A esperança vem com a vacina
Por Fernando Duarte
Ainda que haja um processo de negacionismo, cresce cada vez mais a sensação de que a vacinação contra a Covid-19 é a grande esperança para superarmos essa crise. O exemplo ainda não vem do presidente Jair Bolsonaro, que até parece disposto a se vacinar. As imagens que enchem nossos corações de esperança vêm de profissionais de saúde e de idosos que foram imunizados contra a doença e que começam a ficar menos apreensivos.
Confesso que não contive a emoção quando minha avó tomou a primeira dose da vacina, ainda em fevereiro. Quando recebi a mensagem de um primo, confirmando que ela tomou a segunda dose, foram fogos de artifício dentro do peito. No entanto, acompanhada por esse sopro de esperança veio a possibilidade de que um familiar pensou em fazer campanha contra a imunização de dona Zenilda e suas quase nove décadas de história. No caso específico da minha avó, não deu certo o negacionismo. Pena que ouvimos relatos diferentes desse.
Por isso é tão importante que figuras como Gilberto Gil e Caetano Veloso e tantos outros grandes nomes da cultura façam campanha para que a vacina seja uma realidade do povo. A palavra tem força, mas o exemplo tem ainda mais. Por isso, cada símbolo desse Brasil deve usar o seu apelo para contribuir pela ampla vacinação. Isso vale até mesmo para o General Heleno, que integra um governo que até pouco tempo atrás tinha antipatia pela imunização contra a Covid-19, e tomou a agulhada na última semana. Toda ajuda é bem-vinda para massificar a importância de termos toda população vacinada.
Pena que a velocidade da chegada das doses seja bem menor do que a nossa ansiedade em tomá-las. Nessas horas, fico com inveja de outros países do mundo, que conseguiram enxergar a necessidade de investir em vacinas antes mesmo delas estarem completamente testadas. Ver jovens da minha idade ou até mais novos receberem doses, independente da nacionalidade, é algo que me corrói um pouco. Queria estar no lugar deles. Queria que as pessoas a minha volta também estivessem. Todos tomando vacina.
A imunização contra a Covid-19 anda a passos de tartaruga, porém ela nos concede um pouco de perspectiva positiva de que tudo isso vai passar. Queria também outras vacinas: contra o preconceito, contra a ignorância, contra essa forma escrota de ver o mundo em preto e branco, quando temos vários tons de cinza entre as duas cores. Mas talvez aí eu esteja esperançoso demais.
Este texto integra o comentário desta segunda-feira (22) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para a rádio A Tarde FM. O comentário pode ser acompanhado também nas principais plataformas de streaming: Spotify, Deezer, Apple Podcasts, Google Podcasts e TuneIn.