Usamos cookies para personalizar e melhorar sua experiência em nosso site e aprimorar a oferta de anúncios para você. Visite nossa Política de Cookies para saber mais. Ao clicar em "aceitar" você concorda com o uso que fazemos dos cookies

Marca Bahia Notícias
Você está em:
/
Entrevistas

Entrevista

Salvador registra o maior volume de chuvas em fevereiro desde 2005, quatro vezes mais que o esperado

Por Sérgio Di Salles

Salvador registra o maior volume de chuvas em fevereiro desde 2005, quatro vezes mais que o esperado
Foto: Ascom / Codesal

As fortes chuvas que caíram na capital nos últimos dias deixaram não só a população, mas também a Defesa Civil de Salvador (Codesal) em estado de alerta. Com a “Operação Chuva” em curso, o órgão precisou se adaptar com um fator inesperado: fevereiro registrou um volume quatro vezes maior do que o esperado, totalizando 310 mm até esta segunda (26). 

 

Simulados de evacuação estão acontecendo em diversas regiões com maiores riscos. A primeira aconteceu ainda em janeiro, com moradores de Vila Picasso, na Capelinha, e Voluntários da Pátria, no Lobato. Já no último sábado (24), foi a vez da população de Cajazeiras passar pelo processo que prepara a comunidade para uma possível evacuação em períodos de chuva intensa. 

 

Segundo o superintendente da Defesa Civil de Salvador, Sosthenes Macêdo, o ano de 2024 foi histórico em relação ao volume de chuvas. Desde 1985, com exceção de 2005, não chove tanto na capital no mês de fevereiro. “Solicitei da nossa equipe do Centro de Monitoramento e Alerta da Defesa Civil de Salvador, CEMADEC, aos nossos meteorologistas estatísticos engenheiros que fizessem um estudo dos fenômenos que ocorreram em fevereiro que desdobraram nessa grande quantidade, de intensidade e acumulados pluviométricos durante todo mês e também um um paralelo em relação aos outros fevereiros dos outros anos anteriores, e o número é realmente muito significativo, de 1985 para 2024, apenas 2005 ultrapassa, o que já aconteceu até então nesse ano. Em 1998 chegamos a 310mm, 311 mm, e nenhum outro mês e olha que a gente não fechou o mês ainda nem um outro mês de fevereiro desde 1985, exceto 2005, isso ocorreu. Se você pegar de 2006 para cá, todos os anos foram muito aquém ao que nós tivemos neste período”, contou. 

 

FENÔMENOS

As intensas chuvas que caíram em fevereiro deste ano em Salvador foram ocasionadas por diversos fenômenos, como um corredor de ventos úmidos, que estavam preparados e programados para o início da semana passada, estes foram intensificados por um sistema de baixa pressão também na última terça-feira, o que trouxe em apenas duas horas em alguns bairros, cerca de 92mm, ou seja, quase a totalidade do que era esperado para todo mês em apenas 2 horas.

 

Surpresas também durante o Carnaval. Ainda na quinta-feira, foram 70mm, naquela oportunidade, em apenas uma hora no domingo de festa se repetiu outra oportunidade, com o mesmo fenômeno, o sistema de baixa pressão chamado de “Cavado” que intensifica essa chuva e a torna muito rigorosa e pouco espaço de tempo.

 

Na última terça-feira (20), foram registradas fortes chuvas com 92mm em algumas localidades, já na sexta (23), além do sistema de baixa pressão, além dos corredores de ventos úmidos, também tivemos a interferência do VCAN, que é um outro sistema que me traz muitas chuvas intensas para a cidade.

 

“Em 2020, foi o ano que mais choveu nos últimos 36 anos. 2021. 2022 e 2023 com a “La Ninha” influenciando aqui o nosso sistema, então com chuvas intensas durante todo o ano, e a gente esperava é claro, e as análises todas eram feitas para que do final de 2023 para 2024 nós tivéssemos um pouco mais de estabilidade, justamente por conta da presença do “El Ninho”, que estaria atuando aqui na nossa região. O que aconteceu é que no final de dezembro, nós tivemos chuvas e ventos fortes próximos ao natal, com rajadas de vento de 63 km por hora. Foram 44 árvores de grande porte que caíram na cidade. Por conta desses pontos de chuvas intensas em janeiro. Fevereiro veio apresentando aí esse cenário totalmente atípico e adverso do que era esperado. Nós temos um centro de monitoramento com meteorologistas, com estatísticos, são engenheiros civis e engenheiros eletricistas profissionais que vem aí militando nisso já há alguns anos. As nossas previsões sempre vem acertando e a gente observa também que até mesmo isso, nas nas últimas análises e avaliações, têm sistemas que têm formado com tamanha rapidez que só conseguimos enxergar em meia hora duas horas de antecedência perdendo um pouco da capacidade que tínhamos de fazer análise com um tempo de dilatação maior”, disse o superintentente.  

 

Na entrevista da semana ao Bahia Notícias, Sosthenes Macêdo falou sobre os diversos fatores que ocasionaram as fortes chuvas no mês de fevereiro, detalhou as ações de prevenção a desastres na capital e também falou sobre estudos e a “Operação Chuva”. Confira a entrevista completa:

 

 

A Codesal recebeu um registro de 26 ocorrências de ameaça de desabamento somente na última sexta. Quais são os bairros com maior risco atualmente e quais critérios são usados para classificar eles?

Seria injusto denominar um bairro específico, é muito democrático isso, principalmente naquelas áreas que infelizmente não são dotadas de construções, com a infraestrutura adequada, aquelas áreas em que as construções são feitas sem o acompanhamento de um profissional habilitado pelo Crea, sem engenheiro ou arquiteto, então o desabamento muitas vezes se dá porque foi construído no local que tem um talude que pode ter escorregamento e que não foi feito a fundação ou mesmo com o material inadequado, ou mesmo sem as quantidades e estruturas corretas para aquela execução. Então assim, existe isso em vários bairros da cidade, se você me perguntar, quais os bairros que nós aferimos, buscamos, analisamos que tem a maior preocupação por questões geológicas, aí sim, eu posso dizer que são os que contam com o sistema de alerta e alarme. Então são as localidades que são estudadas por nossas equipes da coordenação de mapeamento diário de risco, é e dessa forma nós instalamos um sistema de alarme com a finalidade de prever o que pode acontecer, o que é previsto no nosso protocolo, um acumulado de 150mm em até 72 horas, de tal forma que haja risco de escorregamento de terra, e isso não foi constituído à toa por achismo, mas sim por conta do nosso método municipal de redução de riscos que foi constituído e contratualizado com o IPT, que é um instituto sério de pesquisas técnicas lá de São Paulo. Temos como exemplo de localidades, o Alto da Terezinha, que fica no Subúrbio Ferroviário, na comunidade de Mamede, Mangabeira e Cajazeiras 8. Também Irmã Dulce, Cajazeiras onde nós realizaremos simulado de evacuação, fizemos por exemplo não só na Vila Picasso que fica na Capelinha de São Caetano, mas também na Voluntários da Pátria, que fica fica no Lobato. No sábado antes do Carnaval outro simulador de evacuação foi feito em 7 de Abril, Castelo Branco, Baixa do Cacau, enfim, diversas outras localidades, as quais a Codesal já instalou o sistema de alarme e outras mais que são aquelas que têm um risco geológico maior principalmente o Calabetão e aquelas que estão na falha geológica da cidade. Nós temos aqui em Salvador essa condição geotécnica da falha geológica que vai pro Corredor da Vitória até o Subúrbio Ferroviário, é a Cidade Alta e a Cidade Baixa, e óbvio as proximidade sobretudo da Liberdade, de São Caetano até o subúrbio, que nos chamam mais atenção e nos e gera a maior apreensão nesse período mais chuvoso.

 

Quando as famílias precisam deixar as suas moradias, por conta dos riscos de desabamento, são assistidas de que forma? O que a prefeitura oferece como garantia para que elas não fiquem desabrigadas nem desalojadas? 

Lá atrás, em 2015, quando Bruno Reis era o secretário de Promoção Social e a hoje vice-prefeita Ana Paula Matos era subsecretária, foi dotado o município de uma série de institutos jurídicos e sociais que garantem essa segurança para essa família. Então, naquela oportunidade, o auxílio aluguel que era de R$ 150,00 passou a R$ 300,00. Era de apenas três meses, hoje é durante o tempo em que o engenheiro identificar que tem risco, então se for de ficar no período chuvoso, ali permanecerá afastado durante o período chuvoso, se for por exemplo apontada a necessidade de demolição daquela casa, daquela edificação, porque ela não tem mais jeito, essa pessoa vai receber o benefício do aluguel social, até que ela receba uma nova unidade habitacional, e mesmo que seja emergência que se dá justamente na perda de bens materiais, como por exemplo de fogão, de cama e televisão, de 1 a 3 salários mínimos. Isso tudo é muito avançado, é uma vanguarda, e quando aconteceu por exemplo em 2021 aquelas fortes de chuva na Grande Recife em Pernambuco, o instrumento utilizado como parâmetro inclusive para alcançar esses objetivos sociais foi justamente essa legislação que o prefeito Bruno na época que era secretário e o então prefeito ACM Neto instituíram aqui na nossa capital, garantindo segurança para nossa população.

 

O senhor citou diversos bairros que possuem sistema de alarmes que alertam a população quando existe o risco de desabamento. Como funciona este protocolo? Quanto tempo uma família tem para deixar a sua moradia a partir do momento em que o alarme toca? Quais são os protocolos estabelecidos?

Nós temos uma série de protocolos com essa finalidade. Então é como eu disse, não é feito no achismo, nós temos os indicadores dentro do nosso plano preventivo e Defesa Civil, IPDT. Ao chegar a 80mm, a equipe de atenção já vão a campo, onde tem o sistema de alerta e alarme, já realiza uma avaliação de cenário que vai fazer uma observação, de geólogo, engenheiro civil, ambientais, vão dizer se houve mudança do cenário de algum vegetal, se alguma árvore inclinou, se uma árvore caiu, a casa rachou, ou seja, com as chuvas que caíram até aquele momento houve alguma mudança. Ao chegar a 120mm, nós já informamos a todos os órgãos secretarias do sistema municipal de proteção e Defesa Civil para que por exemplo, a Secretaria da Educação que é quem nos auxilia abrigando essas pessoas das escolas municipais, elas possam já deixar os seus diretores, porteiros e responsáveis pelas escolas preparados para uma eventual necessidade de recepção dessas famílias. Fora isso pode acontecer de dia no período ordinário das 8h às 17h, quando aquela unidade tem um funcionamento. Mas pode acontecer no fim de semana, no feriado, na madrugada, e dessa forma esse protocolo existe justamente com essa finalidade de garantir que aquela unidade escolar esteja apta para recepcionar aquela família da mesma forma que os colegas da Secretaria de Promoção Social, sabedores de que pode acontecer algo nesse sentido, já vão às escolas municipais dar assistência social para essas famílias, muito embora todas essas escolas antes mesmo das chuvas intensificarem por conta do decreto da “Operação Chuva” já alimentam as escolas com colchões, travesseiros, insumos de higiene para que na necessidade, as famílias ao chegar nesses locais já estejam aptas. Os colegas da Ordem Pública já ficam preparados para eventuais escorregamentos e retirada de material, as prefeituras bairros os sub-prefeitos já estão em campo realizando as vistorias… Perceba que é algo muito disciplinar, não é algo isolado, a Codesal coordena essa operação, ela faz uma coordenação geral dessa operação, é a coordenadora executiva instituída pelo decreto que o prefeito Bruno anualmente publica. 

 

Falamos de ações de prevenção e assistência, mas como estão as ocorrências de desabamentos na capital até aqui, após estas fortes chuvas?

Existe caso de desabamento e escorregamentos todos os dias. Escorregamento de terra e desabamento é uma rotina na nossa cidade, que não integral. Partes delas são como paredes, quando você observa, por exemplo, no domingo de carnaval, a gente na operação é claro, tava chovendo então tinha outras operações acontecendo em paralelo. Eu fui tomado por telefonemas de vocês da imprensa por conta de um soterramento que estaria por acontecer na região do Apache do Tororó, ao chegar no local, não havia soterramento algum, era um episódio já conhecido da Codesal, já notificado por nossas equipes, os moradores já orientados. Infelizmente de forma inadequada, talvez irresponsável, esse caso não era nem para moradia própria, o cidadão construiu para alugar algumas unidades habitacionais, construiu um prédio de três andares em cima de uma rede de drenagem que rompeu com esse peso, e com a quantidade de água da chuva, e simplesmente o prédio ficou em balanço, a imagem é muito forte, a imagem de uma coluna de um prédio, que foi construída com latas de tinta. Foram muito fortes, infelizmente nos deparamos com esse tipo de cenário a todo tempo. Ano passado, em janeiro eu me recordo que dia 8, 9, 10, uma casa, uma prédio de quatro andares na Federação também veio a romper enquanto estava terminando a cobertura, onde o proprietário estava também num prédio que era para locação, construindo o quarto andar com uma piscina e com jacuzzi naquela localidade, não tolerou, ele rompeu  e desceu. Foi a mão de Deus é não houve nenhuma morte, nenhuma pessoa é sofreu nenhum tipo de de ranhuras naquela naquela circunstância, por esse motivo que a gente faz um apelo para que as pessoas façam as construções com a técnica devida.