Rui lembrou da economia na pandemia; empresariado agradece

Demorou um ano de amarguras para a economia para que o governo da Bahia tomasse uma iniciativa mais concreta para tratar de contrapartidas para as medidas restritivas. No mesmo dia em que São Paulo anunciou apoios a empresas afetadas pela crise, o governador Rui Costa compartilhou até de maneira descompromissada um pacote similar. É uma ajuda extremamente tardia, porém necessária. Pena que a transparência não foi algo destacável neste anúncio. E será certamente ofuscado pela marqueteira ação de João Doria.

 

Já não é novidade que diversos setores da economia baiana foram duramente afetados pela pandemia. As empresas varejistas ganharam um prazo maior para pagar o ICMS nos meses de março e abril. É um sinal de que muito possivelmente as restrições vão se alongar por mais tempo, mas esse não é o tema desta coluna. Em agosto, os empresários quitarão esses débitos em três parcelas, junto com os recolhimentos dos respectivos meses. Tudo isso sem necessariamente termos vivido uma retomada econômica. É claro que o governo não poderia abrir mão da receita. Entretanto, foi uma medida aguardada demais para ser tão tímida.

 

Outro ponto que finalmente aconteceu foi a liberação de microcrédito do Desenbahia para microempreendedores formais e informais. Esse programa poderia ter sido ofertado há mais tempo, pois as áreas de produção, comércio ou prestação de serviços, que serão beneficiadas, estão esperando por algum tipo de contrapartida desde o início das medidas restritivas - há exatos 12 meses. Serão R$ 100 milhões, com parcelas e juros, em tese, mais baixos do que o mercado financeiro regular. Contando com a tradicional burocracia e as dificuldades para acesso ao banco de desenvolvimento local, resta-nos torcer para que os empresários consigam obter o crédito e não fique apenas na promessa.

 

Ao invés de falar diretamente aos setores interessados e à imprensa sobre o pacote de medidas, deixando espaço para eventuais dúvidas, Rui optou por fazer o anúncio numa edição extraordinária do “Papo Correria”, programa nas redes sociais que ele apresenta sem um padrão de dia e horário ao longo dos últimos anos. A forma de apresentar, inclusive, se assemelhou a um dos alvos preferenciais das críticas do governador baiano, o presidente Jair Bolsonaro. Tal qual o ocupante do Palácio do Planalto, que faz anúncios relevantes para a nação em um bate-papo com o “povo”, Rui trouxe um pacote tão importante como um pronunciamento público despreocupado. Se for a lógica de conversar diretamente com a população, talvez fosse bacana conversar com os potenciais beneficiários das medidas antes.

 

Apesar dos pesares e da demora, a iniciativa precisa ser celebrada. Já não era sem tempo o momento em que a Bahia daria algum tipo de benesse à economia já combalida pela interminável crise. Enquanto a União e até mesmo a prefeitura de Salvador tinham dado sinais de ajuda, só agora Rui resolveu tirar o escorpião do bolso do estado...

 

Este texto integra o comentário desta quinta-feira (17) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para a rádio A Tarde FM. O comentário pode ser acompanhado também nas principais plataformas de streaming: Spotify, Deezer, Apple Podcasts, Google Podcasts e TuneIn.