Até que ponto vai o 'morra quem morrer' pra você?
por Fernando Duarte

A icônica expressão “morra quem morrer” parece fazer mais sentido neste momento da pandemia do que em julho, quando a proferiu o então prefeito de Itabuna, Fernando Gomes. Em meio à alta contínua do número de casos e de mortos - não nos enganemos com a oscilação para baixo nos últimos dias -, parte da sociedade escolheu banalizar a morte ao invés de admitir a gravidade do problema. É parte do circo de horrores que se tornou o convívio social no Brasil.
Morrer não é uma opção. É a única certeza da vida. Porém caminhamos a passos largos para permitir que mais gente acelere o processo de despedida do mundo. A possibilidade de falta de leitos de UTI é real. A possibilidade do sistema de saúde não dar conta da demanda do coronavírus, também. No entanto, parece que há outro tipo de morte já em curso entre os brasileiros: a do ser humano.
Basta ver as reações ao choro do governador Rui Costa, durante entrevista ao vivo na TV Bahia. Nas redes sociais, os adjetivos mais repetidos faziam referência a lágrimas falsas. Não que seja impossível fingir. Porém colocar em dúvida a emoção alheia virou rotina e nem se percebe o quão doloroso é minimizar o sentimento de quem quer que seja. Ainda que o outro esteja como adversário político. Rui pode não ser bem quisto por todos os baianos, mas a reeleição dele mostra que, para a maioria deles, o trabalho feito mereceu continuar. Todavia, para quem prega a morte pela morte, o governador não tem o direito de se emocionar.
Enquanto os ataques se centravam no próprio Rui e no prefeito de Salvador, Bruno Reis, por adotarem medidas restritivas para tentar conter o coronavírus, o país segue longe de encarar de frente e vencer a pandemia. Não temos perspectiva de vacina. Não temos perspectiva de unidade no enfrentamento da crise sanitária. Vivemos num contexto de expectativas políticas. Para cada vez que empurramos os problemas para debaixo do tapete ou acusamos os gestores de uso politiqueiro da crise, mais e mais brasileiros morrem. É a banalização da morte.
É vacina que precisamos? Que lutemos por vacina. É auxílio-emergencial que os brasileiros mais vulneráveis precisam? Que encampemos essa luta. É apoio para que a economia não morra de inanição por incompetência dos governantes? Que isso seja feito sem criar contrapartidas para dificultar o acesso ao benefício. O “morra quem morrer” não pode ser uma rotina. Até porque, se faltar leito de UTI para alguém que você ama, essa frase ganhará um significado completamente diferente.
O inimigo não é a população. É a pandemia. Precisamos ter isso em mente.
Este texto integra o comentário desta terça-feira (2) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para a rádio A Tarde FM. O comentário pode ser acompanhado também nas principais plataformas de streaming: Spotify, Deezer, Apple Podcasts, Google Podcasts e TuneIn.
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