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Marca Bahia Notícias

Notícia

Marcha fúnebre cruza Praça dos Três Poderes para lamentar morte de CNPJs

Por Fernando Duarte

Marcha fúnebre cruza Praça dos Três Poderes para lamentar morte de CNPJs
Foto: Marcos Corrêa/PR

A pé. Foi assim que o presidente da República, Jair Bolsonaro, deixou o Palácio do Planalto para uma visita surpresa ao presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, ladeado por empresários. Lá, um deles resumiu bem a forma tacanha como alguns empresários insistem em tratar a crise do novo coronavírus: “Haverá a morte de CNPJ”. Em outros contextos já seria absurda a escolha entre CPFs e CNPJs. Com uma pandemia em curso e mais de 9 mil mortos, o peso dessa opção fica ainda maior. E, acredite, há quem aplauda de pé, sem pestanejar.

 

A preocupação econômica é imprescindível. Esse espaço já tratou disso mais de uma vez. Porém a frieza com que se fala em “morte de CNPJs” deveria causar incômodo em qualquer pessoa que ouve. Mas não. Naturalizamos de tal forma o absurdo que passou a fazer parte do cotidiano. Não é. Não deve ser. Essa dicotomia esdrúxula entre vidas e economia tem sido alimentada constantemente no Brasil e só atende a interesses de uma classe minoritária e eternamente favorecida na construção histórica do país.

 

A fala do empresário foi inspirada numa declaração do ministro da Economia, Paulo Guedes. O Posto Ypiranga citou que as empresas estão rodando com “40 dos 100 batimentos que eles deveriam rodar”. O citado homem de negócios completou: “O que a gente não queria é que, por ter estado junto no combate à pandemia, o meu coração que esteve batendo a 40, eu não consigo retomar, os funcionários caem de novo na nossa folha. Aí eu tenho um inimigo lá fora que é meu adversário comercial, prontinho para suprir o mercado interno. Aí então haverá a morte de um CNPJ”.

 

Esquecem que, para que haja consumo, é necessário que exista uma estrutura social que permita o funcionamento da máquina. Caso seja feita a vontade daqueles que desejam o “isolamento vertical”, o impacto das mortes será tão amplo que o Brasil demorará ainda mais tempo para se recuperar do trauma. Basta tomar por base os prognósticos de economistas internacionais: quando antes as medidas restritivas cumprirem suas expectativas, mais rápida será a retomada econômica. Talvez o imediatismo do lucro deixe muita gente cega.

 

Nada impede, no entanto, que sigamos resignados para tecer críticas a posturas que tratem pessoas como números. Empresas importam. Porém vidas deveriam importar mais. A travessia, a pé, da Praça dos Três Poderes não foi uma demonstração de humildade. No máximo, uma tentativa de parecer mais humano.

 

Este texto integra o comentário desta sexta-feira (8) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para as rádios A Tarde FM, Irecê Líder FM, Clube FM, RB FM, Valença FM, Alternativa FM Nazaré e Candeias FM.

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