Presidente da Biblioteca Nacional associa Caetano Veloso ao analfabetismo
por Bruno Molinero e Manoella Smith | Folhapress

Não é simples descobrir o que Rafael Nogueira, escolhido nesta segunda-feira (2) pelo governo de Jair Bolsonaro como novo presidente da Biblioteca Nacional, pensa sobre o universo do livro e da literatura.
À frente agora de uma das principais instituições culturais do Brasil, com acervo de livros que remonta à chegada da família real ao Brasil, em 1808, Nogueira pouco fala sobre livros e literatura. Ao buscar esses termos em seu perfil no Twitter, que conta com 40 mil seguidores, os resultados são poucos.
Um deles é uma mensagem de 2011: "Cadê nossa literatura? Quem é o herdeiro atual de Machado de Assis? Cadê a nossa filosofia? Espero que o legado de Olavo de Carvalho resolva..."
Outro é de 2010: " A justificação dos crimes alheios pela pobreza, constante em nossa literatura e cinema, é uma mentira insultuosa aos pobres honrados."
No ano passado, ele se queixou de perder livros em sua biblioteca: "Não aguento mais perder livros na minha biblioteca. O problema de ter muitos é que, se não estiverem muito bem organizados, quando você quer um livro e não o acha, pensa até em comprar outro para não ter que persegui-lo por todos os cantos, estantes e móveis."
Procurado para comentar o seu projeto à frente da Biblioteca, Nogueira preferiu não dar entrevista e disse que só falaria com a reportagem depois de tomar posse.
Se é pouco conhecido do mercado editorial, o novo presidente da instituição mostra em suas redes sociais ser mais próximo do universo da música.
Em 2017, Nogueira associou Caetano Veloso, Legião Urbana e Gabriel O Pensador ao analfabetismo. "Livros didáticos estão cheios de músicas de Caetano Veloso, Gabriel O Pensador, Legião Urbana. Depois não sabem por que está todo mundo analfabeto", escreveu
Já neste ano, ele lamentou a morte do músico André Matos. Vocalista de bandas como Angra e Shaman, Matos morreu aos 47 anos após uma parada cardíaca.
Nogueira conta que começou a fazer aulas de canto após escutar o músico, tratado como seu vocalista favorito. Ele também se disse fã de Angra e de Shaman --no Twitter, o novo presidente da Biblioteca Nacional diz que o melhor show de sua vida foi a gravação do DVD desta última banda.
Além da música, ele também se mostra próximo do audiovisual. Nogueira é próximo da produtora Brasil Paralelo, que se firmou como referência na difusão de ideias de direita no primeiro ano do governo de Jair Bolsonaro.
No seu canal no YouTube, ele incentiva seus seguidores a apoiarem o financiamento coletivo do filme "A Última Cruzada". A obra, prevista para o ano que vem, promete mostrar eventos que teriam sido negligenciados pela historiografia de esquerda.
Além disso, em outro de seus vídeos, ele passa nove minutos atacando um crítico da produtora, a quem define como "um careca que parece uma barriga de chope depilada falando".
Nogueira assume a Biblioteca Nacional no lugar no lugar de Helena Severo, que colocou o cargo à disposição na sexta-feira (29) em uma carta enviada ao secretário de Cultura, Roberto Alvim. "Essa é uma instituição bicentenária com mais de 400 servidores. Qualquer governo tem o direito de trocar cargos de confiança a qualquer momento. Mas não concordo com a forma como isso tem se dado", disse ela à reportagem.
Graduado em filosofia e direito e com mestrado em educação em faculdades de Santos, onde mora, Nogueira também é professor e já deu aulas particulares de humanidades e de redação para o Enem.
Ele também está à frente do Ciclo de Estudos Clássicos, projeto pelo qual dá palestras em diferentes cidades sobre temas como Independência e Primeiro Reinado, fundação dos Estados Unidos e livros de Olavo de Carvalho.
Seguidor de Carvalho, Nogueira estava nos últimos dias em Portugal por causa do Colóquio Olavo de Carvalho. Já cotado para assumir a Biblioteca Nacional, ele visitou durante a viagem a Biblioteca Nacional portuguesa, em Lisboa.
Além de Nogueira, o governo Bolsonaro nomeou nesta segunda (2) também o novo presidente da Funarte (Fundação Nacional de Artes), seguindo uma reforma volumosa no quadro da Secretaria Especial da Cultura e órgãos subordinados à subpasta do Ministério do Turismo, hoje sob comando do dramaturgo e diretor Roberto Alvim.
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