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E se não fossem só 50 centavos, senhor gigante adormecido?

Por Fernando Duarte

E se não fossem só 50 centavos, senhor gigante adormecido?
Foto: Priscila Melo/ Bahia Notícias

Foi o cidadão quem perdeu a queda de braços entre o sistema de transporte rodoviário e a prefeitura de Salvador. Não que o ente municipal seja o único culpado pelo reajuste da tarifa do último sábado. Uma sucessão de problemas, iniciada ainda em 2013, quando se rediscutiu o modelo de concessão e finalizada com a interminável crise econômica que atinge o país, provocou o disparate entre uma tarifa cara por um serviço de qualidade duvidosa, para não carregar nos adjetivos. Assim, o soteropolitano paga R$ 0,50 a mais por algo que já não era bom.

 

Chega a ser irônico que a atual concessão de transporte em Salvador tenha sido debatida no contexto do "não são só 20 centavos", aquele movimento disforme que iludiu o brasileiro médio com a ideia de que "o gigante acordou". A dose de calmante foi tão grande que o tal gigante está em sono profundo desde então. Salvador, que chegou a ser tomada por multidões desejosas de mudança, agora vive a letargia de que não há nada a fazer - apenas lamentar e pagar caro.

 

O ex-prefeito ACM Neto, que organizou a bagunça do transporte com aval do Ministério Público da Bahia (MP-BA), já sinalizava que a crise era iminente. O modelo de outorga onerosa sufucou os empresários, que enchiam os bolsos de dinheiro e fingiam não ter responsabilidade com o sistema antes disso. Nunca existiram anjos de candura nesse processo, mas a outorga esteve longe de ser a solução. No máximo fez caixa para a prefeitura, enquanto o transporte continuava ruim. Quando percebeu a insustentabilidade do modelo, a prefeitura recuou, mas aí já era tarde demais. A batata quente sobrou para Bruno Reis, que dia sim e o outro também reclama do principal calo das gestões públicas em todo o Brasil.

 

Claro que, se a prefeitura errou no passado, os governos federal e estadual erram no presente. Com a iminência de um colapso, o subsídio federal para a gratuidade de idosos não tem uma previsão exata de ser sancionado. No estado, o pedido de redução de alíquota do ICMS para o serviço de transporte gerou uma resposta atravessada do governador Rui Costa, praticamente colocando toda a responsabilidade do provável caos na concessão feita pelo grupo adversário. Por mais que o modelo possa ter sido equivocado, colocar mais lenha numa fogueira não me parece a forma mais sensata de solucionar o problema.

 

Enquanto isso, o trabalhador soteropolitano - e o empresário local - vai ter que lidar com as consequências de uma população empobrecida, com baixa capacidade de consumir e tendo que pagar mais caro para se deslocar para onde tenha que ir. É um combo ruim para uma cidade que há muito esteve entre os melhores lugares do mundo para se viver (se bem que é anacrônico lembrar da Salvador capital do mundo quando o país era uma colônia). 

 

Saudades de quando havia algum tipo de mobilização para dizer que basta do povo pagar a conta por decisões equivocadas e por excessos políticos daqueles que deveriam olhar para o bem público como uma melhora contínua da vida desse povo. Talvez seja saudade daquilo que não vivi...

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