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A reeleição é péssima, mas gestores reeleitos não são tão ruins

Por Fernando Duarte

A reeleição é péssima, mas gestores reeleitos não são tão ruins
Foto: André Carvalho / Ag. Haack / Bahia Notícias

O estatuto da reeleição foi muito ruim para a democracia. O próprio pai desse mal, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, já admitiu que não deveria ter proposto a alteração constitucional que permitiu um segundo mandato para o Executivo no Brasil. Os gestores quando assumem o cargo pela primeira vez não conseguem pensar em outra coisa que não seja a recondução ao posto. E o país acaba se tornando vítima reiteradas vezes desse problema. Porém cheguei na fase de não apenas lamentar esses erros. Admito que, reeleitos, temos políticos mais comprometidos com o bem público. Explico.

 

Na última sexta-feira (2), o presidente Jair Bolsonaro sugeriu que pode não tentar a reeleição. É mentira, mas tem quem acredite. Não é o meu caso. Foi assim com dois exemplos bem locais. Durante os respectivos primeiros mandatos, o prefeito ACM Neto e o governador Rui Costa fingiram bem que não estavam imbuídos em permanecer mais quatro anos nos cargos. Ainda assim, com a oportunidade em mãos, ambos estão na segunda etapa de gestões muito bem avaliadas pela população. E com reeleições plebiscitárias, que mostraram que os eleitores gostaram do que viram. 

 

São raros aqueles candidatos à reeleição que conseguem a proeza de perderem o pleito. Um misto de incompetência e o momento político podem justificar. Porém a máquina nas mãos é um fator extremamente relevante nesse processo. ACM Neto e Rui Costa fizeram bons usos e, agora, já não precisam se preocupar na própria perpetuação no poder. Isso os leva a uma condição pouco comum nos políticos brasileiros. Eles até almejam voos maiores, mas mantêm pés firmes no chão. A prova disso é a condução dada a Salvador e à Bahia durante a crise do novo coronavírus.

 

Caso o prefeito ou o governador estivessem em campanha pelas respectivas reeleições, é possível que eles se comportassem de maneira menos zelosa com as medidas restritivas que, até aqui, se mostraram úteis para evitar o colapso do sistema de saúde em terras baianas. Não vimos cenas do Inferno de Dante na capital ou no interior, ainda que os números tenham sido bem maiores do que qualquer um gostaria. São quase 7 mil vidas perdidas, com famílias e histórias que dificilmente serão facilmente superadas. Ainda assim, ter ACM Neto e Rui Costa nos seus segundos mandatos foi algo que permitiu ações duras, contrariando diversos interesses, sem o Grilo Falante da reeleição apertando as mentes dos dois.

 

Como diria Chico Buarque, “é sempre bom lembrar que um copo vazio está cheio de ar”. Não existe o mínimo de vontade política para pôr fim ao processo de reeleição no país. A qualquer sinal de poder, é natural que o homem queira ainda mais dele. Se é ponto pacífico que teremos que lidar com isso durante muito tempo, vamos avaliar o lado positivo de quando um gestor está reeleito. Pena que para chegar a esse ponto, seja preciso passar por um primeiro mandato que nem sempre vale o sacrifício.

 

Este texto integra o comentário desta segunda-feira (5) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para a rádio A Tarde FM. O comentário pode ser acompanhado também nas principais plataformas de streaming: Spotify, Deezer, Apple Podcasts, Google Podcasts e TuneIn.

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