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Entrevista

Campanha de Rui mudou estratégia com possível derrota de Coronel, revela coordenador - 15/10/2018

Por Lucas Arraz / João Brandão

Campanha de Rui mudou estratégia com possível derrota de Coronel, revela coordenador - 15/10/2018
Foto: Priscila Melo / Bahia Notícias

Apesar de uma vitória contudente, o cooordenador da campanha do governador Rui Costa (PT) à reeleição, Jerônimo Rodrigues, revelou que alguns momentos repensou a estratégia após pesquisas demonstrarem que o postulante ao Senado do grupo governista Angelo Coronel (PSD) estava atrás de Irmão Lázaro (PSC) na disputa pelo Senado.

"As pesquisas influenciam bastante. A gente se preocupou. [...] A própria estratégia de pesar um pouco mais o diálogo de Wagner, colocando que não valeria a pena eleger só um, e só valeria a pena se fosse dois. O próprio discurso de Rui de que o Senado é uma casa que representa o Estado, então por tanto não era lugar de oposição ao governador. Isso fez com que a gente pesasse um pouco mais, tanto no marketing como nas presenças físicas que a gente fez na campanha", afirmou, em entrevista ao Bahia Notícias.

Ele também contou que "quando ocorreu a deliberação para recolher o material com nome de Lula como candidato a presidente, emitiu um documento oficial pedindo que os comitês não soltassem o material". "Mas era muito pouco. Tanto que o que pegaram, um caso ou outro, foi muito mais barulhento do que a realidade. Não houve modificação na estratégia em relação às mudanças", justificou.

O ex-secretário de Desenvolvimento Rural disse que agora nesse segundo turno, entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), vai trabalhar para tentar pegar votos baianos de Ciro Gomes (PDT), Marina Silva (PV) e até de Alckmin (PSDB).  "São votos que naturalmente não tendem a ir para Bolso... 17. Não é fácil resgatar esses votos. Até porque o antipetismo referenda muito que eles neutralizem ou fiquem como se levam as mãos de Pilatos", contou. Confira a entrevista completa:

 


 

A vitória de Rui Costa foi expressiva. Queria saber na sua avaliação se existiu alguma avaliação na estratégia da campanha que o senhor julga que auxiliou na vitória no domingo.

Primeiro a gente entende que eleição não se ganha ou se labuta em quatro meses. O governador Rui Costa vem fazendo um trabalho durante esses 3 anos e meio de governo que propiciou um lugar onde ele se encontrou. Ele visitou municípios, fez entregas, fez ações, visitou outras obras, teve contato corpo a corpo com os munícipes. Isso fez com que ele acumulasse presença politica determinante nas eleições. Fizemos campanha em dois tempos: teve um movimento muito na pré-campanha, com programa de governo participativo. Presença da chapa inteira, inclusive com pessoas como Otto Alencar, prefeitos da região. O programa de governo foi uma etapa muito importante. Consolidando para época da campanha, pelo curto tempo que tivemos, e poucos recursos, a gente estudou os municípios com maior densidade eleitoral, a gente partiu com caravana, dentro de ônibus. Visitamos 144 municípios. Tivemos um programa de televisão bastante leve, com muita riqueza de conteúdo. Isso fez com que a gente pudesse estabelecer uma estratégia que deu resultado para a gente.

 

Num ápice de antipetismo nacional, a campanha abraçou a candidatura de Luiz Inácio Lula da Lula e depois Fernando Haddad. Isso em algum momento foi questionado da base aliada, inclusive pelos partidos que compõe mais o azul?
O próprio João Leão e Otto Alencar, que representam a banda azul, eles foram os primeiros a falar em torno do nome de Lula. Então não houve qualquer tipo de resistência. É um grupo muito coeso, que se entende muito bem. O próprio [Jaques] Wagner e Rui equilibram isso. No sentido de garantir que as forças estivessem bem representadas. Não foi nada estratégico.

 

No início da campanha as pesquisas mostravam um outro cenário para Angelo Coronel, hoje eleito senador. As pesquisas influenciaram de alguma forma a propaganda de Wagner que passou a apresentar Angelo Coronel ou foi estratégia desde o início?
Desde as eleições anteriores que a gente sempre fez as dobradinhas. Nós utilizamos a mesma metodologia, da dobradinha, do feijão com arroz. Entendendo que o governador bem avaliado puxaria os dois. É claro que teve momento que a gente repensou a estratégia. As pesquisas influenciam bastante. A gente se preocupou. A própria estratégia de pesar um pouco mais o diálogo de Wagner, colocando que não valeria a pena eleger só um, e só valeria a pena se fosse dois. O próprio discurso de Rui de que o Senado é uma casa que representa o Estado, então portanto não era lugar de oposição ao governador. Isso fez com que a gente pesasse um pouco mais, tanto no marketing como nas presenças físicas que a gente fez na campanha.




O governador Rui Costa foi muito criticado por ter faltado a debates e fugindo de temas nos debates que participou. Como o senhor avalia essa estratégia?
Não houve uma estratégia de esvaziar debates. Ele deixou de ir a dois [na televisão]. Uma delas foi a morte um parente. E outro foi agenda de interior, que estava prevista desde o início. Não se trata de fuga de debate. A forma como enfrentou talvez não tenha agradado a oposição. Por exemplo, o tema da educação, é de responsabilidade do Estado, e ele informava o que ele fez e o que ia fazer. Tema da segurança pública, por exemplo, que se trata dessa forma, não é tema meramente de responsabilidade do Estado, da Federação. É responsabilidade do Estado, da Federação, do governo brasileiro. Toda vez que isso era exposto, as pessoas não aceitavam. Rui não é de fugir de tema não.

Por causa do indeferimento da candidatura de Lula, ocorreram diversas alterações nos programas. A imagem de Lula teve que ser coberta. Santinhos tiveram que ser recolhidos. A campanha estava preparada financeiramente mesmo com essas alterações?

Os recursos foram muito escassos. Saímos de uma campanha em 2014 com quase três ou quatro vez mais que fizemos em 2018. Isso foi dificuldade da Legislação e depois as pessoas resistiam botar um CNPJ e um CPF. Isso enfraqueceu a captação de recursos para a campanha. E depois essa coisa da Lava Jato repercutiu muito. As mudanças que aconteceram dos santinhos, da fotografia, a gente não fez material em escala que prejudicasse. Fizemos aos poucos. Quando ocorreu a deliberação para recolher o material, emitimos um documento oficial pedindo que os comitês não soltassem o material, mas era muito pouco. Tanto que o que pegaram, um caso ou outro, foi muito mais barulhento do que a realidade. Não houve modificação na estratégia em relação às mudanças.

Qual vai ser a estratégia nesse segundo turno para repetir a vitória de Rui, trazer votos para Haddad nessa disputa presidencial?
A Bahia tem 10 milhões de eleitores. Abstenção foi muito grande, mais de 20%. 3,5 milhões de pessoas não foram às urnas. Esse é um público temos que estudar. Qual a motivação e o que a gente pode resgatar desse número. Outros foram votos brancos e nulos, que também temos que trabalhar. E também são os votos dos outros candidatos, de Marina [Silva], de Ciro [Gomes], de [Geraldo] Alckmin. São votos que naturalmente não tendem a ir para Bolso... 17. Não é fácil resgatar esses votos. Até porque o antipetismo referenda muito o que eles neutralizem ou fiquem como se levam as mãos de Pilatos. Fortalecer aqueles que a gente saiu bem. Entrar com a agenda. Rui deverá reunir a gente para fazer uma agenda de interior do estado, junto com deputados eleitos e não eleitos, movimentos sociais, prefeitos.




 

Um levantamento do Bahia Notícias mostrou que as despesas da campanha estão se aproximando da arrecadação. Como está esse cenário para conseguir honrar com todas as dívidas de campanha?
O tempo todo a gente trabalhou... A gente desde o início milimetrando cada passo, cada agenda que a gente fez. Está sob controle. Não tem luz amarela. O que falta é muito pouco. Temos um mês para fechar a conta. Arrecadar um pouco mais para não deixar nada pendente.

Como coordenador da campanha, o senhor esteve na linha de frente entre os aliados. Isso de alguma forma criou um desgaste nas suas relações políticas?
Todas as decisões mais tensas eram tiradas de dentro de um núcleo político, com presidente do partido. Sentavam com governador e definiam grandes decisões. As contribuições que os deputados e partidos fizeram para que suas imagens fossem veiculadas e passassem na televisão. Teve um desgaste antes, mas depois de decidida eram mais a gente ficar perto para que o pagamento acontecesse. Não houve indisposição. Foi tudo muito bem planejado. Não tiveram tensões. Não tem como fazer omelete sem quebrar ovos. A gente conseguiu calmar as coisas.

Após decisão da Justiça, até mesmo no dia da eleição, leitores do Bahia Notícias encontraram santinhos com Lula candidato a presidência este ano. O que aconteceu na coordenação da campanha? Houve uma permissividade ou culpa de quem não seguiu orientação?

É muito difícil a gente controlar. São 417 municípios, fizemos um documento público. Enviamos para todos os candidatos. Fizemos reuniões para tratar disso. O jurídico tinha núcleo. Cada partido tinha uma representação de candidato. Para a gente é ruim. É sempre dor de cabeça que a polícia vai ao comitê do interior. Não é legal. Não queria que isso acontecesse. Aconteceram três ou quatro casos, mas foram os proporcionais que respondem por si, pois sabiam não era correto.

 

Esse ano, apesar da grande presença da internet, maior parte do dinheiro gasto com material impresso, rádio e TV. Por que essa escolha de não entrar com força nesse novo meio para fazer propaganda eleitoral?
A gente não tinha ainda uma avaliação firma de qual seria o impacto causado pelo uso das redes sociais. Não temos isso. TV temos. A internet oscilou bastante. Não tivemos a firmeza se impactaria no voto. Na disputa eleitoral a gente até que fez pelo WhatsApp, a gente tinha equipe fazendo isso, mas com muito pouco investimento. Realmente a gente não tem análise concreta. Na próxima eleições ainda teremos dúvidas sobre isso. O WhatsApp é uma ferramenta que carrega demais. As pessoas enviam sem fazer filtros, enviam dentro de uma mesma bolha. Perturbando os celulares de quem não gosta de receber, por isso a deliberação de investir em TV e Rádio.




Apesar de essa campanha no estado abraçar o vermelho, abraçar as candidaturas de Lula e Haddad, no último domingo o governador Rui Costa pregou um pouco de cuidado com a candidatura de Haddad. Dizendo que deve ser menos uma candidatura do PT e mais algo nacional. Enquanto o prefeito de Salvador disse que seria impossível desvincular a imagem de Haddad da de Lula. Para o senhor, qual é o melhor passo para campanha de Haddad?

O próprio Lula pediu para Haddad ficar a vontade. A inteligência de Lula mostra que não tem como. Marca forte do partido, com marca forte de Lula, mas também a desvinculação não é por medo, não por receio. É porque existem pessoas nesse segundo momento, nas alianças, precisam compreender que uma candidatura como essa é maior que o PT. Ela é maior que o próprio Lula. O próprio Rui Costa no discurso pregou muito isso. Assim que a gente estava acompanhando a apuração, ele ligou para Haddad e disse que tinha que reforçar, fazer campanha de unidade da nação, do país, mostrar que é maior que o PT. Acho que isso ajuda as pessoas a compreender. Foi assim no governo Lula, Dilma. É assim no governo Rui Costa. É uma candidatura suprapartidária. Tratamos aquilo que nos une.

O senhor foi exonerado a pedido da Secretaria de Desenvolvimento Rural para coordenar a campanha de Rui. Qual seu futuro?

Temos mais 20 dias de licença. Sou do quadro da Universidade Federal de Feira de Santana. Venceu o prazo na segunda. Solicitei mais 20 dias de licença. Depois do dia 29 é o governador. Não dialogou se retorno para secretaria, se há outro caminho. Já fiz meu papel de militante, de apoiador. Não fiz isso em função de querer crescer no governo. 

 

Mas o senhor tem desejo de voltar para a secretaria?

Desde a outra campanha que a gente coordenou a campanha de governo, a gente, na transição, qualquer lugar, ele disse onde for, não precisava ser secretaria, dentro de um projeto para eu continuar contribuindo. Onde ele achar que ajudo ele vai poder contar comigo. Se achar que não precisa, volto para universidade. Fico muito a vontade e deixo ele muito a vontade. Queria registrar aqui: em momento algum ele [Rui] não permitiu porta lateral. Na campanha ficou muito mais visível. Naturalmente vêm ofertas, a pessoa quer ajudar, mas não pode por meio legal. Em momento algum ele permitiu. É da história dele. Foi dito isso no conselho político. Ninguém estava autorizado pela porta dianteira. Em momento algum foi permitido que uma porta lateral fosse aberta.