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Marca Bahia Notícias

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Em novo disco, Nara Couto fala de afetividade e enaltece negritude em vários tons 

Por Jamile Amine

Em novo disco, Nara Couto fala de afetividade e enaltece negritude em vários tons 
Foto: Thi Santos / Divulgação

Após ser contemplada pelo edital Natura Musical, a cantora, dançarina e pesquisadora baiana Nara Couto se prepara para lançar seu disco de estreia “Retinta”, previsto para sair no final deste mês nas plataformas digitais. Antes disto, a artista liberou, nesta sexta-feira (5), a faixa-título - uma parceria com Ellen Oléria -, que também ganhou clipe dirigido por Edvaldo Raw e Preta Ferreira. 

 

A canção chegaria ao público na semana anterior, entretanto, em virtude da morte de Letieres Leite - grande referência e produtor de um projeto anterior da artista -, a data acabou adiada. Mas, antes mesmo deste triste imprevisto, o álbum “Retinta” já havia subvertido um pouco os planejamentos de Nara. Isto porque o disco “Contipurânia” (saiba mais), que seria o primeiro da carreira da cantora, estava quase concluído quando ela decidiu alterar a rota. 

 

“Eu vou lançar ele porque é um projeto muito bonito mesmo! Eu acredito muito nesse projeto, só guardei porque esse momento da pandemia me mostrou novos pensamentos e novas reflexões, e eu precisava pegar tudo que estou sentindo e compartilhar. Eu acho que a melhor forma de compartilhar o que eu estou pensando e sentindo é através do meu trabalho. Então eu arquivei, guardei em uma caixinha bem bonita, pra colocar pra fora em outro momento”, conta a artista, destacando a urgência de expressar sentimentos intensos e mensagens inadiáveis como justificativa para criar o “Retinta”. 

 

“Esse álbum que está vindo agora quer falar um pouquinho sobre como eu me sinto e o que eu quero transmitir agora, neste momento. Então é uma fala sobre afetividade de diversas formas, diversos caminhos, e aí vem [o single] ‘Retinta’ encabeçando nosso amor, enaltecendo minha própria existência e a de mulheres como eu”, detalha a baiana. A partir de muita pesquisa, consulta a obras de escritoras como Maya Angelou e Bell Hooks, além de conversas com homens e mulheres, Nara imprimiu no projeto seu olhar sobre a afetividade, “trazendo o amor como uma ação, como valor ético e social”, mas sem excluir o amor romântico, que também faz parte da construção social.

 

Com nove faixas, o disco “Retinta” traz outras versões da artista. Dito isto, ela pede aos seus seguidores que estejam “bem abertos” para a novidade. "É um momento muito novo também pra mim, então os arranjos são bem diferentes. Eu mantenho a minha essência, que são as percussões de origem afro-baiana, e eu estou trazendo também um pouco da música eletrônica”, alerta a cantora, que assina a produção, junto com Faustino Beats. 

 

O ineditismo pauta ainda o envolvimento da artista na construção do disco, visto que ela afirma estar inserida no processo “do início ao fim”, como nunca esteve em outro projeto pessoal. “Acho que cada vez mais eu tenho me aprofundado, desde a composição, do que eu queria falar do álbum, até esse último minuto, que é a finalização pra que vocês ouçam”, avalia.

 

No campo das composições - todas encomendadas com as referências solicitada por ela - , além da faixa-título de Nara e Ellen Oléria, o disco traz uma parceria dela com a cantora, compositora e multiinstrumentista Marissol Mwaba, além do toque de autores do novo cenário baiano, a exemplo de Hiran e Donna Liu em outras canções. “Eu trago esse novo respiro também. Me senti provocada mais uma vez, eu acho que é uma característica do meu trabalho estar sempre trabalhando em conjunto, em comunidade. As pessoas que eu tenho parceria, que eu escrevi, eu sempre chamei pra também estar junto, porque eu acredito que quando a gente faz um álbum que fala de afetividade, não pode ser apenas sobre o meu olhar, mas é uma história que precisa ser contada por outras pessoas também”, pontua.

 

Um dos destaques do projeto, a faixa “Saudade”, retrata bastante o estado emocional da cantora ao decidir se dedicar ao novo projeto. “Como muitos brasileiros, eu tive uma perda significativa na minha família e eu quis escrever sobre isso, sobre a falta da existência dessa pessoa. Porque ter saudade de alguém que se foi é por conta do excesso do amor que a gente tem. Quando a gente sente amor, a gente sente falta. Eu queria também retratar esse caminho da afetividade”, explica. 

 

 


Segundo Nara Couto, o primeiro single é um é "um grito, clamor da mulher preta retinta invizibilizada na sociedade e é a mais pura militância para que a gente construa um futuro diferente" | Foto: Thi Santos / Divulgação

 

‘RETINTA’

Segundo Nara, o primeiro single, “Retinta”, foi escrito por ela no início de julho de 2020 e logo em seguida a produção teve início. "Eu liguei pra Ellen [Oléria], eu estava em Salvador na época. Depois eu me mudei pra São Paulo, então foi tudo muito virtual, foi um processo muito minucioso. Foi pensado, pesquisado. Cada ritmo, cada instrumento que foi colocado”, lembra a baiana, explicando que a canção vem com a proposta de valorizar as mulheres retintas e convidar as pessoas a abandonar o “olhar comparativo”. “Por isso na faixa eu falo que convoco as mulheres do meu clã, que são as mulheres negras de todos os tons de pele. E quando a gente aprecia uma mulher retinta a gente consegue apreciar todas as mulheres de todas as paletas de cores”, assinala. 

 

O lançamento da canção junto com um clipe não poderia ser diferente, visto que a linguagem visual é uma característica marcante da própria Nara como artista. “Quando eu penso em música eu penso em imagem. Eu sou bailarina, minha primeira formação artística é a dança, então, quando eu penso no som, imediatamente vem a imagem, ou a imagem vem antes do som. Eu sabia que queria fazer um clipe onde eu tivesse minhas referências e pessoas que fossem referência para todo mundo. E são as mesmas, as quatro mulheres que são referências pra mim e pra muitas pessoas”, pontua a cantora.

 

Assim como no disco, a baiana se envolveu ativamente no processo de criação do conceito para o videoclipe. “E eu queria que tivéssemos existindo. Eu sei que parece uma coisa tão simples, mas nós sabemos que existir é um exercício. É uma luta nossa, pra estar nas telas essas mulheres de tons mais escuros. Então, tem essas cinco mulheres retintas na mesma tela, juntas, conversando, rindo. Essa era a primeira imagem que eu queria que existisse”, conta Nara. “E depois eu fui passando algumas referências para os diretores, eles entenderam o que eu queria transmitir e foram bem fiéis a todo contexto que eu tinha levantado. Eu fiquei muito satisfeita”, lembra a artista, sobre o trabalho junto a Edvaldo Raw e Preta Ferreira. 

 

Confira a faixa-título "Retinta":