PF aponta descumprimento de medidas e risco de fuga de Jair Bolsonaro em relatório ao STF; veja fotos
Por Paulo Dourado
O relatório final da Polícia Federal (PF), encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF), reuniu uma série de elementos que sustentam o indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e de seu filho Eduardo Bolsonaro (PL-SP) no inquérito 4995/DF, instaurado a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR). Ambos são investigados por coação no curso do processo, obstrução de investigações sobre organização criminosa e tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito.
Em inquérito obtido pelo Bahia Notícias, a PF destacou a “permanência e reiteração” de condutas ilegais atribuídas ao ex-presidente, incluindo o desrespeito às medidas cautelares que lhe proibiam o uso de redes sociais e contatos com outros investigados. Mesmo após a apreensão de um celular em julho, Bolsonaro teria ativado um novo aparelho e retomado intensa atividade digital.
De acordo com os investigadores, o conteúdo recuperado demonstra que Bolsonaro utilizava listas de transmissão no WhatsApp para difundir mensagens políticas e críticas ao STF. Parte desse material envolvia vídeos sobre a chamada Lei Magnitsky, sugerindo sanções internacionais contra ministros da Corte, em especial Alexandre de Moraes.
Na investigação, o pastor Silas Malafaia também é citado como figura que teria incentivado Jair Bolsonaro a driblar as restrições judiciais. Mensagens mostram que, menos de uma hora após Bolsonaro ativar o novo celular, Malafaia pediu que ele disparasse vídeos para sua base de contatos e articulasse a mobilização de parlamentares em apoio a manifestações marcadas para 3 de agosto.
Foto: Reprodução
Para contornar as proibições, Bolsonaro ainda teria recorrido a aliados como o deputado Capitão Alden (PL-BA) e a apoiadores identificados em redes sociais, como o perfil “Negona do Bolsonaro”. Esses contatos publicaram conteúdos atribuídos ao ex-presidente, numa estratégia que, segundo a PF, configuraria tentativa deliberada de burlar as medidas impostas pelo STF.
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O relatório também aponta que Jair Bolsonaro violou determinações judiciais ao manter comunicação com o aliado Braga Netto, então investigado na Operação Tempus Veritatis. Além disso, surgem interações com Martin De Luca, advogado norte-americano ligado à Trump Media e à plataforma Rumble, em processos nos Estados Unidos contra Alexandre de Moraes.
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Segundo a PF, De Luca chegou a enviar a Bolsonaro, no mesmo dia do protocolo, uma petição apresentada em tribunal norte-americano contra decisão do STF. Uma cópia traduzida do documento foi encontrada na residência do ex-presidente. Há ainda registros de conversas em que Bolsonaro pede orientação ao advogado sobre textos que exaltassem Donald Trump e criticassem o Judiciário brasileiro.
Outro ponto considerado grave foi a descoberta de um documento no celular de Jair Bolsonaro intitulado “Carta JAIR MESSIAS BOLSONARO.docx”. Datado de fevereiro de 2024, o arquivo tratava de um pedido formal de asilo político ao presidente argentino Javier Milei, no qual Bolsonaro alegava ser alvo de perseguição no Brasil.
Próximos passos
Diante das conclusões, o relator Alexandre de Moraes determinou que a defesa de Jair Bolsonaro se manifeste em 48 horas sobre os descumprimentos e indícios de risco de fuga. Após a resposta, caberá à PGR se posicionar sobre as medidas cabíveis contra o ex-presidente e demais investigados.