Usamos cookies para personalizar e melhorar sua experiência em nosso site e aprimorar a oferta de anúncios para você. Visite nossa Política de Cookies para saber mais. Ao clicar em "aceitar" você concorda com o uso que fazemos dos cookies

Marca Bahia Notícias
Você está em:
/
Entrevistas

Entrevista

ACM Neto elenca 'calos' na gestão do PT como prioridade de seu eventual governo - 21/09/2022

Por Gabriel Lopes

ACM Neto elenca 'calos' na gestão do PT como prioridade de seu eventual governo - 21/09/2022
Foto: Bahia Notícias

Ex-deputado federal e ex-prefeito de Salvador, ACM Neto tenta em 2022 chegar ao Governo da Bahia. Liderando as pesquisas eleitorais no estado, o candidato tem como principais adversários o petista Jerônimo Rodrigues e seu ex-aliado, João Roma, apadrinhado pelo presidente Jair Bolsonaro. Caso seja eleito, Neto elencou como prioridade de sua gestão a atenção a pontos que considera como "essencial e básico" para o bom funcionamento da Bahia: segurança pública, geração de empregos, saúde e educação - todos pontos abordados em sua campanha como crítica ao atual grupo político que governa o Estado.

 

"Eu acho que a gente vai ter que trabalhar no que é essencial, no que é básico no que diz respeito ao dia a dia das pessoas. Aqueles que nos governam estão aí há 16 anos, tiveram muitas oportunidades e qual é a situação da Bahia hoje: o estado é primeiro lugar em número de homicídios do Brasil, está aí o anuário da segurança pública que mostra isso, o estado é o primeiro lugar em número de desempregados do Brasil, temos o drama da longa espera na fila da regulação, e ocupa uma das piores posições na qualidade do ensino do Brasil", criticou o candidato em entrevista ao Projeto Prisma, podcast do Bahia Notícias, na última segunda-feira (19).

 

"Na semana passada foram divulgados os dados do Ideb, a Bahia tirou nota 3,5. Então eu vou começar tratando do que é essencial, do que é necessário e urgente. Obras e investimentos serão fundamentais sem dúvida, mas eu acho que a principal obra do próximo governador é tirar a Bahia desses indicadores tão ruins", acrescentou. Confira abaixo a entrevista completa com ACM Neto:

ACM Neto foi entrevistado pelo Projeto Prisma, podcast do Bahia Notícias

 

A Bahia, infelizmente, mantém índices baixos nas avaliações de ensino feitas pelo Ministério da Educação. Somado ao problema histórico, estudantes ficaram distantes das salas de aula no período da pandemia. O que fazer para reduzir a distância entre estudantes da rede pública e da rede privada, bem como fazer com que o estado se torne uma referência na temática educação?

Na semana passada com a divulgação desses dados do Ideb, a Bahia saiu de 3,2 para 3,5. Esse acréscimo de três décimos - que inclusive foi estranhamente comemorado pelo governo do estado - é única e exclusivamente resultado da aprovação automática que aconteceu em 2020 e 2021 por conta da pandemia. Onde eu chego os alunos e pais e mães desses alunos dizem: 'poxa Neto, não dá essa história de aprovação automática, eu concluí o ensino médio mas não tenho condições de aplicar para conseguir uma boa nota no Enem e entrar em uma universidade pública', por exemplo. Ou, 'estou concluindo o ensino médio e preciso de um lugar no mercado de trabalho, preciso conseguir o meu primeiro emprego e não estou preparado para isso'. É o que eu mais ouço em todo o estado. Isso é resultado de um problema estrutural da educação pública na Bahia mas foi agravado em função da pandemia, dois anos sem aula. É bom lembrar que o Estado da Bahia tirou nota zero durante a pandemia. Foi o estado que ficou pior colocado em relação ao ensino à distância de todo o Brasil. Aqui em Salvador, o prefeito Bruno Reis começou a fazer a entrega de tablets com chips de conectividade para todos os alunos da rede municipal de educação da cidade. Mais de 100 mil alunos em Salvador. Estou citando isso porque qual é a nossa estratégia para tirar a Bahia dessa posição vergonhosa. Diga-se de passagem, o candidato que representa o grupo que governa a Bahia há 16 anos, meu principal adversário, era secretário de Educação da Bahia e deixou a Bahia com nota 3,5. Foi reprovado na sua tarefa de ser secretário. O nosso caminho vai ser primeiro trabalhando em parceria com os municípios, porque há uma compreensão de que o processo educacional começa nas primeiras séries, que é responsabilidade dos municípios. Mas eles não podem andar sozinhos, o governo pode chegar com apoio pedagógico, com qualificação de professores, com avaliação externa dos alunos e nós vamos instituir um prêmio, como já existe no estado do Ceará, para recompensar os municípios que avançarem mais na qualidade do ensino. Vamos criar uma competição saudável. Em relação ao ensino médio, que é atribuição direta do governo do estado, nós queremos ampliar a educação em tempo integral, vamos aproveitar a estrutura das escolas que já existem hoje e trabalhar como novas estruturas e tecnologia. Eu pretendo entregar um tablet com conectividade a cada aluno da rede estadual. Enquanto o aluno estiver fora da escola, ele vai poder ter acesso ao reforço escolar com um conteúdo bem elaborado através da tecnologia. Queremos levar para o ensino médio da Bahia os conceitos de empregabilidade, de empreendedorismo, respeitando a vocação econômica e o potencial de cada região do nosso estado.

 

A pandemia aumentou a infraestrutura da área de saúde na Bahia. No entanto, não existe uma perspectiva clara de manutenção desse legado. Quais são as iniciativas, caso eleito, para manter a ampliação da oferta de serviços e do próprio acesso à saúde no estado?

O impacto principal dessa desmobilização que foi feita durante a pandemia é sentido no interior do Estado. Eu lembro na época enquanto prefeito de Salvador, a gente correu atrás para criar novos leitos de UTI. Era uma luta por respirador. Abrimos muitos leitos na capital que foram fundamentais para não ocorrer um colapso na Bahia porque no interior falta leito de UTI e hospital que possa acolher os pacientes que precisam de serviços de média e alta complexidade. Está aí o drama da fila da regulação. Eu já disse, não dá para acabar com a regulação, mas dá para colocar a fila para andar. Mais uma vez vamos buscar os bons exemplos. Um estado com o tamanho de São Paulo, a coisa funciona, com gestão, inteligência e tecnologia na regulação, com profissionais qualificados e olhar descentralizado. Então primeiro é mudar a gestão da regulação na Bahia, depois tirar da fila da regulação aquelas demandas que tem a ver com socorro à vida e não podem esperar. Então a pessoa teve um infarto, um AVC, um acidente que gerou politraumatismo, ou uma mãe gestante que precisa de um parto de urgência, essas pessoas não tem como esperar. Ou vão ser atendidas na hora ou vão morrer. Então nesses casos a gente tem que tirar da fila da regulação e precisa haver atendimento imediato. E isso não vai ser da noite para o dia, a gente vai precisar ampliar a nossa rede de assistência à saúde, aumentando a produtividade dos hospitais estaduais que já existem hoje e funcionam, construindo novos hospitais regionais. Na região do sisal, a gente tem um verdadeiro buraco assistencial, não há um hospital regional. Nesses lugares, a ideia é a implantação de novos hospitais regionais. Há também a ideia de pegar alguns hospitais municipais que funcionam bem e que tem alguma estrutura e ampliar essa estrutura, colocar novos equipamentos, serviços e contratar pessoal. Transformar o que é o hospital municipal em um hospital microrregional, assim ele vai atender oito, dez municípios da região. Assim você vai tirar as demandas de baixa e média complexidade dos hospitais maiores. Os hospitais maiores, os regionais e gerais vão ser para atender questões de socorro à vida e questões de alta complexidade. Vamos ampliar também a rede de clínicas, laboratórios e hospitais contratualizados com o Estado. Na saúde a gente tem um grande desafio de gestão, mas do outro lado o desafio de aplicação de mais recursos em saúde.

 

Os índices de crimes violentos, bem como os números envolvendo violência policial - e violência contra policiais, seguem alarmantes. O que fazer para melhorar a própria sensação de segurança dos baianos? Você pretende investir em tecnologia de que forma? E sobre o efetivo de policiais civis e militares, você tem alguma perspectiva de ampliar esses números? O aumento de efetivo é a solução, na sua visão, para diminuir a violência?

Primeiro acabar com essa história de ficar procurando culpados e desculpas. Que é o que a gente viu acontecer nos últimos 16 anos na Bahia. Eu não vou chegar aqui para desfazer tudo que foi feito por Wagner e por Rui. Algumas coisas foram positivas, o que é bom nós vamos manter. Agora, no quesito segurança pública foi um desastre, o resultado está aí. A Bahia é campeã em número de homicídios do país. Em 2021, morreram 2.000 pessoas a mais na Bahia do que no Rio de Janeiro, estado que tem uma população maior que a Bahia, que tinha um histórico de violência muito pior que o nosso. O efetivo policial da Bahia hoje em 2022 é menor do que há 16 anos. As cidades cresceram, a população cresceu, os problemas se multiplicaram e a polícia diminuiu. Sem falar que muitas vezes a polícia não consegue fazer o seu trabalho e chegar em um território que está dominado pelo bandido. A primeira coisa que vai ter que acontecer é a mudança de postura do governador. Eu vou chamar para mim a responsabilidade, eu vou me envolver na construção do problema. A polícia vai ser conduzida de maneira técnica. [...] No dia 1º de janeiro, eu vou baixar uma série de decretos e um deles vai ser determinando que a secretaria de administração faça um levantamento e atualize todas as informações junto à Secretaria de Segurança Pública para deflagrar processo de concurso público para a Polícia Militar e para várias carreiras da Polícia Civil. Vamos fazer concurso para contratar policial e valorizar os que já atuam e reclamam de salário, reclamam de condição de trabalho, falta de segurança para atuar, falta de armamento, viatura que não roda porque não tem combustível, delegacia que está caindo aos pedaços... Vamos dar condição de trabalho aos profissionais da segurança pública. Vamos trabalhar com tecnologia, buscar o que está dando certo em outros lugares, mudar o sistema prisional. Mais da metade dos crimes partem de ordem de bandidos que estão presos. O presídio custa uma fortuna para o governo, o dinheiro é pago pelo cidadão, pelo imposto do cidadão e no fundo a gente paga para bancar chefe de facção criminosa que está preso dando ordem para fora com celular, uma série de regalias que não são cortadas. A gente vai mudar a gestão prisional e vamos implantar novos presídios de segurança máxima em nosso estado para que seja o lugar onde o preso vai cumprir a pena pelo crime que cometeu e não onde ele vai estar multiplicando a quantidade de crimes perpetrados no estado. Por último, ter reuniões periódicas, vou apresentar o mapa do crime na Bahia, os números, e fazer com que cada um cumpra seu papel porque não dá para a polícia prender e a Justiça soltar como muitas vezes acontece.

Tenho sido sempre perguntado sobre isso [câmeras corporais para policiais] e São Paulo acaba sendo uma referência e eu quero responder que nesse momento é impensável a gente colocar câmeras nos uniformes dos policiais. São Paulo antes de colocar fez uma série de coisas: valorizou a polícia, investiu em infraestrutura, deu condição de trabalho, fez concurso, melhorou a remuneração do policial. Ou seja, criou as condições de o policial cumprir corretamente com a sua obrigação e dever. Se hoje do jeito que está a polícia da Bahia a gente chegar e e colocar câmera no uniforme o que vai acontecer é que o policial vai cruzar os braços. Não vai trabalhar. A gente tem que monitorar é o bandido, e não a polícia. Isso não quer dizer que vou dar uma licença para a polícia agir com força. Vamos ter uma corregedoria que vai trabalhar, não vamos aceitar abusos policiais e situações de arbitrariedade. Mas existe uma inversão completa de valores, não dá para querer tratar a polícia como bandido que é o que muitas vezes acontece. Existe violência policial? Sim. Existe número alto de mortes fruto de ações policias? Sim. Nós vamos coibir isso dando condição para a polícia trabalhar e cumprir bem o seu papel. Criando um ambiente de segurança pública onde o próprio policial seja bem treinado e tenha qualificação, não vá para a rua sem as condições de trabalho e que aí seja uma raríssima exceção aquele que comete abuso e vai pagar por isso, e tudo vai ser feito com transparência. Agora, colocar câmera no uniforme do policial é ajudar a piorar a situação da violência na Bahia.

 

O país vive um momento de crise ambiental e a Bahia está inserida nesse contexto, de baixa preservação de biomas importantes, como a Mata Atlântica e a caatinga. Há uma demanda mundial por desenvolvimento sustentável, porém temos obstáculos legais e da história e da cultura locais. Como aliar desenvolvimento e respeito ao meio ambiente estando na cadeira de governador?

As duas coisas são absolutamente compatíveis. Eu sempre tive uma vida com essa visão de desenvolvimento, de expansão econômica, de estímulo a produção, mas tudo isso sendo feito com o respeito ao meio ambiente, ao patrimônio natural e com compromisso com a sustentabilidade. Quando eu cheguei em Salvador, a prefeitura não tinha política ambiental. Nós criamos uma secretaria de sustentabilidade, foi feito um belo trabalho pelo PV. Criamos o plano municipal de resiliência, criamos o plano de enfrentamento aos efeitos das mudanças climáticas, colocamos Salvador na rota internacional desse debate. Hoje Salvador faz parte do C40, que são poucas cidades do mundo que sentam para discutir meio ambiente. Fomos uma das capitais do Brasil que mais investiu na construção de novos parques. Nós temos exemplos para mostrar. É claro que sendo eleito governador vou levar essa pegada para o governo do estado. Queremos agilizar, acelerar processo de licenciamento desde que seja feito com transparência, de maneira correta e respeitando o meio ambiente. Dá para conciliar.

 

Somos um estado com a maioria da população negra, porém não temos uma política clara de combate ao racismo, inclusive institucional. Você consegue enxergar o racismo e a intolerância religiosa como problemas de Estado? Como combater essas chagas sociais?

A primeira coisa é que o estado tem que dar exemplo. Eu fiz isso na prefeitura de Salvador. Implantei o mais premiado programa de combate ao racismo institucional do Brasil, chamado PCRI. Eu pretendo implantar esse mesmo programa no governo do estado porque não adianta querer dar lição para fora se você não dá o exemplo dentro. Segundo, nós estamos propondo a ampliação das cotas, que hoje estão em 30%, para 50% no estado. Quem implantou a política de cotas em Salvador fomos nós. Em relação ao secretariado, também pretendo ter política de cotas. Se vai ser de 50% a gente ainda não definiu, mas teremos também. Não só secretariado, mas todos os cargos de confiança. Bruno deu um exemplo excelente, a prefeitura [de Salvador] tem quase metade de secretárias, não tem cota, não se obrigou a isso, mas foi uma decisão dele. Como foi uma decisão minha colocar uma mulher como candidata a vice-governadora. E teremos um governo repleto de mulheres.