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Entrevista

Jaques Wagner reconhece vontade de voltar a Brasília caso Dilma seja reeleita - 30/12/2013

Por Evilásio Júnior

Jaques Wagner reconhece vontade de voltar a Brasília caso Dilma seja reeleita - 30/12/2013
Fotos: Manu Dias/ GOV BA

Cotado para assumir um Ministério, caso a presidente Dilma Rousseff seja reeleita, o governador Jaques Wagner nega haver qualquer "amarração" com a mandatária para que volte à Esplanada após deixar o comando do Estado. Ex-titular do Trabalho e das Relações Institucionais no governo Lula, aos 62 anos, o petista reconhece, no entanto, o desejo de retornar a Brasília. "Se ela me chamar, será um orgulho, mas não tem nenhuma promessa, nenhum compromisso de eu virar ministro", pontuou, em entrevista ao Bahia Notícias, ao negar ainda que exercerá o papel de coordenador da campanha de Dilma no Nordeste. O chefe do Executivo baiano, que também decidiu não postular nenhum cargo em 2014, considera "uma bobagem" planejar a próxima sucessão presidencial, mas admite: "é claro que o meu nome é um dos três, quatro, cinco citados dentro do PT, se for o PT que irá capitanear a chapa em 2018". Sobre o impacto da eleição na sua própria administração, o governador revela que precisará trocar cerca de 15 nomes da sua equipe até 15 de janeiro e comenta o debate sobre a escolha do vice do seu escolhido para substituí-lo: o atual secretário da Casa Civil, Rui Costa. Wagner nega que haja favoritismo do PP de Mário Negromonte ou do PDT de Marcelo Nilo e decreta: "Eu acho que nós estamos com dois terços da chapa resolvidos [...] e eu posso esperar até março para resolver a terceira vaga". Sobre o 2013 harmonioso com ACM Neto (DEM), ele não teme que uma possível disputa plebiscitária entre governador e prefeito de Salvador no próximo ano abale a relação. "Eu acho que, encerrado o palanque eleitoral, vamos cuidar da vida porque o povo quer que a gente trabalhe, e não dá para ficar gastando tempo com briguinhas. O que for bom para Salvador é bom para mim e é bom para ele. [...]  Eu não posso dizer para ele que ele venha apoiar o meu [candidato], porque ele quer ser candidato a reeleição e eu não tenho condição de oferecer, pelo menos por enquanto, apoio a ele em 2016", avisou.

Bahia Notícias – Esse ano foi marcado por uma relação muito amistosa entre o prefeito e o governador. ACM Neto já disse que o prefeito não vai entrar na campanha, mas que o cidadão e militante político, vai. Como o senhor pensa que vai ser essa relação em 2014? Harmoniosa como foi em 2013?

Jaques Wagner – Repare, nós temos uma relação administrativa boa, de respeito. Eu sei que surpreendeu muita gente ele ao meu lado e eu ao lado dele. A mim não surpreendeu, porque eu acredito nisso. Eu acho que, encerrado o palanque eleitoral, vamos cuidar da vida porque o povo quer que a gente trabalhe, e não dá para ficar gastando tempo com briguinhas. O que for bom para Salvador é bom para mim e é bom para ele. Então, vamos trabalhar. Eu não posso dizer para ele que ele venha apoiar o meu, porque ele quer ser candidato a reeleição e eu não tenho condição de oferecer, pelo menos por enquanto, apoio a ele em 2016. Então, vamos continuar trabalhando. O que for bom para a cidade eu vou continuar fazendo. Evidentemente que a gente espera reciprocidade nesse tratamento respeitoso, e até agora tem tido. Agora, eu não posso pedir que ele não faça a campanha dele. Mas vamos ver também qual é a decisão que eles [oposição] vão tomar, quem vai ser o candidato.

BN – O senhor aposta em alguém? Geddel Vieira Lima (PMDB) jogou a bola da escolha no peito de ACM Neto. O senhor acredita em uma eleição plebiscitária entre o prefeito e o governador?

JW – Eu não tenho como apostar em quem será o candidato das oposições. Aí eu prefiro esperar os acontecimentos. É claro que campanha é sempre campanha: as torcidas sempre se excitam e cabe a quem é coordenador de processo ter a tranquilidade para apaziguar. Não posso funcionar com a mesma emoção que o meu povo funciona, porque é diferente. Eu tenho a responsabilidade de condução, ele tem a capacidade de condução. Quem vai para a minha torcida, evidentemente, é a parte mais apaixonada. Qualquer coisa que bula comigo o cara fica mais retado e eu tenho que estar com a responsabilidade de conduzir e acho que ele tem que estar também. Vamos ver, porque ainda não está jogado o jogo das oposições.

BN – Na reforma do secretariado que o senhor vai fazer até o dia 15 de janeiro, quantas pessoas, em média, devem deixar a equipe?

JW – Entre secretários e outros postos ocupados, deve chegar a uns 15, 16, incluindo Otto e Rui, mas, repare, não dá para chamar de reforma. Nós não vamos montar um novo secretariado no último ano de governo, até porque teremos Copa do Mundo e a própria eleição. Então, o ano útil é de seis meses. A tendência é de saírem os ocupantes que vão cuidar das suas campanhas, senão contamina demais a gestão. Haverá uma certa continuidade. Não dá para quebrar tudo senão, daqui que alguém arrume alguma coisa, acabou o ano. Então, não é uma reforma. É uma saída de quem vai ser candidato e acomodação.

BN – Quem são os candidatos de Wagner na proporcional, para estadual e federal?

JW – Só um louco para querer coordenar um trabalho ou ser candidato majoritário e pretender ter candidato na proporcional. Não existe isso. Quem é candidato a governador, senador ou quem vai ter o papel que eu tenho, de ser um coordenador importante da campanha majoritária, não pode se ancorar em uma candidatura proporcional, senão você desagrega o grupo. Quem tem esse papel tem que estar muito à vontade para tratar todo mundo como igual. Se eu tiver um candidato meu, eu não sustento [a chapa], porque aí ninguém vai querer me receber, porque toda vez que eu entrar ele vai achar que eu estou trazendo o meu candidato. Então, eu, realmente, não tenho. Aliás, até no PT, eu digo claramente que eu voto na legenda e pronto. Ao votar na legenda, eu estou votando em todos os candidatos da coligação. Eu não quero ficar enganando a ninguém, andar cheio de 'amigos'... Por isso é que eu digo que a responsabilidade de quem está como juiz de um processo desse, eu acho que não cabe você resvalar para nenhuma preferência pessoal. Posso até ter, no meu íntimo, mas jamais você vai me encontrar em lugar nenhum – e aí eu desafio qualquer prefeito, qualquer liderança – pedindo: 'vote em fulano'. Se eu tiver que ajudar fulano, faço isso, mas fazendo publicamente, senão eu não seguro o grupo.

BN – E como será a coordenação da campanha da presidente Dilma no Nordeste?

JW – Repare, isso aí foi uma invenção que alguém fez e não corresponde à realidade, porque quem é que coordena a campanha da presidente da República em cada estado? É o seu candidato a governador. Não sou eu que vou entrar no Ceará, no Piauí, seja lá onde for. Agora, é óbvio que eu vou estar sempre disposto a ajudar a articular aqui [na Bahia], mas, por exemplo, quem comanda a campanha dela no Ceará é Cid Gomes. Quem vai coordenar a campanha dela no Piauí é Wellington [Dias, senador do PT], que é o nosso candidato; em Sergipe é o Jackson Barreto [vice-governador pelo PMDB, efetivado após a morte de Marcelo Deda, no último dia 2 de dezembro], que é o candidato da coligação, e por aí vai. Então, não existe essa figura porque cada estado já tem o seu líder. Posso ser um colaborador...

BN – Um difusor...

JW – É, um difusor, mas não existe isso [de coordenador regional da campanha de Dilma]. Alguém inventou. Isso é para criar problema. Imagina? O protagonismo da figura local é fundamental. Ninguém vem de fora ditar regra, porque eu não conheço o Ceará como o Cid conhece, como ele não conhece a Bahia como eu conheço.

BN – O senhor comentou que há, sim, a possibilidade de o senhor ser ministro, caso a presidente seja reeleita. Mas já teve algum tipo de conversa nesse sentido?

JW – Não tem nenhuma conversa minha com ela sobre isso, até porque todas as decisões que eu tomei foram tomadas conversando com ela, mas em nenhum momento isso foi posto na mesa. Eu não vou ser senador, eu não vou ser deputado, mas essa decisão, inclusive, foi minha. Então, ela não tem nenhum compromisso comigo nem eu tenho nenhuma amarração com ela. Deixa virar outubro, aí ela vai ter liberdade de montar o governo dela. Se ela me chamar, será um orgulho, mas não tem nenhuma promessa, nenhum compromisso de eu virar ministro.

BN – Como Eduardo Campos não aceitou a proposta de abrir mão da candidatura em 2014 para tentar ser o nome governista na próxima eleição, o senhor está na fila realmente para tentar disputar a Presidência da República em 2018?

JW – Eu não diria que eu estou na fila, mas é claro que o meu nome é um dos três, quatro, cinco citados dentro do PT, se for o PT que irá capitanear a chapa em 2018. Mas, com muita sinceridade, o meu planejamento hoje está feito até 2014. Eu tenho tarefas já muito grandes: eleger a nossa chapa aqui, reeleger a Dilma... Repare, tem tanta coisa no caminho, do imprevisível, de coisas com uma variável que você não pode dizer para onde é que vai, que para mim é bobagem fazer o planejamento para 2018 agora. Não existe isso. Meu planejamento é: fazer meu sucessor, eleger meu senador e ajudar ela a se reeleger. Feito isso, aí o futuro se abre e nós vamos pensar.

BN – O senhor se reuniu com Eduardo Campos quando ele esteve em Salvador, no último dia 18 de dezembro. A candidatura de Lídice da Mata ao governo entrou na pauta?

JW – Claro que entrou na pauta, mas aí não tem outro caminho. Não há muito o que fazer. Eu apostei em tentar manter o PSB na base da candidatura da Dilma, portanto a Lídice estaria dentro da minha base. Foi uma aposta que eu fiz. Conversei com o Eduardo, conversei com a Lídice... Não fiz nenhum constrangimento ao PSB, porque não queria afastar, queria juntar, mas o planejamento não se concretizou. Hoje é uma realidade a candidatura dele, portanto virou uma realidade a candidatura dela. A gente vai se tratar com respeito, evidentemente, mas, conjunturalmente, até outubro de 2014, nós estamos em campos opostos. Até lá, somos adversários, até porque ninguém entra em uma campanha que não seja para ganhar. Eu vou entrar querendo ganhar com Rui [Costa], com Dilma [Rousseff] e com Otto [Alencar]; Lídice vai querer ganhar com Eduardo. Então, não tem como. Não precisa chutar canela de ninguém, mas somos adversários na eleição de 2014.

BN – Com a saída de Domingos Leonelli do governo, é o PR mesmo que vai ocupar a Secretaria de Turismo?

JW – Essa conversa [com o ministro dos Transportes, César Borges] está existindo, mas não tem decisão. Eles [PR] estão pleiteando isso porque não têm nenhuma secretaria, mas não tem nada decidido.

BN – É claro que o PP tem uma relação importante com o PT, até porque apoiou a eleição de Fernando Haddad em São Paulo [2012], que foi estratégica para o partido, mas Marcelo Nilo (PDT) seria o favorito a vice de Rui Costa por ter uma relação mais próxima com o governador?

JW – Eu não acho que tem favoritismo, porque a gente ainda vai depender de muita conversa e de muito entendimento. Eu acho que os nomes e os partidos têm lastro para demandar o que estão demandando, pelo tamanho, pela contribuição ao governo, pela amizade até pessoal comigo, mas eu não apontaria nenhum favorito. Eu acho que os dois partidos e as pessoas colocadas têm méritos. Agora vai depender de quando a gente vai chegar a um denominador comum. Há duas pretensões e uma vaga. Aí eu vou ter que trabalhar muito para que a decisão acomode todo mundo. Eu vou tentar fazer isso.

BN – Nessa arrumação, pode pesar o fato de Nestor Duarte [atual secretário estadual de Administração Penitenciária e Ressocialização], que é do PDT, ser suplente da senadora Lídice da Mata (PSB)?

JW – Não. Não faço essa conta porque aí seria futurologia. Na verdade, não tem essa conta. É claro que eu não vou dizer que ganhei nada, porque só se ganha quando a eleição acaba, mas eu vou trabalhar para a gente ganhar. Eu conto com a hipótese de Rui governador e Otto senador... não passa por aí.

BN – Ainda sobre a questão do vice de Rui Costa, Mário Negromonte (PP) chegou a dizer que foi anunciado internamente que ele seria o escolhido. Houve mesmo esse anúncio interno ou pelo menos teve essa conversa? Por que, na sua avaliação, ele disse à imprensa que tinha sido escolhido?

JW – Eu não sei. Eu considero o seguinte: eu tive uma conversa com todos os partidos e sempre disse muito claramente que o PT pleiteava puxar [a chapa] com a candidatura de governador, que o PSD, com Otto, pleiteava a candidatura ao Senado, e que, no meu entendimento, na avaliação dos dois partidos, que são os maiores do meu governo, os dois tinham legitimidade. Isso nunca foi contestado por nenhum partido da base, até porque há uma naturalidade de reconhecer. Não estou dizendo que política é matemática, mas também é matemática. E eu reconheço que, a partir daí, você tem dois partidos: o PP e o PDT, que têm tamanhos diferentes, e eu vou chamar assim de 'próximos'. É fato que eu, em uma conversa com o PP, como tive com o PDT e com todos os partidos, disse: 'olha, se a conta fosse só matemática, você poderia dizer que é [a vaga de vice para o PP]'. Mas política não é só matemática, até porque alguém contesta: 'eu sou maior nisso, eu sou maior naquilo'. Então, eu nunca disse, até porque, na hora em que eu disser, eu vou dizer para todo mundo publicamente e principalmente para os interessados. No dia em que eu for anunciar isso, o primeiro a saber será o não atendido, que é o primeiro que eu tenho que procurar para dizer: 'amigo, não vai dar'. Então, eu não anunciei nada. A conversa que eu tive foi nesses termos que eu acabei de revelar aqui para você. Eu acho que pode ter cabido a interpretação que Mário deu, mas eu nunca disse 'está carimbado'. Eu acho que nós estamos com dois terços da chapa resolvidos, as duas pontas, vamos dizer assim, principais – o candidato a governador e o senador – e eu posso esperar até março para resolver a terceira vaga.

BN – O senhor fala quantas vezes com a primeira-dama [Fátima Mendonça] no período em que está no trabalho?

JW –Várias, várias. A gente se telefona muito...

BN – É porque Marcelo Nilo disse que fala com o senhor pelo menos três vezes ao dia. É assim mesmo a relação de vocês (risos)?

JW – Não, repare. Ele é presidente de um poder e, evidentemente, muitas vezes coisas importantes do governo passam pela Assembleia e a gente conversa muito. Eu nunca contei quantas vezes a gente dialoga. Seguramente, não é mais do que eu dialogo com Fatinha [Fátima Mendonça], que, como todo casal, a gente se telefona não necessariamente para resolver alguma coisa, mas também para conversar, brincar e se divertir (risos).