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Marca Bahia Notícias

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Série da FGM dá visibilidade histórica à luta feminina no Dois de Julho 

Por Jamile Amine

Série da FGM dá visibilidade histórica à luta feminina no Dois de Julho 
Foto: Divulgação

Sempre foi dito que a história é contada pelos vencedores, e ao longo do tempo eles costumavam ser sempre homens, brancos e colonizadores. Pensando em colocar uma lupa no passado e refletir sobre a atualidade, a Fundação Gregório de Mattos lança, nesta sexta-feira (3), a série “Mulheres da Independência”, para discutir o Dois de Julho sob uma outra ótica, a da participação feminina.

 

“Essa nossa proposta surgiu justamente da demanda de dar visibilidade às personagens que nunca foram inscritas na história, ou que estão começando a ser inscritas agora, utilizando novos documentos”, explica Gabriella Melo, gerente de patrimônio cultural da FGM, órgão vinculado à Prefeitura Municipal de Salvador. 

 

Em princípio, a série contará com quatro vídeos lançados nas redes da FGM, para destacar a participação feminina na luta pela Independência da Bahia. No vídeo de estreia, nesta sexta-feira (3), a personagem histórica debatida será Maria Quitéria; seguida de Joana Angélica; Maria Felipa e outras mulheres que faziam parte de seu grupo; e, por fim, será abordada a participação das mulheres das Caretas do Mingau. 

 

A iniciativa integra a programação especial do Dois de Julho, que este ano será realizada de forma virtual, devido às restrições sanitárias exigidas para conter o novo coronavírus (clique aqui). “Na verdade, nós já estávamos bolando algumas estratégias virtuais com o ‘Patrimônio é’, que é um outro projeto nosso de educação patrimonial. E com a pandemia nós tivemos que intensificar, ser mais criativos, refazer essa cultura, porque a cultura se reinventa o tempo todo, e manter a tradição do Dois de Julho, porque a tradição não é imutável, ela muda no decorrer do tempo. E essa mudança que foi forçosa, devido ao contexto, nos fez perceber também que há outras possibilidades. O Dois de Julho, que aconteceria em determinado território, na Bahia, agora vai acontecer para o mundo todo, vai ganhar muito mais visibilidade”, explica Gabriella. 


A gestora, que é também historiadora, destaca ainda que a ideia é desfazer o apagamento e tornar a ação algo contínuo e não apenas isolada. “Já tivemos, inclusive, como tema do Dois de Julho, mulheres da independência. Mas não é algo pontual, é algo que tem que fazer parte de todas as nossas estratégias. Não pode ser apenas um ano, mas todos os anos. Então, dessa forma, surge a série com o intuito também educativo, que possa ser disponibilizada nas escolas, que possa ser utilizada como conteúdo de pesquisa”, avalia a gestora, revelando que a FGM pretende manter discussão sobre a participação feminina na história, para além do Dois de Julho. 

 

Para contar a trajetória destas figuras históricas, foram escaladas outras mulheres pesquisadoras, que apresentarão documentos, fontes orais e depoimentos de pessoas relacionadas aos movimentos pela independência. O debate, como sublinha Gabriella, tem ligação direta com pautas atuais como o feminismo e movimento anti racista, já que permite a visibilidade e a participação feminina na reconstrução da história. “Então, falar dessas mulheres já é tratar do feminismo e da descolonização do pensamento. As Caretas também são parte de uma memória que é passada de geração a geração, através da oralidade”, defende a gestora da FGM.  

 

“Quando falamos de Caretas do Mingau, falamos de várias mulheres, porque é como se fosse uma irmandade. E quando falamos sobre Maria Felipa, nós vamos destacar também outras mulheres que faziam parte do grupo de Maria Felipa… Porque já temos registros documentais de mais três nomes de mulheres que acompanharam Maria Felipa na luta pela independência em Itaparica”, lembra Gabriella. A história de Maria Quitéria também é exemplo de emancipação. “Maria Quitéria, que se passou por homem, foi tão eficiente que foi aceita no Exército. Inclusive ganhando um saiote e um penacho para dizer ‘aqui tem uma mulher, eu não vou continuar escondida atrás das roupas de um homem’”, conta a historiadora. “A própria Maria Felipa, marisqueira negra de Itaparica, que utiliza como arma cansanção para combater o exército lusitano que chega nas margens da praia”, acrescenta.