Fernando Guerreiro define que polêmica de Claudia Leitte na Axé Music é “muito maior do que isso”
Tudo isso é muito maior que Claudia Leitte. É o que diz Fernando Guerreiro, presidente da Fundação Gregório de Matos, ao falar sobre as homenagens aos 40 anos do Axé Music. Em entrevista ao Bahia Notícias, o gestor cultural destaca que, para o ano que vem, as homenagens ao gênero musical que se tornou uma marca baiana devem perpassar pelos debates sobre a origem e fundamentos desse movimento.
“Eu acho importante que o Axé vire história, que o Axé vire depoimento, que a gente discuta o que é que o axé gerou, quem são os filhos, netos do axé. E essa relação agora com essa história de Cláudia [Leitte], que acabou virando história de Cláudia, mas é muito mais do que isso”, comenta. “Então já é um processo que já vem de um tempo, mas assim, qual é a relação dessa música com a cidade, com o [povo] preto? É a mesma coisa do bolinho de Jesus, vá pros infernos com negócio de bolinho de Jesus”, ressalta.
Guerreiro afirma ainda que todas essas mobilizações que provocam a ocultação das origens “negras” da cultura baiana são decorrentes de uma tentativa de apagamento. “Tem uma questão, são determinadas religiões - e eu não gosto de taxar de evangélico porque isso é um conceito totalmente equivocado - que tiram o símbolo. Vamos lá, uma igreja toda branca, com cadeira de plástico branca, sem imagem nenhuma, isso é zero símbolo. Zero símbolo é zero cultura, é zero patrimônio, essa igreja pode estar em qualquer lugar do mundo, que ela vai ser igual”, define.
“Então essa tendência da padronização gera o zero. Alguém vem a Salvador para ver uma igreja dessa? Não. Então, se Salvador começar a eliminar, como as trocas de palavras em música, vai virar nada. Salvador deixa de ser a cidade que é. Isso é uma grande sessão que tem que ser discutida. O axé deu uma marca para a cidade e o axé é preto”, conclui.
O gestor reitera ainda que a negritude é parte essencial da “marca Salvador”, presente na história, cultura e todas as artes decorrentes disso. “Não adianta, o preto é um elemento fundamental dentro da construção da música, do teatro, das artes plásticas da cidade de Salvador, então isso é uma coisa que não adianta querer tirar de tempo que não vai dar certo”, pontua.
“Aí vem as religiões de matriz africana, como berço de tudo isso. O samba junino nasceu onde? No terreiros, dentro das festas de candomblé, dentro das festas de caboclo”, completa.
Assista ao trecho da entrevista:
