As mensagens apócrifas das eleições 2022

As eleições de 2022 ainda estão longe, porém o submundo das mensagens apócrifas já começou a atuar de maneira ativa. Enquanto alguns utilizam pessoas reais nas redes sociais para divulgar informações falsas, o artifício que começou a ganhar forma ao longo das últimas semanas foi enviar textos por números desconhecidos pelo WhatsApp. E as mentiras vão desde bilhões transferidos para o governo da Bahia enfrentar a pandemia até o suposto medo de ACM Neto em enfrentar Jaques Wagner, passando pela inócua campanha “Geddel livre”.

 

Os bilhões da Bahia tiveram uma origem específica. O presidente Jair Bolsonaro publicou no Twitter uma cifra de todas as transferências anuais para a Bahia como se tivessem sido recursos destinados ao enfrentamento da pandemia. Porém os valores já se multiplicaram e é possível ver em quase todas as publicações envolvendo o governador Rui Costa um comentário de um internauta perguntando “cadê o dinheiro”. Esse mecanismo não só é conhecido como já é identificado como um fenômeno capaz de influenciar rumos eleitorais. O governo estadual passou longe de receber esse montante bilionário, mas pouco importa para quem não está interessado na verdade dos fatos, apenas nas versões dessas “verdades”.

 

Após a decisão do ministro Edson Fachin que tornou elegível o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, um card simpático com a imagem do ex-ministro Geddel Vieira Lima trazia a mensagem que pedia a libertação dele. Não existe qualquer relação entre os processos e Geddel sequer está preso por uma decisão envolvendo a 13ª Vara Federal de Curitiba (PR), alvo do julgamento de incompetência fachiniana. Para quem conhece o contexto sobre a manutenção da prisão preventiva de Geddel enquanto não quita a multa aplicada pela Justiça Federal de Brasília, que o mantém em prisão domiciliar apenas por conta da Covid-19, é fácil identificar a falsidade da mensagem. No entanto, não espere isso da grande maioria da população, que faz uma associação entre Lula e Geddel como se fosse o mesmo caso.

 

O último disparo massivo apócrifo que recebi tratava ACM Neto como “peru”, citando o ex-governador Jaques Wagner como potencial adversário dele em 2022 e atacando Rui Costa, tratando-os como alvos de delações premiadas de ex-membros do governo. Em tese, a mensagem favoreceria ACM Neto, porém, de tão mal feita, acaba por colocar todos numa mesma vala comum. A política, por mais que se apresente como algo baixo, ainda não desceu ao nível proposto nesse texto. Caso seja um subterfúgio para o próximo pleito, todavia, veremos um verdadeiro massacre do bom senso entre adversários. 

 

O complexo desses episódios é mensurar os impactos no cidadão médio, sem acesso a informação adequada e que jura que o WhatsApp é mais real do que as publicações da imprensa. São esses baianos e baianas que precisam ser devidamente instruídos para não incorrermos nos erros do passado recente. Mas os políticos estão dispostos a fazê-lo?

 

Este texto integra o comentário desta quarta-feira (17) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para a rádio A Tarde FM. O comentário pode ser acompanhado também nas principais plataformas de streaming: Spotify, Deezer, Apple Podcasts, Google Podcasts e TuneIn.