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Mostra de arte exclusiva para carros é opção para famílias entediadas no isolamento

Por Clara Balbi | Folhapress

Mostra de arte exclusiva para carros é opção para famílias entediadas no isolamento
Foto: Divulgação

Mesmo que chamado "DriveThru.Art", o projeto que ocupa desde a semana passada o galpão Arca, na Vila Leopoldina, em São Paulo, lembra menos a experiência de um drive-thru e mais de um drive-in, como os tantos surgidos durante a pandemia. A diferença é que, em vez de filmes, nas telonas enfileiradas estão pinturas, fotografias e colagens.

São 18 obras no total, cada uma com largura de quase dez metros. A maioria delas é de nomes ligados à arte de rua e mais conhecidos das redes sociais do que do circuito de museus e galerias. É o caso de Crânio, grafiteiro, e de Felipe Morizoni, que já fez intervenções tipográficas em vários muros da capital paulista.

Mas o galerista Luiz Maluf, organizador do evento ao lado dos sócios da Arca, Maurício Soares e Mário Sérgio Albuquerque, diz que esses fatores não interferiram na hora de escalar os participantes.

"Não convidei artistas conhecidos por isso ou por aquilo. Me preocupei em trazer pessoas que trazem em suas pesquisas questionamentos fortificados durante a pandemia", ele diz sobre os assuntos discutidos nos trabalhos à vista, como o meio ambiente, a causa indígena e a solidão.

Cada uma das obras tem, por assim dizer, um estacionamento próprio, onde os veículos podem ficar por até dois minutos contemplando o painel à sua frente.

O fordismo da coisa, com o perdão do trocadilho, acaba frustrando quem anda saudoso de um museu.

Afinal, do carro, o olhar é contido -se por um lado os para-brisas viram uma moldura acidental, de outro a graça de se aproximar e se afastar de uma peça, descobrindo nos novos ângulos um detalhe antes despercebido, se perde. O fato de todos os trabalhos terem as mesmas dimensões não colabora nesse sentido, e faz com que o visitante tenha a sensação de estar diante de um estranho depósito de outdoors.

Maurício Soares conta que estabelecer um limite de tempo de contemplação foi doloroso, mas necessário para a dinâmica de visitação em fila indiana funcionar. Ele compara a restrição à obrigatoriedade de usar máscaras em espaços públicos. "Até onde vai a liberdade individual, e onde começa a necessidade do coletivo? Precisava limitar até onde ela ia para que mais pessoas pudessem compartilhar a experiência."

Além disso, ele e Maluf dizem que a opção por mostrar trabalhos todos no mesmo formato, usando como suporte os pilares da Arca, se deveu ao curto tempo que tinham -da concepção da mostra até sua abertura, correram só três semanas. Muitas das obras expostas foram elaboradas neste período, no próprio galpão.

Mesmo com a correria, o projeto exala segurança aos que decidirem sair de casa em meio à pandemia. O limite de 20 carros no espaço é respeitado, e todos os funcionários ali estão devidamente paramentados com luvas, máscaras e "face shields", ou escudos faciais. O audioguia é acessado por meio de um código QR disponibilizado no momento da compra ou entregue plastificado aos visitantes.

Até quem não dirige pode ver a mostra, reservando um dos carros disponibilizados pela produção. Os veículos são higienizados a cada novo percurso com um equipamento usado em ambientes hospitalares. Já seus motoristas parecem saídos de um filme de ficção científica, com figurinos composto por macacão branco e uma máscara com um sorriso desenhado.

Isso, aliado à presença de trabalhos que remetem ao universo infantil, como a "Doce Medusa" de Vermelho Steam, e a figura com jeito de bonequinho de playmobil de "Tente Ver do Meu Jeito", de Edu Cardoso, faz com que o programa tenha tudo para conquistar famílias com filhos entediados durante a quarentena.

E, se para os amantes das artes plásticas a mostra ainda deixa a desejar, o trio anuncia que pretende desenvolver outras edições.

"O 'DriveThru.Art' pode ter também outros tipo de experiência, projeções, esculturas. Temos um leque aí muito grande para explorar", diz Mário Sérgio Albuquerque, da Arca. "A ideia é conseguir trabalhar na zona de convergência do que chamamos de experiência de arte, em que apresentamos a arte de uma maneira inusitada e que tenha uma relação com o momento que estivermos vivendo", acrescenta Soares.

Vale notar que, apesar de o título ser mais uma brincadeira, há, sim, uma lembrancinha no final do percurso. Visitantes saem de lá com um par de máscaras de tecido, álcool em gel e uma cerveja long-neck das marcas patrocinadoras.