, nós entendemos que é um equívoco não colocar o metrô para funcionar. demorou muitos anos para ser construído, demandou muitos recursos para ser concluído, está há mais de seis meses concluído, testado e não se coloca em operação porque não houve decisão política. O governo do Estado chegou ao ponto de recomendar à ministra do Planejamento que aqui viesse dizer que o metrô não seria operado.

BN - Mais não seria muito onerosa a taxa para colocar o metrô de seis quilômetros?

JCA - O metrô de seis quilômetros ele não pode ser operado com seis quilômetros. Ele é uma parte do sistema viário da cidade. Ele tem que ser operado de forma articulada. Todos se deslocam para o Centro da cidade, para os terminais como a Lapa. Quando você estabelece o metrô como uma linha diferenciada, resolve-se um problema de concentração de fluxo, usando uma linguagem de engenharia, que se processa no Centro da cidade. Se você pega um ônibus em qualquer lugar da cidade, você tem uma determinada velocidade de deslocamento. Quando você vai se aproximando de um ponto central, que é o ponto de convergência, você tem um problema de estrangulamento. Então, o metrô funciona muito mais como um dispersor de convergência para ser modulado. Você não pode imaginar que alguém compre uma passagem para andar em um metrô de seis quilômetros. Mas alguém compra uma passagem de ônibus que vem para um determinado lugar que se articula com o metrô de seis quilômetros. O que está em jogo é uma questão de engenharia. São seis quilômetros que fazem com que a convergência neste ponto seja diminuída e o objetivo principal, com relação ao fluxo de veículo, é fazer com que a velocidade média de movimentação seja maior. Isso, portanto, é uma questão que não exige investimento e, sim, decisão política de por em operação. Não há nenhum engenheiro de tráfego que vá dizer que não é conveniente. Quanto à questão da viabilidade econômica, ele será sempre subsidiado. Ele tem que ser subsidiada mesmo. Algo da ordem R$ 3 milhões por mês que você tem que por lá. Mas tem que entender que isso revitaliza o sistema e, é claro, estabelece uma prioridade. Pegue um ônibus no Acesso Norte ou no fim de linha do metrô e tente se deslocar para o Centro. Vai gastar aí 30 minutos. Não há hipótese de se gastar menos, na hora do rush gastará muito mais. Então, você fará isso em, no mínimo, um terço do tempo. Não se discute “o metrô”, o metrô como parte do sistema viário de Salvador. Ele tem que ser colocado em operação. Não significa negar a necessidade de ele ser ampliado, nem significa negar a necessidade de fazer o da Paralela. Salvador precisa do metrô da Paralela. A solução está posta, terá o apoio nosso. Agora, essa solução não será implementada nem para a Copa, nem se aqui estivesse a Olimpíada. Não ficaria pronto, porque não são obras que se façam em curto prazo, sobretudo em um país onde as obras públicas, inclusive as do PAC, andam com o chamado “andamento anormal”. Anda um mês, porque você recebeu uma fatura, não anda outro. Basta ver que o metrô começou na administração do prefeito Antonio Imbassahy. Esperava-se que ele inaugurasse alguma coisa, depois João Henrique no primeiro e no segundo mandato e a eleição está chegando e ninguém fala em colocar o metrô em operação.

BN - Mas o prefeito João Henrique não tentou implantá-lo?

JCA - Na vida não é só saber o que quer fazer: tem que saber o que fazer e ser persistente. João Henrique soube em determinado momento que teria que dar prioridade ao transporte coletivo, mas não deu, não implementou. Você tem que implementar no sentido de que as pessoas não podem usar a rua para estacionar carro, fechando o trânsito dos outros. Tem que dar prioridade ao ônibus, ao metrô e a todos os sistemas. Tudo isso tem que ser prioridade sobre o carro. O carro tem que ser tratado como alguém que não tem prioridade no uso da malha urbana. Existe um conceito de economia que se chama externalidade. Eu posso fazer tudo o que eu quiser, mas tudo que eu fizer que causar prejuízo aos outros, tenho um ônus sobre isso. Isso é usado ao limite em alguns lugares, mas tem que ser usado aqui. Eu quero usar o meu transporte individual. Tudo bem. Mas você terá que entender que a prioridade para se andar mais rápido é o transporte coletivo.

BN - Existe um ditado soteropolitano que diz que quem manda em Salvador são os empresários do tranporte público e da construção civil. Terá que ter um enfrentamento a esses dois setores?

JCA - Empresários de ônibus têm que ser tratados como prestadores de serviços. Empresários de ônibus não podem mandar no sistema. Eu fui autor da lei que criou a Agência Nacional de Energia Elétrica. A Aneel impõe multas pesadíssimas nas empresas de energia elétrica quando descumprem as normas que ela fixa. A Aneel é perfeita? Não é. Mas é uma agência reguladora respeitada, e eu falo à vontade porque lá foram todos indicados por Lula e por Dilma, mas estão exercendo o papel com dignidade. Não me consta que tenha problemas. Nenhuma empresa de eletricidade manda lá. Concessionária de ônibus é para ser tratada de modo respeitoso. É para ganhar dinheiro, sim, mas é para prestar serviço digno e, se não prestar, tem que ser substituída. Tem que enfrentar todos os prestadores de serviços, mas não no sentido de destruir. É enfrentar no sentido de fazê-los cumprir o contratado. Nós somos defensores dos contratos. Toda a sociedade onde os contratos são valorizados funciona bem. A carta que Lula fez aos brasileiros e permitiu que ele se elegesse presidente, teve o seu ponto mais forte quando ele disse que cumpriria os contratos. E ele cumpriu e por isso que governou quatro anos, foi bom e se reelegeu. Contrato tem que ser cumprido. Agora, não é para ser subordinado. Empresário de ônibus não é para ser perseguido e nem para ser chefe. É para ser subordinado. O serviço dele é um serviço prestado sobre concessão pública. E aí a importância do estado regulador, uma agência reguladora respeitada de pessoas que realmente possam ser tratadas como agentes reguladores. Não é a Câmara de Vereadores, isoladamente, que vai resolver esse problema, porque lá é uma casa política. É uma câmara técnica com pessoas que conhecem o negócio, porque o objetivo não é quebrar o empresário de ônibus, nem é fazê-lo não ter lucro. O objetivo é fazê-lo ter lucro saudável e prestar um serviço decente. Tenho a certeza de que os bons empresários não acharão ruim isso. Se ninguém for extorqui-los, nem pedir nada, eles vão cumprir o papel deles. Se eles estão no ramo não são incompetentes, senão já teriam saído. E se for necessário, põe outros. Não há porque não colocar outros empresários nos negócios, se esses não estiverem prestando os bons serviços.

BN - E com relação aos empresários da construção civil?

JCA - Na Bahia, em Salvador, aliás como existem em todas as grandes cidades do mundo, há sempre o grupo dos que querem manter tudo, como se tudo fosse histórico. Não é verdade. Cidade é como gente. Aliás, cidade é gente e gente se tem que vestir uma roupa nova tem que tirar a velha. Isso não significa que vou jogar fora uma roupa que usei na minha formatura. Essa é uma roupa histórica. Então, para criar a nova cidade, tem que tirar a velha. E a construção civil sofre com isso, porque as pessoas acham que tudo é histórico. Mas nem tudo é histórico e o que é a gente sabe o que é. Todos dizem: Paris é linda! Mas Paris foi feita pelo arquiteto de Napoleão Terceiro, que desenhou aquela cidade maravilhosa, toda cubada, toda volumosa, mas Paris precisava crescer, então demoliu-se aquilo lá? Não. Seria uma maluquice. Fizeram um bairro próximo a Paris [Saint Denis], andável, que sai da Paris que a gente conhece para a Paris dos negócios, onde tem os prédios, andável. Isso é recuperar a capacidade de andar. Isso significa revisar alguns gabaritos em lugares que precisam ser construídos. Enfrentar significa isso. Agora, quem vai fazer a regra não será o empresário da construção civil. Ele vai opinar e vai ser ouvido. A regra será para todos, mas é preciso evitar um preconceito. A cidade que se fecha muito para a construção civil, que dificulta a construção, não evolui. Nova Iorque, até a década de 70, sofreu desse mal. Nada poderia ser feito porque tudo era histórico. Chicago, uma cidade com menos possibilidades, criou uma nova legislação urbana e se tornou uma cidade lindíssima. A cidade se desprendeu mais e passou Nova Iorque, que só foi acordar, e agora tem uma nova legislação, há 15 anos. As cidades precisam ser sempre reinventadas e reinventar coisas novas. Salvador precisa reinventar a cultura popular e erudita. Essa é a terra de Jorge Amado, de Glauber Rocha, Castro Alves, Gilberto Gil, Caetano Veloso, pessoas criativas. Precisamos reabrir a possibilidade de transformar essa cidade em uma cidade da cultura erudita e popular. Voltar a ser roteiro dos grandes espetáculos, montar grandes espetáculos que sustentam a cidade. Você vai a um show na Brodway, metade é turista. Você vai a Londres, os teatros estão cheios de turistas. Por que Salvador não pode ter isso? Nós não temos uma grande casa de espetáculos. Vamos ter agora, mas temos que ter várias. Não podemos deixar que Recife nos ultrapassasse. Paul McCartney passou por cima da Bahia e não desceu aqui [foi a Recife]. Há quanto tempo não tem um show importante aqui?

BN - A gente tem percebido que a postura do DEM, pelo menos nos últimos seis meses, tem sido bastante incisiva tanto em relação ao governo estadual quanto sobre o governo municipal. Essa postura vai ser mudada?

JCA - O DEM, o presidente do DEM e a executiva estadual do partido vão continuar exercendo o papel para o qual o eleitor nos destinou. Nós continuaremos sendo fiscais, respeitosos. Eu nunca faltei com respeito com o governador Wagner. Continuo tendo por ele atenção pessoal. Agora, os erros do governo dele, se eu não denunciar, estarei cometendo um crime culposo de negligência. Se eu não denunciasse, por exemplo, esse contrato exótico que o governo firmou com o professor Jorge Portugal, eu estaria sendo conivente e negligente. Fiz meu papel e a Justiça irá decidir. Farei todas as denúncias. Agora, você não vai ver a gente organizando vaia, organizando quebra-quebra. Isso você não vai ver. Nós somos oposição. O prefeito é aliado do governador e isso é uma demonstração clara de que o alinhamento não resolve. João Henrique é aliado do governador. O partido dele [PP] é aliado ao governador, que colocou um indicado do [ex] ministro [Mário Negromonte] para chefe da Casa Civil [João Leão] e não resolveu nada. É um sonho achar que uma cidade do tamanho de Salvador, com a capacidade de arrecadação de Salvador e com o orçamento de Salvador vai resolver os seus problemas com transferências. Até porque o Estado não tem como transferir. O Estado está com grande dificuldade para pagar as suas contas. Os municípios foram muito desprestigiados e, depois da Constituição de 1988, a União começou a sugar muitas coisas dos Estados e dos Municípios. Como os municípios estavam bem e nós estruturamos vários programas que não poderiam deixar de ser resolvidos pelos Municípios, como o Fundef, hoje o Fundeb, e o SUS, que só existem para os municípios, eles voltaram a ter força. A força do Estado já não é tão grande. Passou-se o tempo em que o Estado ajudava. Claro, a prefeitura que arrecada R$ 1,5 milhão por mês, um convênio qualquer resolve o problema. Uma prefeitura como Salvador jamais será mantida por uma generosidade do Estado e da União. Isso não significa que não faremos convênio. Vamos fazer todos os convênios possíveis tanto para nos ajudar quanto para ajudar o Estado. Nós queremos que o Estado seja bem sucedido e ele certamente quer que nós sejamos bem sucedidos.

BN - O PSOL usará esse argumento, e já tem isso montado para a campanha, de que todo mundo participou do governo de João Henrique, inclusive o Democratas, que saiu há pouco tempo com a entrega do cargo de Cláudio Tinoco na Saltur. O candidato Hamilton Assis diz que o PSOL foi o único partido que não participou do governo de João Henrique. Como o DEM se defenderá deste argumento?

JCA -  O Democratas nunca participou do núcleo de poder de João Henrique. Tivemos a participação no carnaval, aliás, com um bom executivo. Cláudio Tinoco fez os carnavais e saiu para se candidatar a vereador. Nós nunca tivemos uma secretaria estratégica como o PT teve a da Saúde em um momento difícil para a administração municipal. Essa não será uma eleição do passado e sim para o futuro. E o projeto que João Henrique e o seu partido apoiam é o de continuidade. É o dele e não nosso. A nossa coligação é PV, PSDB, PTN, PPS e o DEM. O PP, pato-pato, não está conosco.

BN - Mas ACM Neto quis até o último momento o apoio de João Henrique?

JCA - Não! Não se admitiu essa hipótese. O PP, partido de João Henrique, é do núcleo de poder do governo Wagner. Eles não iriam nos apoiar para poder largar as secretarias que têm lá. Até outro dia tinham o Ministério das Cidades. Nós nunca nutrimos essa possibilidade. Chegamos até a pensar em outros partidos que estavam atritados com o governo federal e poderiam vir a apoiar a gente, como o PDT, que chegamos a conversar, mas não veio. A grande vantagem que o candidato do PT teve foi o fato de que o governo federal pôde atrair apoios importantes, não eleitoralmente, mas apoios importantes na composição do tempo.

BN - Mário Kertész, que tentou até quase o último instante engendrar a união das oposições com DEM e PSDB, saiu atacando ACM Neto depois que não conseguiu o apoio. Ele chegou a dizer que a eleição em Salvador seria, não para salvar Salvador, mas para salvar o DEM: o "SalvaDem". O Democratas realmente será extinto, caso ACM Neto não consiga se eleger?

JCA - Não. O Democratas é um partido nacional. É um partido que tem candidato em Salvador, a terceira maior cidade. Tem candidato a prefeito na 4ª cidade do país, que é Fortaleza. Tem candidato a prefeito na 6ª cidade, que é Recife, além de Aracaju, que deveremos ganhar. Na Bahia, nós somos competitivos e pole positions, no momento, nas quatro maiores cidades baianas. Em três somos pole positions: Salvador, Feira de Santana e Itabuna. Nós não estamos preocupados com essas questões partidárias, até porque pode haver um grande rearranjo partidário após as eleições, em função da decisão, no meu modo de ver equivocada, que foi tomada pelo Supremo Tribunal Federal. No momento em que você permite que um deputado eleito por um partido, de forma proporcional, possa levar o tempo de televisão para o partido de destino, ele abre o caminho e a possibilidade de se abrir novos partidos e novos projetos diversos. A novidade na política nacional tem impacto nos estados e municípios. Há um certo desconforto entre o PSB e o PT, notadamente, em Belo Horizonte, Recife e Fortaleza.

BN - Mário Kertész afirmou que ACM Neto nunca colocou a candidatura dele como prioridade. Haveria um acordo para que este ano Kertész fosse apoiado pelo DEM e PSDB para que, em 2014, Neto fosse o candidato a governador. Houve essa proposta? Quem não aceitou ou descumpriu?

JCA - Eu sou fã de um livro chamado Cisne Negro, escrito por um judeu libanês que escreve sobre acasos [Nassim Taleb]. O planejamento em política, onde se envolve muitas pessoas, a vida, as coisas, é muito longo para se pensar em dois anos. Além de tudo, como um homem vivido no sertão, não se pode torrar a castanha antes de colher o caju. A gente nunca discutiu 2014. Agora, Mário Kertész está falando uma coisa que de fato ocorreu. ACM Neto não colocou a candidatura dele no começo. Mário Kertész colocou a dele, outros candidatos colocaram as deles e nós estávamos discutindo a possibilidade de uma aliança, inclusive com Mário Kertész. E o que fez mudar o cenário? Primeiro, por um determinado momento, o criador da candidatura de Mário Kertész, que é o [ex] ministro Geddel Vieira Lima – padrinho político de Mário Kertész, embora ele seja um político experiente, com muita história na política da Bahia –, disse a mim que não poderia apoiar o nosso candidato porque teria problemas com a presidente Dilma. Ora, como eu vou fazer um acordo para apoiar o melhor, se o líder principal e inventor da candidatura diz que não pode apoiar o nosso candidato? Se não pode apoiar, nós também não podemos apoiar o dele. Quando você faz um entendimento tem que partir do pressuposto de que quem estiver melhor na pesquisa tem prioridade. Até porque, se Neto não fosse, eu queria colocar o meu nome. As coisas começaram a ficar difíceis quando Geddel começou a dizer que não poderia apoiar a nossa candidatura e que só poderia receber o apoio. Então, não existe acordo quando apenas uma parte pode receber apoio. E por que que Neto entrou na disputa? As ruas o mandaram entrar. Quem vai com ele nas caminhadas percebe a acolhida que ele tem. A campanha começou agora e ele já toma cuidado para não causar tumulto nos lugares que ele vai, tal é o número de pessoas que querem segui-lo. Portanto, não é nenhuma traição. Houve uma conversa, mas não se fechou acordo nenhum. Então, Mário não está mentindo porque, de fato, Neto não colocou inicialmente a sua candidatura, mas as ruas exigiram que ele fosse [candidato].

BN - Quantas prefeituras o DEM disputará este ano na Bahia?

JCA - Vinte candidaturas no total. Mas o que nos tranquiliza é que fizemos um projeto não para o Democratas, mas um projeto alternativo para a Bahia. E aí estamos juntos com o PMDB, com o PSDB. Nós fizemos um projeto conjunto com o PV. Em Juazeiro, nós tínhamos um excelente candidato e resolvemos apoiar o candidato do PV e o PMDB e o PSDB também resolveram apoiar. Quem está em crise lá são os candidatos do governo. Em Camaçari apoiamos o PTN. Em Alagoinhas apoiamos o atual prefeito Paulo Cézar [PDT}. Em Eunápolis apoiamos o PMDB e eles nos apoiam em Itabuna [Capitão Azevedo]. Então nós estamos construindo pontes para ter um projeto alternativo. Não seremos nós os responsáveis pelo sucesso ou fracasso do governo Wagner. Quem é responsável é o governador e seus assessores. Eles são quem serão julgados pelo povo. Uma eleição é sempre uma avaliação. O candidato que eles estão colocando está sendo bombardeado não por mim. Você nunca me viu falar mal de Sérgio Gabrielli. Quem está dizendo que Gabrielli não sabe administrar e é um péssimo diretor de negócios e de conduzir empreendimentos é a presidente da Petrobras [Maria das Graças Foster]. Ela tem sido a principal destruidora da possível candidatura do candidato de José Dirceu. O candidato de José Dirceu aqui é ele. Dirceu veio aqui em sua posse para demonstrar que o candidato aqui é Gabrielli. Não somos nós que estamos atacando ninguém. Nós gostamos de falar as coisas para as pessoas pensarem. Não há coisa melhor em política do que provocar as pessoas a pensar.

BN - O DEM subirá em palanques do PT, PCdoB e de partidos aliados o governo do Estado, ou terá o PT e esses partidos em seus palanques nestas eleições municipais?

JCA - Eu terminei flexibilizando algumas coisas. Em Paulo Afonso, por exemplo, temos o vice na chapa do PT. O poder é local. Todo o poder é local. Todo o indivíduo que fala: eu sou político nacional, é fadado a perder a eleição. Eu ganhei a minha primeira eleição em 1990, fui eleito deputado federal. Me recordo que tive mais votos do que Ulysses Guimarães. Quando eu cheguei na Câmara, Ulysses era um mago da política da nacional. Tinha sido candidato a presidente da República e teve 49 mil votos. Eu perguntei, como é que poderia isso? Quércia pediu para que quatro municípios votassem com ele na semana da eleição, senão ele perderia. Então, não existe política nacional. Toda a política é local. Eu prestigiei muito as acomodações locais. Claro que em uma cidade expressiva não tem sentido a gente estar junto. Em uma cidade maior, eu posso apoiar um candidato do governador. Mas, em cidades menores, às vezes as coisas são até familiares. Então, tem PSD também, mas na maioria esmagadora dos palanques estamos diferentes dele, como em Paulo Afonso.