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Além da Chapada, ao menos 12 áreas federais protegidas tiveram incêndios na Bahia

Por Edvan Lessa

Além da Chapada, ao menos 12 áreas federais protegidas tiveram incêndios na Bahia
Foto: Açony Santos
Em maior ou menor grau, a Bahia possui experiência em algumas catástrofes ambientais. Mas que lição evidente pode ser tirada, por exemplo, das secas históricas, estiagens prolongadas e, mais enfaticamente, das queimadas? Afinal, elas são tão inéditas quanto as imagens do gado morto no semiárido ou mesmo dos ilhados sob as chuvas torrenciais. Desde 1998, há ao menos 3.700 focos de incêndio por ano no estado, sendo que em 2015 eles foram observados em até 249 locais, de um único parque, entre as áreas de conservação protegidas que o Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe) monitora.

Há quase 20 anos, o Inpe fornece relatórios diários a quem quiser – e tiver acesso à internet – via site institucional ou email sobre focos de fogo no país. O pesquisador coordenador do Monitoramento de Queimadas em Tempo Quase-Real do Inpe, Alberto Waingort Setzer, diz que os dados sobre queimadas no Parque Nacional da Chapada Diamantina, por exemplo, são enviados para os usuários cadastrados na plataforma. Entre eles, a Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema).

Chega a ser banal, para o coordenador da ferramenta, presumir que haja falta de conhecimento que impeça as instituições competentes de agirem. O secretário Eugênio Spengler afirma que os dados gerados pelo monitoramento são fundamentais para a tomada de decisão da pasta. “Mas às vezes eu tenho no mapa um ponto de calor, não necessariamente um incêndio que venha a causar prejuízo”, ressalta.

Com base nos dados, dá para saber que na sexta-feira (18), um dia antes da Associação de Condutores de Visitantes do Vale do Capão (ACV-VC) informar sobre o controle do fogo no Vale, havia 241 focos de queimadas distribuídos no Parque Nacional da Chapada. Precisamente, eles se encontravam nos municípios de Andaraí e Lençóis.

Para o jornalista Victor Uchôa, que fez o mini documentário com vozes de brigadistas voluntários em Lençóis, o que falta é um esquema de bombeiros florestais. "Vesti o macacão e fui para dentro do fogo. Não vou entrar no mérito sobre a boa vontade dos bombeiros atuantes, mas eles são de prédio; tecnicamente não sabem combater o fogo na Chapada", opina.  O filme produzido por Uchôa e o publicitário Álvaro Ribeiro, ambos de Salvador, pode ser assistido abaixo.


Considerado uma caixa d’água baiana pela manutenção das nascentes e paisagem cênica, o parque completou 30 anos em setembro. Além do aniversário do Decreto Nacional n˚91.655 que, na prática, deveria assegurar a sua proteção, começou a ficar pior a devastação na área interna da unidade de conservação. O Inpe constatou que setembro foi o período do ano mais severo para a Bahia, com 7.956 focos.

Três meses depois, no dia 4 de dezembro, o secretário Spengler falou em 51 mil hectares devastados no território baiano; 15 mil somente no parque. Menos de 20 dias posteriores, o fogo já tinha consumido uma área de 23 mil hectares da unidade, segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), responsável pela gestão da área.

Sob monitoramento, há um controle de queimadas num trecho de até 5 quilômetros em torno da unidade de conservação. “Todas as áreas estão sofrendo muito”, diz o pesquisador Alberto Setzer. “É um ponto importante e não estamos falando em área agrícola, mas sim, de uma área que o país decidiu proteger e que não está protegendo”, lamenta. 

A situação exposta por ele diz respeito à Chapada, onde o fogo castiga a Caatinga há 50 dias. A 
ACV-VC informou que na região do Capão, um dos principais pontos turísticos da região, as chamas já foram controladas. "Estamos apagando tufos, mas em Ibicoara ainda há fogo", disse o voluntário Danilo de Oliveira, na terça-feira (22). Segundo ele, há rumores de que em outros trechos da Bahia bombeiros se esforçam de maneira similar para que flora e fauna não sejam totalmente perdidos. 


Ao menos outras 12 unidades de conservação federal no estado também sofreram com o fogo ao longo do ano. Entre elas estão a Estação Ecológica (Esec) Serra Geral do Tocantins, e o Refúgio de Vida Silvestre (Revis) das Veredas do Oeste Baiano, de bioma Cerrado; a Reserva Extrativista (Resex) de Canavieiras, de bioma Marinho Costeiro, a Revis de Boa Nova, com Mata Atântica. Veja no infográfico a localização de cada uma; sua área e número de focos.

De acordo com o Inpe, na sexta posição entre as cidades do interior do Brasil  com mais focos de incêndio, está Barra, na região do Velho Chico, onde foram registrados 2.059 focos. “Trabalhamos quase dois meses lá, um trabalho intenso", informa o técnico. Procurado para comentar sobre prejuízos e ações de combate ao fogo, o prefeito de Barra não foi localizado.


"Do ponto de vista da extensão foi maior que a Chapada”, relata o secretário Eugenio Spengler. Ele considera a ênfase na atuação em determinados locais, e não em outros, por conta da importância ambiental de cada trecho. Barra não é tão prioritária quanto Palmeiras, na Chapada.

Desde 1998, o pior ano para o território da Bahia foi 2007, com 19.713 pontos de fogo. Na mesma época, o estado criava o Programa Bahia Sem Fogo, com o objetivo de capacitar a comunidade para atuar como voluntários na prevenção, combate e monitoramento do fogo. Foram os voluntários, aliás, que fizeram toda a diferença (veja aqui) na mitigação do fogo - embora testemunhas tenham questionado a sua eficiência.

Apesar dos 18.189 focos (até 22 de dezembro), numericamente, o ano de 2015 não foi tão trágico quanto 2007. Em relação ao ano passado (7.754 casos), houve aumento de 134%.

Para atenuar o problema, 29 dos 34 municípios da Chapada já têm decreto de emergência ou aguardam análise para homologação federal, por conta da seca e estiagem, conforme a Superintendência de Proteção e Defesa Civil (Sudec). Isso intensificaria o problema das queimadas, embora a Sema adicione raios, atos criminosos (com cigarros, por exemplo) como agravantes dos incêndios.

O ICMBio atribui o quadro ao fenômeno climático El Niño, que interfere no clima de forma global. 
Em entrevista à coluna Municípios, a analista ambiental do ICMBio, Marcela de Marins, comenta sobre a situação de seca na Chapada (leia aqui).

Jacobina, um dos municípios mais afetados pelo fogo e pela estiagem, enfrenta ainda surto da tríplice endemia - zika, dengue e chikungunya. O prefeito Rui Macedo atribui certo êxito no combate às chamas à ação coordenada entre bombeiros e brigadistas voluntários. "Foram 3 mil hectares queimados", lembrou, no dia 17.

Em relação à Jacobina, o Ministério Público determinou no dia 21 que o estado e uma mineradora instalada no município providencie reforço para combater as chamas, as quais se alastraram ao Parque Estadual Sete Passagens, outra unidade de conservação ambiental. As Defensorias do estado e da União notificaram o governo estadual e federal de maneira similar (entenda aqui).

O Bahia Notícias relembra esse e outros acontecimentos em uma cronologia (veja na galeria abaixo), de setembro a dezembro, com informações divulgadas pela Sema, Defensoria e Ministério Público do estado.

No mês de setembro, o mais crítico, já eram 4.900 campos de futebol queimados, 7.956 focos, mas havia apenas 50 brigadistas e bombeiros militares, além de sete técnicos da fiscalização do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema); atuantes apenas na Chapada. Já no mês vigente, houve, até o dia 18, 1.028 focos e 170 bombeiros militares – sendo 126 da Bahia e 44 do Distrito Federal; brigadistas voluntários; seis aviões e cinco helicópteros contratados pela Sema no combate às chamas.