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Entrevista

Fernando Ferrero lista legado que será deixado pelo governo Wagner na área do turismo - 05/03/2014

Por Marília Moreira / Lucas Cunha

Fernando Ferrero lista legado que será deixado pelo governo Wagner na área do turismo - 05/03/2014
Fotos: Bahia Notícias
Antes de assumir a presidência da Bahiatursa em janeiro, junto com Pedro Galvão, que se tornou secretário de Turismo do Estado, Fernando Ferrero era diretor, desde 2009, de Relações Nacionais na empresa de economia mista, responsável, entre outras atribuições, pela promoção da Bahia como destino turístico nacional e internacionalmente. O economista, graduado pela Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) de São Paulo, ocupa o lugar de Domingos Leonelli (PSB), que acumulava o cargo com a titularidade da pasta. Ferrero já foi também presidente do Salvador da Bahia Convention Bureau (SBCB) e da Emtursa (atual Saltur) durante a gestão de João Henrique, em 2007. À sua experiência no âmbito municipal, Ferrero teceu várias críticas. “Eu não tinha dinheiro nem para viajar, nem para comprar uma passagem aérea”, relatou. Na nova missão, a meses da sucessão estadual, não tem ambições de, junto a Galvão, trazer grandes novidades à gestão do turismo no estado. “Não temos nada a mudar agora, somente fortalecer o que foi feito”, ressaltou. Na entrevista ao Bahia Notícias, Ferrero falou sobre a preparação para a Copa do Mundo FIFA 2014 e para o São João, sobre o posicionamento da capital nas vendas do setor – “Salvador ficou no abandono total durante oito anos” – e sobre o legado que será deixado pelo governo Wagner na área do turismo. 
 

Bahia Notícias - O cargo era de Domingos Leonelli e acabou dividido em dois. Como foi feita essa divisão e como isso se dá no dia a dia, na delegação das atividades?
 
Fernando Ferrero - Na verdade, não é que o cargo dele se dividiu em dois, ele é que acumulava os dois cargos. Sempre teve o secretário [de Turismo] e sempre teve o presidente da Bahiatursa, e ele resolveu nesse período acumular os dois cargos. O volume de trabalho é muito grande, eu acho que a melhor forma é cada um fazendo seu papel. A secretaria fazendo o dela, que é fomentar a política de turismo do estado, a parte de capacitação, de investimentos, a Lei Geral do Turismo. Tem uma série de nuances que estão ligadas a atividade da secretaria. E cabe à Bahiatursa a promoção do turismo, trazer turistas para cá e vender a Bahia para fora, nacional e internacionalmente. São papéis totalmente diferentes, cada um faz sua atividade, mas claro que isso acaba se juntando e trazendo benefícios para o estado.
 
BN - Como vocês tem vendido a Bahia, neste sentido? Há alguma mudança substancial?
 
FF - Nesse momento, não geramos nenhuma diferença em relação ao trabalho que vinha sendo feito. O trabalho é uma continuação do governo Wagner. Eu já era diretor lá há cinco anos, estou na Bahiatursa desde 2009, na diretoria de Relações Nacionais.
 
BN - Mas agora você está na linha de frente e vai estar em um período crucial, talvez um dos mais importantes para o turismo na Bahia, que é a Copa do Mundo. Participando agora, será quem vai estar no comando nesse momento tão fundamental. O que se pode esperar desse ano?
 
FF - São dez meses de trabalho, até o final do mandato do governador Jaques Wagner. O nosso trabalho é fazer o mais bem feito possível. O que tinha que se pensar para fazer para Copa do Mundo já foi pensado, não tem que inventar mais nada. Já foram feitos todos os cursos de qualificação, com vários segmentos: táxis, hotéis, restaurantes, locadora de veículos. Foram preparados vários cursos de idiomas, para várias categorias. Também através da secretaria, o serviço de guias e monitores, que vai ajudar no receptivo que a Bahiatursa já faz, que são os postos de informação. Esses guias vão trabalhar durante a Copa, vão fortalecer a informação, os pontos de aglomeração dos turistas, como hotéis, rodoviária, aeroporto. Então, vamos ter que trabalhar juntos porque, além da Copa, vamos ter o São João; então são dois eventos acontecendo simultaneamente na Bahia. É uma oportunidade que nós vamos ter de mostrar o São João a esses turistas, que virão para a Copa do Mundo, mostrando o que é essa festa. Quando a gente sai para vender a Bahia como destino, eu falo para as pessoas que a maior festa nossa não é o Carnaval, é o São João.  E fica todo mundo intrigado: como é o São João? É a maior festa da Bahia, que acontece no estado inteiro, 417 municípios fazendo sua festa. Temos pesquisa disto, vende-se seis vezes mais cerveja do que no Carnaval de Salvador. Movimenta a economia toda, desde a gastronomia, a questão dos derivados do milho, do amendoim, vestuário, calçados, toda essa cadeia produtiva que mexe com o São João, além da indústria dos artistas. O forró, a movimentação dos forrozeiros, que não precisam sair mais da Bahia, porque hoje eles tocam aqui mesmo.
 
BN - O senhor falou da capacitação para a Copa. Desde dezembro, nós sabemos quais serão os jogos, fora oitavas e quartas de finais, que vamos receber aqui em Salvador. Está sendo feito algum trabalho específico para os países que vamos receber aqui e que nesse momento serão as mairoes comitivas que virão para cá, como Espanha, Holanda e Portugal?
 
FF - O governo criou a Secopa, uma secretaria só para cuidar dos assuntos da Copa. O acompanhamento dessas seleções está sendo feito pela Secopa, tem uma equipe que acompanha o passo a passo dessas seleções. Por exemplo, as da Alemanha e da Suíça ficarão sediadas em Porto Seguro. Lá está sendo construído um centro de treinamento só para eles. Eles vão ficar treinando lá e isso vai ficar de legado para a cidade poder usar em outras coisas, parece que vai virar um hotel depois, tem toda uma história em cima disso.
 
BN - E especificamente para os turistas? Por exemplo, o primeiro jogo é Espanha e Holanda. Qual a estratégia para captar esses torcedores?
 
FF - Por isso que eu digo que este ano a gente não vai ficar inventando nada. Durante todo o ano passado, foi feito um trabalho de promoção do Brasil no exterior, em parceria com a própria Embratur, que já avisava. Tinha um programa da Embratur, o Motion Brasil, era específico para as seleções que vão participar da Copa do Mundo aqui. As que a gente sabia que iam participar, que as pessoas viriam para cá e tinha algum potencial – ou para aqueles também que a gente sabia que se interessavam, por exemplo, a Itália, é o maior emissor de turistas para o Brasil. A França é um grande emissor, a Espanha. Estamos sempre direcionados aos países que tem voo direto para Salvador, que não precisam passar em São Paulo, no Rio. Então hoje você tem Alemanha com voo direto; Portugal, através da TAP, a Europa, de Madri, Estados Unidos, pela American Airlines. São várias companhias fazendo voo direto, isso facilita muito a vida da gente. Foi feito um trabalho de parceria com a Bahiatursa e a Secopa de divulgação da Bahia no exterior, junto com a Embratur. Esse trabalho já foi feito, já foi direcionado, já foi entregue material para operadores de turismo no exterior,  vendendo a Bahia, mostrando o que tem aqui. As delegações que queiram ficar em São Paulo, no Rio, também mostramos material, se quiserem passear na Bahia.
 
BN - Vamos focar na questão de receptivo. Por exemplo, receber a Holanda e a Alemanha, já se sabe que apesar desses programas de capacitação, há alguns problemas. No aeroporto internacional de Salvador, coma  chegada de turistas, não sabemos se há um número suficiente de pessoas que falem inglês ou espanhol. A Alemanha, a França, são seleções muito fortes e muitos torcedores alemães, franceses vem para cá. Há algo específico para eles ou é um projeto maior, sem direcionar neste momento da Copa?
 
FF - Você precisa direcionar essa pergunta para a Secopa...

 

 
 
BN - Mesmo nessa parte de turismo?
 
FF - Na parte de receptivo, a gente já tá fazendo esse projeto de guias e monitores, esse é o grande projeto da Bahiatursa, que é de receber esses turistas que vão chegar. Vamos receber nos aeroportos, na costa – o México vai mandar um navio que vai vir para cá, com 3 mil mexicanos, que vão parar em Salvador e ficar aí por alguns dias. Então a gente está monitorando essas delegações que vão vir para cá. Vou repetir: quem está monitorando não é a Bahiatursa, é a Secopa. Ela é quem está imbuída, junto com a Macht, com a FIFA, de organizar a Copa do Mundo. Fazemos este trabalho em parceria com ela, analisa as demandas e vai direcionar esses guias e monitores para as demandas específicas que vão aparecer. Temos guias falando todo tipo de idioma, inglês, alemão, francês, italiano... Então a necessidade que for aparecendo, a gente vai encaminhar esses guias, claro.
 
BN - Então o senhor acredita que não haverá problema com a chegada desses torcedores desses países? Primeiro o posto de informações do aeroporto...
 
FF - Esse posto de informações do aeroporto, a Rede Globo fez até uma matéria, vocês devem ter acompanhado, há questão de dois meses atrás, e Salvador foi uma dos que menos apresentou problema, praticamente não apresentou problema, foi super elogiado pela equipe da Globo. Foram os jornalistas que fizeram [a reportagem], foram em todos os aeroportos das cidades-sede da Copa do Mundo e Salvador passou, sim e foi super elogiada. Eles não tiveram problema nenhum: chegaram falando inglês, foram atendidos; depois chegou uma menina falando espanhol, foi super bem atendida também; funcionou tudo, porque a informação foi dada a tempo. Então acho que nós estamos super bem preparados, a equipe é treinada, é um serviço que a gente faz contínuo da Bahiatursa esse, não é um serviço que começamos a fazer agora. Nós estamos no aeroporto, na rodoviária, no Pelourinho; então é um trabalho que é feito direto. No Carnaval e no São João nós colocamos todo ano, duas vezes a gente dá esse reforço nesse receptivo. Nos postos vai ser feito um atendimento especial, uma equipe mais reforçada, que vai ficar atendendo com aquele Rixô Elétrico, aquele carinho que parece uma bicicleta, que vai tocando marchinhas; as baianas à careater e os guias também dando atendimento aos turistas que chegam de navio. Você já sabem de onde vem o navio,  tudo direitinho, então já direciona o guia, se precisar dar atendimento em alguma linha específica.
 
BN - A prefeitura anunciou na semana passada que a quarta-feira já é um dia oficial, com o novo circuito Sérgio Bezerra. Já vão ser abertos os sanitários químicos... Essa ideia de estender – a gente sempre tem essa megalomania de dizer que é o maior Carnaval em número de dias e  de atrações – e entram aí, talvez, mais turistas antes dos dias mais badalados, que são domingo, segunda e terça. É uma preocupação da Bahiatursa também, fazer essa divulgação para o público externo? Pessoas que passem antes em Recife, por exemplo, que aproveitem para vir conhecer o Carnaval de Salvador?
 
FF - Esse novo circuito que foi criado é super interessante, porque é diferente. Gostei muito desse intuito, acho que são 40 bandas de sopro que saem lá, valorizando as marchinhas antigas de Carnaval. Você passa por ali, é super agradável, um pessoal é “família”, todo mundo brincando, conversando, batendo papo. Um circuito totalmente diferente do trio elétrico, do que é o Carnaval mesmo, da quinta, sexta, sábado, que começa ali na Barra. Eu acho que é supervalorizado, o próprio Rio de Janeiro está investindo nesse carnaval, nas bandinhas de sopro. Aconteceu ontem, ou foi anteontem, esse carnaval do Rio. Eles também começaram, já tem uns três anos, a investir nesse carnaval. É legal, porque você leva um público diferente, não é aquele público do trio elétrico, é totalmente diferente. E não é hoje não[o novo circuito], viu, desde sexta-feira tem gente lá (risos). Eu fui lá, estava lá. Acho super válido, como acho também válido, este ano, o carnaval de bairro. Nós [a Bahiatursa] estamos apoiando, repassando convênio para a prefeitura de R$ 1 milhão, apoiando a estrutura; estamos contratando mais de 80 bandas pequenas, que vão tocar nesses carnavais, são sete bairros que vão ter o carnaval. Acho super válido fomentar que as pessoas fiquem no seu bairro, principalmente os mais idosos, as crianças, o pessoal que não pode ir para a avenida mesmo ou que não tem condições de mobilidade. Então fique no seu bairro! Você desafoga a avenida, gera menos confusão e faz aquele carnaval mais tranquilo. Não é aquele de trio, aquela grandiosidade, mas é uma festa mais sossegada, onde todo mundo se conhece. Isso resgata também a tradição antiga, os bairros sempre tiveram carnaval, mas isso foi se acabando, se acabando... Acho super interessante voltar a fazer isso aí.
 
BN - O senhor deve ter visto uma pesquisa que saiu essa semana de um site de viagens, que acabou indicando a Bahia como o destino mais caro entre as cidades do Carnaval. E questionou até um pouco como foi feita essa pesquisa, mas queríamos falar disso, até relacionado à Copa. Tanto o Mundial quanto o Carnaval são períodos com uma grande demanda e até acabam aumentando os preços por isso. Mas será que isso pode acabar passando para os turistas a imagem de que Salvador é uma cidade cara? Vocês estão se preocupando com isso, em relação ao Carnaval e à Copa?
 
FF - Olha, aquela pesquisa me pareceu encomendada, para mostrar Recife como um destino bom para se passar o Carnaval. Aquilo tem cara de encomenda, primeiro porque o carnaval de Salvador é muito diferente do de Recife. Então eles incluem na pesquisa o que você vai gastar no carnaval de lá. Quem trabalha em hotelaria, em turismo, sabe que a hotelaria de Recife é muito mais cara do que Salvador. Todo mundo sabe disso. Ali aparece mais barata. Talvez eles tenham feito a pesquisa aqui em hotel cinco estrelas e lá em hotel de rodoviária. Não se sabe se eles fizeram em hotel cinco, quatro estrelas... Eu vou direto a Recife e sei que os hotéis de lá são muito mais caros, eu tenho essa noção de preço. Outro item colocado para calcular foi o preço do camarote. Recife não tem camarote, então não isso não foi levado em conta. Aí você pega e coloca na pesquisa o preço de um Camarote Salvador, que custa mil reais por dia. Claro! Se você inclui o preço de um camarote, o dia de viagem vai lá pra cima! Então o parâmetro foi errado, o parâmetro de comparação aí foi totalmente equivocado.

 

 
 
BN - Mas como vocês tem feito o acompanhamento para a Copa, tanto das passagens, da hospedagem. Já há a reclamação, de quem está se programando, da condição dos preços. Como a Bahiatursa está acompanhando isso, tanto no mercado interno, como externo?
 
FF - Quanto à reclamação dos preços, desde que o Brasil foi indicado para a Copa, a Macht, uma empresa que é ligada à FIFA e está autorizada a comercializar a rede hoteleira, fez acordos comerciais em todos os estados que vão ser sede da Copa. Toda hotelaria de Salvador tem comprometido com a Macht uma quantidade “x” de hospedagem que vai ser vendido a um preço que foi estabelecido há três anos. Isso vai ser honrado. Eles já estão reservados, porque a Macht é única empresa oficial que pode vender esses pacotes para a Copa a quem vem do exterior. Se o brasileiro quiser, ele não compra. Isso gerou até um problema no Brasil, as operadoras de turismo estrão todas impedidas de vender pacotes para a Copa. Mas, por exemplo, um hotel da um preço; o preço que a Macht vai fazer não é necessariamente o mesmo. Tem aí uma porcentagem, às vezes bem mais alta do que o hotel, mas isso não é culpa da hotelaria brasileira. É a empresa que está colocando isso em cima, para ter lucro. Quem trabalha com turismo sabe que foi assim que foi negociado. 
 
BN - Isso pode acabar deixando para o turista a impressão de que é uma cidade cara...
 
FF - Tanto é que isso não funciona, que eles estão começando a devolver as hospedagens para os hotéis poderem vender diretamente, porque eles não conseguiram vender tudo, reservaram além das expectativas. Aí sim os hotéis podem vender para o próprio brasileiro. Todo mundo achou que viria de fora, mas é de onde está vindo a maior demanda para a Copa. Na abertura de venda dos ingressos, a maior venda foi para o Brasil, os brasileiros compraram tudo!
 
BN - Como a Bahiatursa está pensando para poder casar o São João, que aqui na Bahia, pelo menos, é o mês todo, com a Copa do Mundo? De forma que turista, até mesmo interno, do interior da Bahia, de outros estados, venha assistir ao jogo e também veja o São João, mesmo em cidades próximas?
 
FF - A estratégia é, junto com a Secopa, montar aqueles telões de LED grandes quando tiver jogos. Claro que não vão ser tantos pontos assim; Salvador vai ter, no Terreiro [de Jesus]... São João acontecendo, vai ter jogo? Para a festa. Tem o intervalo? Bota forró. Começa o segundo tempo. Depois continua o forró, continua a festa. No interior, em umas cidades que tenham uma pegada mais turística, não vão poder ser todas, porque são 417 municípios e isso é caríssimo para fazer, não tem como colocar em cada cidade painel de LED. Você não consegue achar isso na Bahia para fazer. A ideia é pegar 15, 16 pontos e fazer a transmissão dos jogos junto com a festa. Eu acho que vai ser legal, você assiste ao jogo, tem o forró, então fica todo mundo ali naquele dia. 
 
BN - O senhor disse que o São João movimenta seis vezes mais cerveja que o Carnaval. E nesse Carnaval tivemos muita discussão sobre a exclusividade das cervejas; a prefeitura veio com o discurso pronto de que isso seria benéfico inclusive para a população, que o dinheiro que não foi para a festa, R$ 10 milhões, seria investido em outras áreas. Seria uma ideia para o governo talvez aplicar no São João? 
 
FF - Isso não se aplica, neste sentido, porque as festas juninas são municipais. Nós apoiamos os municípios, mas cada um tem seu prefeito e sua Câmara de Vereadores e só quem pode estabelecer esse tipo de definição são eles. Se for fazer isso em toda a Bahia, cada município vai fazer parceria com uma determinada marca e vai ser uma confusão. Aqui em Salvador, é uma cidade maior, com Carnaval grande. Como folião, eu não acho bom, mas para a cidade é ótimo. Mas eu não gosto de nenhum das duas marcas que estão sendo vendidas (risos), não é a cerveja que eu gosto de beber. Eu sou contra como era princípio, mas agora que já se definiu... Os bares e restaurantes vão poder vender a marca que quiserem em seus estabelecimentos; inicialmente eles queriam proibir impor até isso aos bares. Para a cidade é bom. A questão de ordenar os ambulantes também acho interessante, porque padroniza. O ambulante que não tiver o kit já fica exposto que não está cadastrado. Vai ser mais fácil ordenar essa movimentação dos ambulantes durante o Carnaval, que é uma loucura. Há determinados pontos do circuito em que você não consegue andar de tamanha quantidade de isopor que tem no meio da calçada. É um problema social, nem todo mundo tem oportunidade de trabalhar, mas tem que ser ordenado, de forma que quem está na rua no Carnaval possa se locomover de uma forma mais fácil.
 
BN - Qual a sua estimativa dos números do Carnaval esse ano? Alguma evolução em relação ao de outros anos? O que vem sentindo conversando com os empresários?
 
FF - Nossa estimativa é da chegada de mais de 500 mil pessoas na cidade. A última estimativa foi de 400 mil. O trabalho de promoção no ano passado foi muito mais forte do que o de 2012, então a Bahiatursa está esperando uma quantidade maior. Está tendo uma reclamação dos hotéis, de que o movimento está fraco ainda, mas isso é muito comum quando o Carnaval começa no final de fevereiro e no início de março. Toda vez que acontece isso temos problemas no verão. Em janeiro, temos o Réveillon, é o mês de férias das famílias, todo mundo viaja. Em fevereiro já acabou, já voltaram as aulas. Quando o Carnaval é no início de fevereiro é uma beleza, porque as aulas começam só depois. Foram 27 dias até o Carnaval, então nesse período você tem uma baixa, porque quem viajou não vai viajar de novo. 
 
BN - O senhor falou da promoção. E em relação a assuntos internos, por exemplo, há pouco tempo a greve da polícia chegou a ter um pequeno impacto no Carnaval seguinte. Essa questão já se resolveu? Tem outros indicadores que fizeram ter um aumento nesse número? 
 
FF - No outro ano, aquele problema [a greve] realmente foi muito sério, gerou um impacto imediato, de cancelamento. Os que tinham a intenção de vir desistiram por medo, precaução, começaram a cancelar. Mesmo assim, o impacto foi 20, 30%, não passou disso. Muita gente ainda veio, porque conseguiu resolver a tempo. Mas não tem mais nada disso, não tem nenhum tipo de insegurança rondando. Os indicadores que a Bahiatursa tem das grandes operadoras de turismo do crescimento das vendas são muito positivos. Só citando duas operadoras: a CVC aumentou as vendas dela para a Bahia, do ano de 2013 em relação ao ano de 2012 em 13%. Aí você pergunta, só 13%? Mas é em cima de 500 mil, como eu falei. Então isso representa quase 70 mil pessoas que vieram a mais. Sairam de 500 para 600 mil, quase. É um incremento bem significativo. Outra operadora, que é grande parceira nossa, que é a Nascimento, que começou a trabalhar tão forte a Bahia, vender tanto a Bahia, que desde o ano passado teve um aumento de 35% das vendas. Esses indicadores mostram que a Bahia está muito bem posicionada no mercado e nos deixa tranquilo em relação ao que foi, ao que vai ser o verão e ao Carnaval também. A Bahia está bem posicionada não só neste período, mas o ano todo. Estamos vendendo a Bahia o ano todo, o nosso trabalho é esse: de oferecer o destino Bahia nas prateleiras das operadoras. Garimpamos de um a um, em todos os estado, os principais emissores de turismo para a Bahia. No Brasil, temos São Paulo, Minas, Rio de Janeiro, Brasília e Recife. São os cinco primeiros.

 


 
BN - Muito se tem dito que Salvador tem perdido muitos turistas, principalmente na gestão de João Henrique e que esses turistas estariam indo para a Linha Verde, Litoral Norte. Hoje, como está a situação de Salvador e quais são as cidades baianas que mais tem se destacado no turismo, fora esses sazonais, de festa, como o São João?
 
FF - Você foi até generosa, porque Salvador ficou no abandono total durante oito anos. A gestão do ex-prefeito não investiu nada no turismo, nada, nada! Não só no turismo – não gastou R$ 1 em promoção, em vender Salvador como destino – como não investiu em nada na própria cidade. Nas visitas que fazíamos às operadoras eram só reclamações: “ó, está difícil vender Salvador”, “é vender, o sujeito chega lá, na volta é problema puro!”, “reclamam da cidade, não gostam, voltam reclamando”. A cidade realmente não é feia, acho que melhorou muito com a gestão do prefeito ACM Neto; uma gestão inclusive que está sendo muito apoiada pelo governo do Estado. O governador está muito sensível; sempre foi com isso; é a capital do estado, a porta de entrada. Temos muita sensibilidade com isso, por isso que ajudamos o Carnaval, a fazer um bom Réveillon, fizemos questão de ajudar, como vamos fazer em várias ocasiões. Salvador não pode ficar relegada, abandonada. Com essa crise pela qual a cidade passou, até física mesmo, isso gerou um afundamento. Salvador passou a ser entrada: as pessoas ficavam um, dois dias aqui e se deslocavam para outros lugares, porque não tinha muito para ver. Aí houve um crescimento muito grande do Litoral Norte, com a abertura de várias cadeias de hotel, hoje é um fenômeno. Esses hotéis são o que mais vende na Bahia, tirando Porto Seguro que é campeã de vendas. Principalmente para paulistas e mineiros, vão direto para os resorts, é um público específico. Temos as vendas concentradas nos destinos turísticos nossos, como Itacaré, Maraú, Caravelas, Prado, Chapada, Lençóis, são lugares que a gente está constantemente vendendo, mostrando. Estamos desenvolvendo também a questão da malha regional, o governador estabeleceu uma redução da cota do ICMS do querosene da aviação. Se uma companhia aérea colocar até seis voos para o interior do estado, exceto Salvador, ele tem uma redução de 18 para 4%. Isso representa um incremento muito grande na hora de abastecer. Hoje conseguimos aumentar [os voos] para Lençóis. A Trip [Linhas Aéreas], que agora é Azul, não tinha nada, o aeroporto estava fechado. Conseguimos por uma que depois passou para duas frequências. Reativamos o aeroporto de Paulo Afonso, está todo equipado e a Azul está com duas frequências para lá, desenvolvendo toda aquela região, os cânions do São Francisco. Para o lado do oeste, Barreiras, Vitória da Conquista, temos três frequências diariamente para lá. E Porto Seguro e Ilhéus aumentaram bastante a frequência. Isso é fundamental, porque a Bahia equivalente a um país. As distâncias aqui são muito grandes. Para Barreiras, são 900 km. Não dá para o turista vir aqui e dizer: “vou fazer uma visitinha a Porto Seguro”. São 800 km. 
 
BN - Qual é a sua relação com Pedro Galvão [que foi empossado secretário de Turismo do Estado na mesma época que Ferrero começou a presidir a Bahiatursa]? Ele fez parte da gestão de João Henrique. O senhor falou que a prefeitura na época não investiu muito no turismo. 
 
FF - Antes ele foi presidente da Emtursa, acho que em 2005 e eu fui presidente da Emtursa em 2007. Fui convidado pelo prefeito, para fazer parte da equipe, na época era presidente do Convention Bureau. Eu fui com a melhor intenção do mundo, achando que eu poderia fazer alguma coisa em benefício da cidade. Eu já estava há seis anos à frente do Convention Bureau de Salvador, desenvolvi um trabalho exclusivamente de venda do destino Salvador e achei que poderia através da prefeitura – e assim foi me passada a imagem, de que ia me dar todas as condições necessárias para vender o destino Salvador no Brasil e no exterior. Eu acreditei no projeto e entrei, mas infelizmente não foi assim que a coisa funcionou. 
 
BN - Na parte financeira ou operacional?
 
FF - Financeira e operacional. Primeiro que a equipe era horrível, péssima, não tinha profissionais adequados. Ele [João Henrique] me prometeu na época que eu poderia levar pessoas ligadas exclusivamente ao turismo, que já tinham expertise na promoção, depois não deixou contratar ninguém. E eu não tinha dinheiro nem para viajar, nem para comprar uma passagem aérea, não podia sair da cidade para nada, para fazer a promoção. Então ficou muito difícil trabalhar, fiquei de janeiro a agosto e fui trabalhar no Estado. Fui chamado pelo governador, na época pelo secretário [Domingos] Leonelli, para trabalhar na Setur e de lá fui para a Bahiatursa e entrei lá em 2009, na diretoria nacional.

 

 
 
BN - Qual vai ser o legado que o governo Wagner vai deixar neste setor e o que será direcionado para abrir caminho a quem vier nas eleições 2014?  A Bahia já é um pólo turístico, mas poderia ser muito mais. O que fica de vago no governo Wagner que até o fim do ano vocês vão conseguir completar?
 
FF - Você já usou um slogan nosso, que usamos em toda promoção daqui, que a Bahia é muito mais. Não temos nada a mudar agora, somente fortalecer o que foi feito. A Bahia está deixando o turismo muito melhor do que quando [Wagner] pegou. Conseguimos alavancar, em termos de segmento turístico, muita coisa nova, a exemplo do enoturismo, que não existia na região do São Francisco, em Juazeiro; o passeio pela eclusa, na vinícola; a instalação da vinícola, a Ouro Verde, produzindo vinhos, espumantes, uma coisa que ninguém acreditava. Aquela região produzindo, vendendo e recebendo 5 mil pessoas por mês na vinícola, só para visitar, ir lá comprar, conhecer e fazer o passeio do Vapor do Vinho. Tem o turismo esportivo: a Stock Car, o apoio a diversos campeonatos mundiais, como o de surf, que acontece em Itacaré; o de canoagem, em Paulo Afonso e vários outros eventos que vieram direcionados e apoiados pela Bahiatursa. É um trabalho de garimpar, trazer, investir. O esportista vem para cá participar, vem com a família, gosta, recomenda. Isso impulsiona o turismo. Não é só a propaganda na televisão, mas o boca a boca no turismo é fundamental. Então tem o desenvolvimento de vários segmentos novos, fortalecimento dos que já eram trabalhados e os produtos foram ampliados, como o São João, por exemplo. Temos um site, todo ano ele é realimentado, você sabe como se dirigir para cada cidade do interior, que ônibus pega, onde pode ficar hospedado, o que você pode fazer na cidade, os shows que tem. Tem a questão dos serviços, o atendimento ao turista: esse serviço de guias e monitores; no Carnaval você ficava perdido na cidade, não tinha com quem falar. A única referência que tem são os serviços de três anos para cá, isso é na gestão do governador Wagner. A única referência para o turista no circuito era a polícia, que não este preparada para atendê-lo, dar informação. Eles faziam esse trabalho, mas não era o papel deles. Você tinha um monte de problemas: o sujeito se perdia no Carnaval, era assaltado, não sabia para onde ia, era enganado, perguntava para qualquer um na rua. Resolvemos uma série de problemas. O turista na rua está perdido, viu aquele rapaz uniformizado, com aquele “izinho” grande, de boné, de bolsinha, ele pergunta “onde eu consigo uma farmácia?”, “eu estou no hotel tal, como é que eu chego lá?”, “onde eu consigo um táxi?”. O Disque Bahia Turismo [3103-3103] é outro serviço que foi criado, é o único do Brasil que funciona 24 horas, em português, inglês e espanhol e no Carnaval é mais de dez idiomas. Funciona o ano todo, mas durante o Carnaval está linkado com o Guias e Monitores. Porque quando o guia tem alguma dificuldade com uma informação – às vezes o turista pergunta uma coisa difícil – ele liga para o Bahia Turismo, pede a informação e passa. Ou se,  por exemplo, ele atende alguém em francês e não fala, ele liga que alguém vai atender em francês. É um serviço diferenciado, ele serve não só para atender o turista, mas para vender. Mostro para as operadoras, em outros estados: ”quando estiver vendendo a Bahia, você pode mostrar para seu cliente que você tem esse serviço aqui e se você tiver dificuldade em vender a Bahia, pode ligar de sua agência para o Bahia Turismo e tirar a informação na hora”.  É um trabalho que a Bahiatursa faz de mostrar que é um mapeamento de vendas também. Acho que os avanços foram grandes, na área de qualificação, foram mais de 20 mil pessoas qualificadas nesses anos. Estamos deixando muita coisa boa, eu espero que isso continue e que vá crescendo cada vez mais. São treze zonas turísticas que precisamos fortalecer.