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chocolate da bahia
O samba é o novo pop? Na terra do samba, o gênero nunca perdeu a majestade entre os admiradores fies do ritmo. Mas comercialmente é nítido que o samba voltou a ser atrativo para quem investe na música em busca do retorno financeiro. Afinal, não é à toa o surgimento de novos eventos dedicados ao ritmo, além da mudança de estilo de alguns artistas que de repente passaram a se interessar pelo gênero musical.
Nos marcadores digitais, a exemplo do Spotify, o samba e o pagode já dão as caras nas playlists mais ouvidas do ano, porém, ainda é difícil barrar a hegemonia do sertanejo, que aparece na lista com o artista mais ouvido do ano e tem duas playlists mais executadas.
Mas nas ruas, onde o samba sempre foi consumido, longe da tecnologia e dos números em streams, é possível ver que o gênero tem feito sucesso entre a nova geração, que dita a tendência nas redes sociais, e que, também, nunca abandonou o favoritismo entre os mais velhos.
Herdeiro de um dos talentos do samba na Bahia, Tiago Carvalho da Cruz, assina com o Da Bahia, assim como o pai, Chocolate da Bahia. Em entrevista ao Bahia Notícias, o músico falou sobre a nova ascensão do ritmo, que apesar de nunca ter deixado de ser consumido na Bahia, passou a se tornar mais comercial, com a criação de novos eventos.
“Eu percebo um crescimento no interesse do público, principalmente no samba raiz e o samba da Bahia. É algo bom para a gente, que faz música, porque normalmente o pessoal costuma ouvir o samba do Rio, mas ver esse samba feito aqui, da nossa velha guarda, composta por Batatinha, Edil Pacheco, Gal do Beco, Waldir Lima, Nelson Rufino, Chocolate da Bahia, ser exaltado, é lindo demais. São canções que precisam ser resgatadas e passada de geração em geração.”
Foto: Divulgação/ Arquivo Pessoal/ @mochilab.co
A paixão pela música passou de pai para filho, assim como o talento para fazer canção. Especialmente por não ser para qualquer um herdar o dom de Raimundo Nonato da Cruz, ou para quem ouve na rádio e na TV com alguns dos jingles mais marcantes da publicidade baiana, simplesmente Chocolate da Bahia.
Tiago embarcou na área da música como produtor e compositor, e tem registrado no Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad) 67 obras musicais. Até o estilo escolhido para seguir foi o mesmo.
Apesar de admirar a música como um todo, foi no samba que Tiago se encontrou. Não tinha como ser diferente, se dentro de casa a referência era Chocolate, Edil Pacheco, Batatinha, Nelson Rufino e outros grandes do samba, a fruta não cairia longe do pé.
Para o artista, é necessário que as pessoas deem continuidade ao legado deixado pelos grandes nomes, não só executando as músicas, mas também se inspirando para criar obras tão impactantes como as que já existem, sempre atentos as letras, as mensagens que devem ser passadas com as músicas e o poder social que o samba sempre teve.
Foto: Arquivo Pessoal
“Tenho visto novos nomes, muitas mulheres tendo espaço para finalmente cantar o samba e serem vistas e exaltadas pelos seus trabalhos. É um verdadeiro espetáculo e eu vejo um futuro bonito para esses artistas.”
O bom momento no samba é pontuado por outros artistas e produtores de eventos na capital baiana. Ao Bahia Notícias em novembro deste ano, Samora Lopes, idealizador do Banjo Novo, que também herdou a paixão pelo gênero da família, pontuou a alta nos marcadores digitais como um momento de reflexão e celebração para o ritmo.
“O samba sempre esteve presente da mesma forma de segunda a segunda em Salvador, porém agora, com as redes sociais, ele está tendo uma visibilidade que ele não tinha antes. A gente também está vivendo um bom momento do samba nos streams. O samba, acho que na última semana, bateu o top 1 nos streams, coisa que não tinha acontecido com a música pelo domínio de outros ritmos.”
Por outro lado, o interesse no samba gera uma preocupação. A de que o samba como “o novo pop” seja apenas para extrair financeiramente tudo que o gênero ancestral pode dar por estar na moda.
Nas redes sociais, ao mesmo tempo, em que o boom no samba tem sido elogiado, tem ligado o alerta para reconhecer quem sempre esteve ali, na linha de frente de toda essa história, como diz o poeta, Jorge Aragão em 'Moleque Atrevido', “do tempo do samba sem grana, sem glória”. Tiago segue o mesmo discurso do “vovô”.
“Eu acho que todo esse movimento é bom para o ritmo, para propagar, mas a gente precisa saber quem é que vai estar em destaque. Acho que tendo o devido respeito, dando o mérito a quem começou tudo isso, não se torna um grande problema. Eu digo o seguinte em uma canção 'Fazer samba não é só ritmar num tamborim ou sincopar num pandeiro. Fazer samba é respeitar os terreiros e as nossas tradições. Oxalá, meu Deus, transmitir aos filhos teus, filhos meus, nossa verdade'.”
Para o produtor musical, é necessário entender o ritmo e respeitar as origens do samba ao decidir “se jogar” na história. Para se ter uma ideia, a velha guarda baiana sofreu nos últimos anos para manter a celebração ao Dia do Samba na capital, e é desse reconhecimento que quem fez o samba acontecer na Bahia que o gênero precisa para propagar a arte.
“O samba não é somente a gente fazer aquela batucada, é você ter esse entendimento da origem do samba, dar esse devido valor e respeito. Porque muitas vezes a gente vê o samba agonizando, mas ele não morre, mantém a sua força. Espero que essa turma venha para somar e que o samba permaneça”.
Quarenta minutos. O tempo não chega a ser nem a duração completa de uma partida de futebol, não chega nem ao 1º tempo que pode ser decisivo para um time, mas é nesse espaço que Raimundo Nonato da Cruz, mais conhecido como Chocolate da Bahia, consegue compor um jingle para uma campanha eleitoral.
Dono de mais de 90 composições, entre elas 'Haja Amor', 'Eu Sou o Samba', 'A Cobra Mordeu Caetano' e 'Menina do Cateretê', foi basicamente nesses 2400 segundos, que o cantor, compositor e instrumentista colocou na rua o jingle que fez com que João Henrique, na época pelo antigo PMDB, fosse reeleito prefeito de Salvador no 2º turno das eleições de 2008, com a música "Todo Mundo Tem um João".
Aos 81 anos, celebrados nesta sexta-feira (30), Chocolate segue em atividade e ainda compõe jingles com a mesma rapidez com a qual fazia na década de 70, mesmo que a tecnologia tenha mudado tanto a ponto de conseguir fornecer aos candidatos, jingles em questão de minutos com a Inteligência Artificial.
Em entrevista ao Bahia Notícias, o artista, que iniciou a carreira no mundo artístico no Mercado Modelo com rodas de samba que atraíam populares, artistas e intelectuais, como o escritor Jorge Amado, o poeta Vinícius de Moraes e o artista Carybé, revelou como iniciou a carreira na composição de jingles para a política.
"Minha história com jingle começou quando eu fiz as músicas para Cesta do Povo. Na época foi um grande sucesso, 'Eu quero meu povo nesse ano novo com mais alegria...'. Na época, gravei na WR, de Wesley Rangel e ganhou vários prêmios. Foi ali que as pessoas começaram a me procurar para pedir música para os candidatos".
Foto: Instagram
Ao site, Chocolate revelou o tempo médio para compor um 'jingle que ganha eleição' e contou como é o processo para falar tanto em uma música tão curta quanto um jingle de campanha. "Em quarenta minutos eu faço uma música. Eu vou fazer perguntas ao candidato, se ele é a favor, se ele é contra. Se é de oposição, de situação, se é de esquerda ou de direita e a história da vida. Daí ele vai contar, se trabalha muito pelo social, pelo esporte, pelo lazer. Na luta pela segurança... O segredo está em emocionar o ouvinte".
Questionado sobre a média de jingles já feitos ao longo dos mais de 40 anos de carreira, Chocolate da Bahia foi franco: "Já passou de mil, porque nós temos 417 municípios, cada município com lança 10 candidatos, entre vereadores e prefeitos. Você imagina isso em quarenta anos de carreira? Fora os comerciais, sem ser o de política".
Para Chocolate, um dos atrativos na composição dos jingles para a política foi o dinheiro. "A gente tem que ter o dinheiro, quando eu vejo o cheiro do dinheiro eu fico feliz. Eu não me perdoo se o cara me pedir para fazer uma música, eu sabendo que o cara está ali com as notas de R$ 100 na mão 'Chocolate, o dinheiro está ouvindo a conversa', e eu não conseguir? Eu vou fazer é na hora. Nunca me recusei a fazer um jingle, só quando a pessoa é um mau pagador", conta ele que não revelou os valores que tem cobrado atualmente, mas afirma que ele varia a depender do cenário.
Para o compositor, que elege o jingle 'Todo Mundo Tem um João' como um dos mais marcantes da carreira como compositor para a política, o modo e o estilo de se fazer jingle foi mudando com o tempo e com as novas tecnologias, coisa que o artista não reprova, mas entende que não substitui o trabalho de compositores como ele e do filho, Tiago Carvalho, que seguiu os passos do pai na música e, além de compositor, é produtor musical.
"Hoje você pega uma música, você tira a voz do cantor e bota outro em cima cantando no mesmo arranjo. Eu não sou contra isso não, a pessoa tem que embarcar na modalidade. Quem quer um negocinho ligerinho vai atrás disso."
Foto: Instagram
Nos últimos 16 anos, os "jingles" campeões tiveram uma similaridade, tirando a de João Henrique em 2006, dois lançados por ACM Neto, na época pelo DEM e a lançada por Bruno Reis em 2020, foram pagodão.
O ex-prefeito de Salvador, que apostou em três jingles no primeiro ano que saiu como candidato, teve um deles com a voz de Márcio Victor cantando o "25 na cabeça". Já em 2016, o jingle de Neto, que buscava a reeleição foi na voz de Léo Santana cantando "É Neto Outra Vez". Na primeira eleição de Bruno Reis pelo DEM, o atual prefeito seguiu os passos de Neto e investiu no pagodão com Léo Santana, que cantou "Bora com Bruno".
Chocolate foge do estilo. Para o artista, o estilo de composições que ele faz para período eleitoral é o que vai conquistar o voto do eleitor, e não uma música que vá tocar no paredão e fazer o povo dançar.
"Me entristece quando as pessoas querem só pagode e eu sou mais a linha de Batatinha, de Everaldo Gentil, de Riachão, Nelson Rufino, Edil Pacheco, essa turma da velha guarda. Nessa hora que a pessoa me diz assim 'rapaz, eu quero um estilo bem para paredão', eu aviso 'Amigo, não me leve a mal, eu faço música para você ganhar o voto'. Eu faço música para a família, para os eleitores, para quem vai votar e não para maluco que quer ficar junto no paredão dizendo que quer descer na boquinha de garrafa e nem desce."
O Bahia Notícias levantou dados sobre os jingles dos três candidatos que serão entrevistados pelo Projeto Prisma no próximo mês e para as Eleições de 2024, o gênero musical predominante é o pagode em alguns estilos diferentes. O candidato Geraldo Júnior (MDB) lançou duas versões da mesma música com a opção "arrochadeira", a mistura do arrocha com o pagode. Confira:
- Bruno Reis (União Brasil): jingle composto por Diana Aquino e Victor Marinho e cantado por Léo Santana
- Geraldo Júnior (MDB): jingle composto por Lukas Miranda e cantado por Lukas Miranda, com versão também de Larissa Marques
- Kleber Rosa (PSOL): equipe do candidato não informou responsáveis pela composição e por dar voz ao jingle
Vale lembrar que os jingles, por serem obras musicais, são protegidos pela Lei de Direitos Autorais (Lei nº 9.610/98). Desta forma, o autor da obra, tem o direito exclusivo de autorizar ou proibir o uso de sua criação.
Os autores de obras artísticas ou audiovisuais usadas sem permissão para produção de jingle, ainda que em forma de paródia, podem solicitar que a divulgação do material seja interrompida. Para isso, é necessário requerer a cessação da conduta por petição dirigida às juízas ou aos juízes eleitorais.
Caso o jingle seja uma adaptação de uma música já existente, a autorização também deve ser obtida do autor da obra original.
Curtas do Poder
Pérolas do Dia
Capitão Alden
"Estamos preparados, estamos em guerra. Toda e qualquer eventual postura mais enérgica, estaremos prontos para estar revidando".
Disse o deputado federal Capitão Alden (PL) sobre possível retirada à força da obstrução dos apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Congresso Nacional.