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Reserva contra calote em bancos pode subir até 60% em 2020 por coronavírus

Por Folhapress

Reserva contra calote em bancos pode subir até 60% em 2020 por coronavírus
Foto: Reprodução / Agência Brasil

As reservas para cobrir inadimplência dos bancos devem subir de 40% a 60% em 2020, reflexo da onda de calotes esperada pela paralisação causada pelas medidas de contenção da pandemia do novo coronavírus.

O cálculo ainda é uma primeira projeção de analistas e ganhou nesta terça-feira (28) o primeiro indicativo de que pode se concretizar.

O Santander, primeiro banco de capital aberto no país a divulgar resultados para o período de janeiro a março, elevou em quase 20% essa provisão feita para cobrir calotes.

A inadimplência, por outro lado, ainda não se mexeu, reflexo do adiamento de dívidas anunciado pelos grandes brasileiros.

A expectativa de especialistas do setor bancários é de que essas instituições espremam seus lucros do período em uma tentativa de aumentar suas reservas voltadas para cobrir os riscos de uma possível alta de calotes.

Se num primeiro momento a demanda por crédito ainda cresce, a tendência dos próximos meses é que ela caia em magnitude semelhante à resistência de bancos em emprestar, dado o aumento do risco de inadimplência pelo cenário adverso.

Segundo especialistas, ainda que os impactos dos três primeiros meses sejam pequenos -principalmente devido ao fato de que a crise do coronavírus começou mais tarde no Brasil do que em países da Europa e nos Estados Unidos, por exemplo-, esses reflexos já serão suficientes para sinalizar o que os bancos estão projetando para os demais trimestres, nos quais o baque tende a ser maior.

O maior risco dos bancos brasileiros, segundo o analista do UBS Thiago Batista, está no segmento de PMEs (Pequenas e Médias Empresas), as quais tendem a ser as mais impactadas pela crise. Segundo Batista, as PMEs correspondem por cerca de 16% do total de empréstimos no Brasil.

"Se a inadimplência desse segmento aumentar de 4% [patamar que registrou no final de 2019] para 7%, por exemplo, estamos falando de uma perda de R$ 16 bilhões para o sistema financeiro", afirma o analista em relatório do UBS. Para ele, a projeção é de que as provisões dos bancos aumentem de 40% a 60% neste ano.

A crise também foi responsável por um rebaixamento das perspectivas para o sistema bancário pelas três maiores agências de classificação de risco do mundo: Fitch Ratings, Moody's e S&P. Segundo a Moody's, por exemplo, a expectativa é de que o sistema bancário ainda se deteriore pelos próximos 12 a 18 meses.

Segundo os analistas do BTG Pactual Eduardo Rosman e Thomas Peredo, as estimativas no banco de investimentos também projetam piora na inadimplência e perdas com empréstimos, mas os analistas preveem que esses efeitos devem ser adiados por causa das medidas de carência e das renegociações que os bancos assumiram no último mês.

"Nós vemos uma boa coordenação entre Banco Central, Caixa, BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social], grandes bancos e o governo. Os bancos já estavam bem provisionados depois de fortalecerem as reservas para perdas no último trimestre de 2019, mas ainda esperamos que as provisões aumentem no mínimo 40% em 2020", afirmaram os analistas em relatório.

Segundo os especialistas, também há perspectivas de possíveis aumentos de juros e de uma mudança no mix da carteira -com um maior volume de empréstimo em linhas de maior garantia.

De acordo com o diretor de instituições financeiras da Fitch Ratings para a América Latina, Cláudio Gallina, os bancos estão preocupados com a capacidade de pagamento dos tomadores e com sua propensão em pagar as dívidas renegociadas, tendo em vista que parte dessa propensão também está relacionada à continuidade do negócio.

"Os modelos de risco e de precificação de ativos já passaram por muitas alterações, certamente, e [isso] ainda não terminou. É um cenário completamente novo e vemos uma preocupação grande não apenas em precificar as operações, mas também em entender a viabilidade e a continuidade de cada cliente no curto, médio e longo prazos", disse.

Segundo o executivo, ainda que a agência de classificação de riscos reconheça as iniciativas que têm sido apresentadas pelos reguladores do setor e pelo governo, é a eficiência na aplicação dessas medidas que deve orientar o apetite por riscos nos bancos do país.

"É ainda um cenário muito complexo e difícil de prever. Mas a Fitch entende que a recuperação do ambiente para os negócios bancários no Brasil só ocorrerá a longo prazo", afirmou Gallina.