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Entrevista

Mário Dantas defende 'descriminalização' de diálogo entre público e privado e afasta 2022 - 22/07/2019

Por Maurício Leiro / Lucas Arraz

Mário Dantas defende 'descriminalização' de diálogo entre público e privado e afasta 2022 - 22/07/2019
Foto: Priscila Melo / Bahia Notícias

O novo presidente da bicentenária Associação Comercial da Bahia (ACB), o empresário Mário Dantas defende com afinco uma boa relação entre os setores público e privado. “O empresário responsável não pode se abster de construir um bom diálogo”, defendeu. Nos últimos tempos, uma série de investigações e crises de corrupção tornaram a relação mais distante de governos com empresas, um sinal de alerta para a sociedade. 

 

Entretanto, em entrevista ao Bahia Notícias após assumir o comando da ACB, o novo presidente disse que essa relação precisa ser retomada. O novo gestor da ACB, como boa parte dos empresários, aguarda uma resposta do Poder Público para equilibrar as contas do país por meio de reformas. “No momento em que você aprova a reforma da Previdência, você deixa as contas públicas muito mais próximas de um equilíbrio. Aí esse país ou essa empresa passa a ser financiável e receber investimentos”, falou. 

 

Ao defender o diálogo, o presidente também comentou que pretende intensificar os encontros e discussões entre empresários e políticos. Apesar da aproximação por meio de eventos com Rodrigo Maia, João Doria e ACM Neto, Dantas nega o viés eleitoral do diálogo para a sucessão de Jair Bolsonaro em 2022. 

 

”Um erro grande que a gente comete é quando se discute o presente, olhando as próximas eleições. Temos que nos abstrair das discussões das próximas eleições e focar no presente. O que é preciso fazer hoje para desenvolver as atividades empresariais e criar melhor os nossos filhos?”, comentou.

 

 

Em um universo de polarização política, em qual espectro está o novo presidente da Associação Comercial da Bahia entre a extrema direita e a extrema esquerda e entre o estatismo e o ultraliberalismo?
Essa é uma discussão que ficou no século passado. Hoje em dia a maioria dos governos se aproxima de ideias liberais para tocar a economia e com preocupações sociais em termos de cuidado com a população. Essa segregação entre direita e esquerda é algo que caiu com o Muro de Berlim. Atualmente existe uma convergência muito maior em que os princípios liberais são muito mais benéficos para qualquer economia. Todos os países que tiveram na sua história os ideais liberais para a gestão econômica, tiveram muito mais sucesso do que os países que se prenderam a ideais estatizantes ou a outros tipos de visão na gestão da economia. Efetivamente, os dois regimes que existiam no passado, muito mais extremados, se aproximam muito mais hoje em dia no consenso em torno da gestão econômica liberal com cuidados sociais.
 
Na posse o senhor garantiu que a associação irá procurar o poder público com soluções para os problemas do setor. Qual é a demanda mais geral hoje dos empresários da Bahia e como resolvê-la?
Nós temos uma cidade que tem uma vocação muito forte para o setor de serviços. Uma cidade que acompanha uma vocação natural do Nordeste do Brasil que, por questões climáticas, atende ao turismo de "sun, sand e sea" (sol, areia e mar) e muito mais. Você tem o turismo cultural muito forte. O turismo religioso, musical, de gastronomia. Temos apelos para a questão do turismo muito forte que podem ser explorados não só na capital, mas também em todo o Nordeste. O Brasil perde muito em não entender essa vocação turística do Nordeste e não procurar fazer uma política de desenvolvimento regional. Efetivamente, temos um problema de superpopulação em grandes metrópoles, com muita migração de nordestinos para capitais como Rio de Janeiro e São Paulo. Seria benéfico para os cidadãos dessas metrópoles, se você conseguir ter uma política de desenvolvimento regional que faça uma retenção da população nas suas cidades. A a possibilidade da liberação dos cassinos, por exemplo, não deveria ser perdida em termos de desenvolvimento regional.

A expectativa para a economia brasileira em 2019 continua em trajetória de queda indo da previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 0,85%, para 0,82%. Esta é a 19º redução seguida da projeção do PIB no ano. O que explica esse cenário? Um erro na expectativa do mercado financeiro ou a atual gestão econômica do país? 
Consigo ver uma volatilidade. No início do ano tivemos uma perspectiva muito positiva e depois começamos a observar uma certa tensão na relação entre o Executivo e o Legislativo. Observamos hoje o novo arranjo político institucional que tem o momento de exacerbação das independência dos poderes. Com as autonomias também se fazendo prevalecer. Talvez um momento que ilustre isso que eu estou querendo desenhar seja o café da manhã que aconteceu entre os líderes dos três poderes, provado pelo presidente do Supremo Tribunal Federal. É uma coisa absurdamente nova. A pauta do encontro foi a harmonia entre os poderes para permitir a aprovação das reformas que se fazem urgentemente necessárias no nosso país. Posto de lado um momento de tensão, ali no passado, hoje os agentes econômicos voltar a visualizar um cenário onde as reformas terão um espaço para serem aprovadas.
 


Foto: Priscila Melo / Bahia Notícias


Ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni disse que o Brasil acordará melhor que a Nova Zelândia e o Canadá quando a reforma da Previdência for aprovada. Como está o otimismo do senhor em relação ao potencial econômico da proposta?
Se você tiver que investir em uma empresa que você sabe que gasta muito mais do que tem de receita, você investiria nessa empresa? Certamente não. Essa era a situação do Brasil, que vai melhorar muito com a aprovação da reforma da Previdência. De longe ela é a reforma prioritária. No momento em que você aprova a reforma, você deixa as contas públicas muito mais próximas de um equilíbrio. Aí esse país ou essa empresa passa a ser financiável e receber investimentos. Estou muito otimista. Acredito que teremos boas surpresas no segundo semestre após a boa aprovação de uma boa reforma da Previdência e um encaminhamento de outras reformas, como a administrativa e a tributária.
 
A Bahia está entre os estados com menor arrecadação do país, mas mesmo assim investe em uma política de desonerações e isenções, como a feita recentemente para  o setor de aviação. Como o senhor avalia essa política de isenções e qual o risco delas para o bem-estar da saúde das contas públicas do estado?
Não me sinto capacitado para fazer comentários sobre a situação das contas públicas da Bahia, pois não conheço com a profundidade que precisaria para comentar. Mas, sem dúvidas, considero acertada a política de desoneração do combustível de aviação. Tenho convicção que o número absoluto que ela gera nos números da receita do estado não é significativo, mas o impacto na economia, como um todo, é muito significativo. A indústria do turismo é socialmente justa. Ela distribui renda na essência. Quando o turista vem, ganha o motorista do táxi, a baiana do acarajé, o vendedor da loja, o garçom, o dono do restaurante, o dono do hotel... O turismo é desenvolvimentista e gerador de empregos.
 
O acordo assinado entre União Europeia e o Mercosul nos termos em que foi assinado representa mais oportunidades ou riscos para o empresário baiano?
Esse acordo entre a União Europeia e o Mercosul vinha sendo negociado há muitos anos. Ele ficou meio que engavetado nos últimos anos, mas acho que toda a política de abertura ao comércio tende a ser positiva. É preciso apenas que tenha-se algumas atenções especiais com pontos específicos. Sem dúvida que ter a abertura só vai gerar mais competitividade. Se formos analisar a Zona Franca de Manaus, por exemplo. O quanto se gasta na zona franca? Efetivamente poderia se pegar esse recurso com as desonerações e aplicar em políticas de desenvolvimento regional, passando a comprar as televisões da China. Assim você teria um ganho de otimização da economia como um todo. Essa visão moderna da economia globalizada, da economia integrada, só vem trazendo frutos positivos. De uma maneira geral, o acordo é muito positivo, mas ele precisa ter uma atenção especial com a forma de sua implantação para que não se gere problemas pontuais com dificuldade de solução.
 
O Brasil registrou no primeiro trimestre deste ano a mais alta taxa de desemprego na história recente. São 13 milhões de desempregados. Nesse cenário, só a Bahia, tem 430 mil microempreendedores individuais (MEIs). O empreendedorismo pode ser um caminho para enfrentar a falta de oferta de emprego?
Nós precisamos incentivar muito o microempreendedor individual. Principalmente por meio da simplificação das obrigações tributárias. Hoje as empresas, principalmente as pequenas, têm dificuldade na burocracia da informação fiscal. Se passa a ter um contingente de pessoas que precisam ser contratadas para fornecer essas informações. A operação fica inviabilizada. Tem empresa que gasta mais com setor de pessoal de sua área contábil e fiscal do que o próprio valor do imposto que é pago. Isso gera um desequilíbrio que precisa ser consertado. Na hora que você faz isso, se motiva o microempreendedorismo. A simplificação das obrigações tributárias aliada a uma reforma trabalhista, que foi um grande avanço que modernizou o trabalho no país, é capaz de otimizar os microempreendedores, permitido que muitos profissionais liberais se tornem empreendedores de si. 
 
O campo empresarial, na tentativa de se organizar cada vez mais em espaços para debater políticas públicas e ter interlocução com o poder público, tem se aproximado a figuras do centro político como Rodrigo Maia, João Dória e ACM Neto. O senhor acredita que os empresários estão se arrumando para criar ou apontar para um ambiente político menos polarizado para as eleições de 2022?
Não consigo ainda enxergar um horizonte político para as eleições de 2022. Acho que temos que focar no hoje. Em uma boa interlocução com as forças políticas que agem hoje. O empresário responsável não pode se abster de construir um bom diálogo entre o público e o privado. Temos um passado recente que criminaliza o diálogo entre o público e o privado. Precisamos descriminalizar esse diálogo e promovê-lo. Promover um diálogo dos interesses mais legítimos e mais republicanos em torno do desenvolvimento do nosso país. Um erro grande que a gente comete é quando se discute o presente olhando as próximas eleições. Temos que se abstrair das discussões da próximas eleições e focar no presente. O que é preciso fazer hoje para desenvolver as atividades empresariais e criar melhor os nossos filhos?
 


Foto: Priscila Melo / Bahia Notícias

 
A desigualdade de renda no Brasil em 2019 atingiu patamar histórico e já é a maior registrada. É papel do empresário pensar e ajudar a resolver a distribuição de renda?

Efetivamente o melhor resultado de programa social que o Brasil pode ter é quanto o cidadão deixa o programa social e se emprega. Quando passa a estar na economia real. Consigo ver um dano em uma geração nas cidades de interior onde se tem pessoas sentadas fumando seu cigarro de palha, sem estar trabalhando. Os filhos desses cidadãos que estão assim. Qual é a lição que esses filhos estão levando? Os programas sociais são muito importantes, mas eles tinham que estar atrelados a programas de capacitação profissional. O programa de auxílio social, como as bolsas, dissociado de um programa de capacitação profissional, pode gerar fraude. O cidadão pode estar recebendo o benefício e estar trabalhando  no mercado informal. Se ele tivesse que estar se capacitando, ele poderia estar se preparando para termos uma economia muito mais produtiva.
 
Como o senhor espera que esteja a ACB após o seu mandato?
Não tenho esperança que tenha uma varinha mágica. Quero fazer o meu papel. Temos no Brasil ainda uma cultura muito presidencialista. Quero quebrar isso nessa gestão da ACB. Temos um time de 10 diretores que jogará como um time. E temos muitos braços e com esse braços poderemos fazer muito mais. Temos além dos diretores, a plenária e os membros do conselho superior e todos os associados. O pensamento é o que todos nós podemos fazer. Mas efetivamente não tenho pó de pirlimpimpim e mágico. vamos fazer uma boa representação comercial. Uma boa interlocução e procurar defender os interesses mais legítimos e mais própr poros dos empresários. Procurando gerar ambiente mais propício para os empresarios desenvolverem suas atividades e procurar atrair novos investimentos para a nossa cidade.