Ilê Aiyê e a luta por espaço: Secretário de Cultura comenta desafios dos blocos afro no Carnaval
Por Victor Hernandes/Manuela Meneses
Neste domingo (2) de Carnaval, o secretário de Cultura da Bahia, Bruno Monteiro, abordou os desafios enfrentados pelos blocos afro para expandirem sua atuação para além de Salvador. A declaração foi dada no Camarote Brahma, no Circuito Dodô (Barra-Ondina), em resposta à fala de Antônio Carlos dos Santos, o Vovô do Ilê, presidente e fundador do Ilê Aiyê.
No último sábado (1º), Vovô do Ilê destacou as dificuldades em levar a cultura afro-baiana para outros municípios, mencionando a falta de interesse das prefeituras em firmar parcerias com os blocos.
“As prefeituras não querem contratar, não querem fazer parcerias. Até pra contribuição da economia, porque quando você contrata um artista baiano, o dinheiro fica aqui. Se você contrata o pessoal de Goiás, de São Paulo, vai tudo pra lá. Hoje a gente tem essa cultura de outros ritmos que não a música negra”, lamentou Vovô na oportunidade.
Bruno Monteiro reconheceu a necessidade de maior visibilidade e financiamento para os blocos afro, ressaltando que a maioria dessas manifestações culturais sobrevive exclusivamente com o apoio do governo, sem incentivos de bancos ou grandes marcas privadas.
“Se não é o governo, se não é o Ouro Negro, quase a totalidade dos blocos afro não conta com nenhum apoio. Não tem apoio de banco, não tem apoio de cerveja, não tem apoio de marca privada. E são manifestações que têm a identidade da nossa cultura. Trazem uma história muito importante que dá sentido a tudo que é produzido. Nós estamos aqui comemorando os 40 anos do Axé Music. Não haveria Axé Music se não houvesse os blocos afro, os afoxés”, declarou o secretário em entrevista ao Bahia Notícias.
Monteiro também destacou o esforço do governo em ampliar os mecanismos de apoio, citando programas que possibilitam a divulgação da cultura afro-baiana fora do Brasil. “O Ilê Aiyê, por exemplo, ano passado esteve na Europa, apoiado pelo Governo do Estado, divulgando na sua turnê de 50 anos, assim como o Olodum já teve em outros momentos. Isso é importante porque a gente promove uma articulação dessa arte que é produzida na Bahia”.
Além do financiamento, o secretário reforçou a necessidade de ampliar a visibilidade dos blocos afro nos circuitos do Carnaval, ressaltando que seus desfiles evoluem a cada ano e precisam ser reconhecidos como parte fundamental da festa.
“Há também uma necessidade de nós dialogarmos mais sobre a comunicação, que uma visibilidade sobre os desfiles dos blocos afro também, quando eles estão passando, são desfiles que cada vez se aprimoram mais, se enriquecem mais e que merecem ter visibilidade como todos os outros. Eu tenho certeza que isso vai gerar também maior interesse nessas manifestações que são tão caras e tão importantes à Bahia”.