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Entrevista

Com Setur envolvida em especulações, José Alves nega participar de conversas políticas - 30/04/2018

Por Rebeca Menezes / Guilherme Ferreira

Com Setur envolvida em especulações, José Alves nega participar de conversas políticas - 30/04/2018
Fotos: Priscila Melo / Bahia Notícias

Integrante do PR, o secretário estadual de Turismo, José Alves, nega participar de conversas políticas envolvendo a administração do governador Rui Costa. Informações recentes de bastidores dão conta que o seu partido tentou angariar mais espaço na gestão estadual, almejando inclusive a Bahiatursa, dirigida por Diogo Medrado. No entanto, em entrevista ao Bahia Notícias, Alves assegura que se manteve distante dessas conversas e, por isso, sua relação de amizade com Medrado. "A parte política...não é que eu não queira comentar, mas eu não tenho informações mais precisas para poder falar sobre esse tema. Esse tema ficou muito concentrado com o presidente do partido, o deputado federal José Carlos Araújo", afirmou. Segundo o titular da Setur, Araújo inclusive recomendou que ele não participasse das conversas políticas. "Às vezes a gente conversava e ele me dizia: 'Faça o seu trabalho, faça o que você tem que fazer, não pare nada, porque é política. Você ainda não entende disso'", lembrou Alves. Ao Bahia Notícias, ele inclusive reclamou da "politização do turismo". Na avaliação dele, algumas ações da prefeitura de Salvador no setor são mais valorizadas do que deveriam, enquanto atividades do governo do estado mereciam mais destaque. "A prefeitura faz hoje alguma ação que não demandou às vezes nem muito recursos e é um estardalhaço. Isso que deixa incomodado, mas não tenho problema com ninguém", admitiu o secretário. Em relação às atividades da Setur, Alves destacou a divulgação da Bahia e a atração de voos como dois dos principais desafios para alavancar o turismo no estado. Segundo ele, o governo ainda está analisando em quais cidades deve apoiar a festa de São João no interior. Contudo, a capital baiana também deve ganhar uma atenção diferente este ano. "Aqui em Salvador a gente acha que poderia dar uma incrementada, já que o São João cai em um fim de semana, de sábado para domingo, então muita gente não vai viajar", explicou. Leia abaixo a entrevista completa.

 

Você já está há quase dois anos na pasta. Qual foi o maior desafio durante esses dois anos?
A Bahia estava merecendo mais atenção em alguns fatores. O primeiro deles é divulgação. Nós começamos a fazer um trabalho juntamente com a Bahiatursa de estar presente em todas as feiras nacionais e internacionais. Ano passado foram 65 feiras e esse ano são 50. Nós apostamos em todas as feiras e naquelas que deram melhor resultado estamos repetindo. Quando há um choque de datas, a gente opta pelas melhores. Então não é uma redução, é uma otimização dos recursos para participar das melhores feiras. Outro fator importantíssimo é em relação aos voos. Nós estávamos com um decréscimo de voos vindo pra Bahia como um todo em função da desatualização do ICMS. O governador foi muito sensível ao assunto e determinou que fizéssemos um estudo com Manoel Vitório, da secretaria da Fazenda. Nós então fizemos um decreto para fazer a redução do ICMS, desde que a gente obtivesse voos não somente nacionais, mas também internacionais. E isso começou a acontecer. Por dois meses consecutivos, em janeiro e fevereiro, nós tivemos um melhor movimento de embarques e desembarques em Salvador e com possibilidade de crescimento real. A gente vai ter um bom acesso não somente para trazer turistas pra cá, porque também temos que pensar em quem está aqui. A gente está fazendo um trabalho de prospecção, mas o avião tem duas pernas: ida e volta. Então o baiano também tem, literalmente, que comprar a ideia de comprar a passagem e viajar. Outro desafio muito grande é o Prodetur. Quando a gente chegou na secretaria em julho de 2016, nós assinamos o contrato com a gerenciadora. É importante que o leitor entenda que banco só trabalha fazendo a interface com uma gerenciadora, uma empresa contratada para fazer a interface entre o Estado e o banco. Esse contrato teve que ser assinado, em dezembro fui a Washington para prospectar um evento e para conversar com o BID. Nessa reunião com o BID eles apostaram na gente, acharam que a gente estava com outro perfil de gestão para avançar no programa. Faltava fazer uma série de estudos e a gente realmente teve que fazer esses estudos porque é pré-requisito.

 

Foi pra isso que serviram aqueles estudos de demanda e de roteirização da Baía de Todos os Santos?
Agora estamos na roteirização. Quando você faz isso, você devolve para a secretaria, a secretaria estuda, fala com a gerenciadora, troca ideia e manda pro banco. Aí o banco tem que mandar a 'não objeção', que significa que você pode continuar a fazer o trabalho. O Prodetur tem sido um desafio muito grande, mas o próprio banco nos parabenizou no ano passado falando que a gente avançou muito em 2017. A gente conseguiu concluir esses estudos todos, todas essas etapas burocráticas que a gente não percebe. Agora a gente tem um prazo estimado entre 60 e 90 dias para começar a fazer as licitações das obras. Espero entregar isso para o governador, é uma missão que o governador Rui Costa nos passou. É um programa interessantíssimo porque vai mexer com o turismo náutico, um turismo que demanda muita circulação de renda e que atrai um público com poder aquisitivo muito alto. Você vai ter uma infraestrutura ainda não vista em Salvador. Uma marina que possa atender a uma demanda reprimida muito grande de lanchas e barcos que as pessoas não compram porque não têm onde deixar. Existe dificuldade de comprar peças, de ter marinheiros...tudo isso é uma economia latente. Nós temos a maior baía navegável do mundo. A gente tem avançado e acredito que em no máximo 60 ou 90 dias a gente já começa a tocar a obra.

 

Tem alguma previsão de quanto vai ser esse investimento do Prodetur?
O número global é de 85 milhões de dólares, sendo que aproximadamente 35 milhões de dólares são em contrapartida do estado. Nós estamos pedindo um aditivo de prazo para executar. Talvez esse ano eu não consiga executar todos esses milhões de dólares, mas a gente vai avançar bastante. Quanto eu falo executar o valor é a obra entregue. A gente vai ter um aditivo de prazo aí para, se Deus quiser, esgotar esses recursos.

 

Esse aditivo de prazo pede mais quanto tempo?
A gente ainda está discutindo com o banco para definir qual prazo a gente vai ter. Deve sair nos próximos dias essa definição.

 

Um outro problema que durou um certo tempo foi o aeroporto de Salvador, que passou recentemente para a Vinci. A Setur está acompanhando a administração da Vinci? Já é possível notar melhorias?
Já. A gente está acompanhando de perto isso. Já tivemos uma reunião com o Júlio Ribas, que é o presidente deles aqui na Bahia e eles nos apresentou já o projeto. Apesar que esse passivo não é nosso, nós ficamos só observando. Isso aí é uma relação entre o governo federal e a concessionária e quem regulamenta eles é a Anac [Agência Nacional de Aviação Civil]. Eles têm um prazo até outubro de 2019. Se eles não entregarem até lá o que foi prometido na licitação, eles têm uma multa a pagar. Esse é um compromisso que eles têm com a Anac. O que nós estamos fazendo com eles? Ajudando eles no que for preciso, apoiando, e, claro, aproveitando para fiscalizar. É importante dizer também que perdemos espaços nos voos porque não tínhamos um aeroporto adequado. Quando eu cheguei no governo, o aeroporto estava em processo de decadência. Não podiam ser feitos mais investimentos porque já ele estava sendo licitado. Saiu a licitação em de 2017 e aí a gente começou a avançar.

 

Você era presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav) antes de assumir a secretaria. O que foi que você não conseguia enxergar enquanto presidente da Abav que você percebeu enquanto secretário?
A PGE [Procuradoria-Geral do Estado] (risos). A Procuradoria-Geral nos auxilia bastante para a gente não cair no erro de querer fazer muita coisa sem ter a orientação e as normas que a lei estadual determina. A PGE na verdade chama atenção, mas é o Tribunal de Contas do Estado (TCE) que está em cima da gente e cobra planejamento. Eu não entendia porque às vezes eu chegava com um projeto mirabolante para o secretário que estava e eles me diziam que não dava pra fazer e eu pensava: 'Pô, esse cara não quer fazer'. Mas não é bem assim. É porque realmente tem normas a seguir e essas normas são bem rigorosas e o que está lá é meu CPF. Então se eu não faço de acordo, após eu sair do governo eu vou ter problemas na pessoa física.

 

Essa experiência anterior na vida privada te ajudou a conversar com o setor turístico ou ainda é difícil para quem está de fora entender?
Houve uma politização do turismo. Inclusive meu amigo, Cláudio Tinoco [secretário municipal de Cultura e Turismo], quando eu estava presidente da Abav, conseguiu pra mim em votação na Câmara a condição da Abav ser uma associação de utilidade pública. Isso vale muito pra uma associação. Nós sempre fomos muito próximos e quando eu estava presidente da Abav eu buscava ser bastante justo em minhas colocação e não tendencioso para política. Sempre tive minhas preferências políticas, mas nunca externava porque estava dirigindo uma associação que é para todos. O que me incomoda hoje são algumas associações politizarem e tudo que o estado faz não presta. A prefeitura faz um pouquinho e é o máximo. Vou te dar um exemplo: nós conseguimos vários voos. Aí  os comentários de grupos de WhatsApp eram: 'Agora chegaram esses voos? Podiam ter chegado antes'. O parabéns não existe. Mas a gente nunca fez nada para receber parabéns. E a prefeitura faz hoje alguma ação que não demandou às vezes nem muito recurso - pra trazer esses voos todos houve uma renúncia fiscal grande - e é um estardalhaço. Isso que deixa incomodado, mas não tenho problema com ninguém. Não tenho inimigos, graças à Deus. Eu tenho tranquilidade para conversar com eles porque já estive do lado deles fazendo negócios. O que me ajudou também muito da época da agência de viagens foi o contato que eu sempre tive com os diretores de companhias aéreas. Sempre foram meus parceiros: TAP, AirEuropa, Latam, Gol...conheço do presidente ao gerente comercial. Eu conheci todos eles. Então no momento em que passei a estar secretário a conversa é mais fácil, já sei o que eles precisam.

 

Você disse que tenta evitar uma postura muito politizada ao tratar sobre o turismo. Mas, querendo ou não, você é uma indicação política para a Setur. Surgiram alguns rumores desse processo para a eleição de 2018 que o partido que você representa queria também a Bahiatursa. Isso causou um estremecimento com Diogo Medrado?
Diogo é um amigo que construí desde a época que eu era agente de viagens. Eu respeito muito ele e ele procura me respeitar. A parte política...não é que eu não queira comentar, mas eu não tenho informações mais precisas para poder falar sobre esse tema. Esse tema ficou muito concentrado com o presidente do partido, o deputado federal José Carlos Araújo, que conduz muito bem o partido. Às vezes a gente conversava e ele me dizia: 'Faça o seu trabalho, faça o que você tem que fazer, não pare nada, porque é política. Você ainda não entende disso'. É cada macaco no seu galho e eu em momento nenhum procurei me envolver com isso. Por isso que não tive problema nenhum com Diogo. Hora nenhuma você me ouviu falar que eu queria a Bahiatursa. É uma posição do partido.

 

Quais são os planos da secretaria para o São João. Neste ano vai ter Copa do Mundo, então vai ter alguma coisa especial?
Essas questões do São João e do Carnaval a gente despacha diretamente com o governador. Todas essas festas maiores, a gente senta com a Bahiatursa e com a Serin [Secretaria de Relações Institucionais] para definir os municípios onde a gente vai fazer. O governador tem uma linha de raciocínio que eu acho muito plausível. Ele quer fazer os municípios que são tradicionais de São João. Não adianta chegar lá um município que resolveu fazer São João a partir deste ano. Ele não concorda. Carnaval e Réveillon é a mesma coisa. No São João a gente deve fazer muitos municípios do interior. Aqui em Salvador a gente acha que poderia dar uma incrementada, já que o São João cai em um fim de semana, de sábado para domingo, então muita gente não vai viajar. Mas os lugares de Salvador ainda vão passar pelo crivo dele para poder fazer. Além disso, vai ter um evento no Parque de Exposições que nós vamos participar, que é o Arraiá do Galinho. A gente já patrocina, mas esse ano a gente vai dar uma dinamizada para atrair o público, mostrando que tem festas na cidade. E mesmo sendo de sábado para domingo, a gente acredita que pode ter uma circulação muito boa de pessoas pelo interior também. Além disso, a gente vai fazer a promoção de produtos novos como a Estrada do Chocolate, a primeira estrada temática da Bahia. Ela tem locais de atendimento ao turista ao longo da estrada, entre Ilhéus e Uruçuca, e a gente vai lançar selos para fazendas de acordo com o serviço que ela presta, como hospedagem ou capelas para casamentos ou batizados. E outra novidade é a Estrada Real. Ela liga Rio de Contas a Jacobina, é onde passavam todos os minérios e pedras coloniais e nós vamos sinalizar ela toda.