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Após ano caótico, Guerreiro quer cultura aliada à economia: 'Tirar essa história das belas artes'

Por Jamile Amine

Após ano caótico, Guerreiro quer cultura aliada à economia: 'Tirar essa história das belas artes'
Foto: Paulo Telles / Divulgação

Oito anos à frente da Fundação Gregório de Mattos (FGM) durante a gestão de ACM Neto, Fernando Guerreiro segue como integrante do time de Bruno Reis na prefeitura de Salvador. Em conversa com o Bahia Notícias, o gestor, que também é artista, detalhou o “pesadelo” vivido no ano de 2020 com a pandemia e fez um balanço das atividades realizadas pela fundação no período, com destaque para a implementação da Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc.

 

“Veio esse furacão em março e a gente se deparou com uma situação totalmente inusitada. Primeiro, porque os projetos foram suspensos - a grande maioria porque eram presenciais -, os teatros foram fechados, os artistas desempregados, que é um ponto muito delicado da curva, e eu me vi numa situação complicadíssima. Eu tinha que dar um apoio a esses artistas, e ao mesmo tempo, legalmente, isso não era uma coisa simples”, lembrou o presidente da FGM, explicando que a continuidade da programação dependia do grau de reabertura autorizada pela prefeitura, de acordo com os números dos casos de Covid-19 em Salvador.

 

Passados vários meses, a situação dos trabalhadores da cultura foi ficando cada vez mais dramática, mas com a pressão da classe, da sociedade civil e de parlamentares, em junho de 2020 o governo federal sancionou a Lei Aldir Blanc, que segundo Guerreiro, “veio salvar a pátria” e ao mesmo tempo chegou “repleta de problemas” por sua complexidade e ineditismo. Apesar da importância do auxílio emergencial, o presidente da FGM faz um alerta sobre o que está por vir. “Eu acho que é um remédio temporário [a Lei Aldir Blanc], eu não tenho ilusões. A gente vai ter que partir para uma outra política o mais rápido possível, porque a gente não sabe quando é que vai poder voltar a trabalhar com normalidade”, declarou, lembrando que a pandemia “quebrou a cadeia produtiva na raiz” e que as atividades online não conseguiram monetizar. “Esse é um problema e uma grande discussão que eu estou querendo puxar na fundação neste ano de 2021”, contou.

 

Com os pés no chão, Guerreiro fala ainda sobre as perspectivas gerais para o futuro próximo, que segundo ele ainda não são favoráveis. “Eu não sou pessimista, mas não estou trabalhando com nenhuma data de libertação. Porque as pessoas pensam ‘quando tomar a vacina eu saio pela rua sem máscara, agarrando todo mundo’, tem esse frenesi da vacina, é óbvio que ela é importante, que ela vai chegar e hoje é o que a gente tem na mão, mas eu vejo 2021 muito parecido com 2020. Eu não visualizo uma normalização. Esse negócio de carnaval em julho eu acho praticamente impossível, eu nem sei se vai ter São João, estou sendo sincero. Podem dizer ‘ah, Fernando boca de caçapa’, mas não, eu estou dizendo o que penso. Se acontecer vai ser ótimo, mas eu prefiro trabalhar com a perspectiva de não acontecer, que eu me previno”, ponderou. 

 

Para atravessar mais um ano turbulento, o presidente da FGM apresenta um norte: “Cada vez mais queremos casar o artístico-cultural com o desenvolvimento, a cultura como instrumento de desenvolvimento”. Neste sentido, ele pretende ampliar os espaços Boca de Brasa convertendo-os em “polos de criação de mão de obra”, implementando atividades formativas, nas quais os alunos capacitados possam se inserir no mercado de trabalho. Outro projeto importante no horizonte é um voltado para o audiovisual. “É um dos meus sonhos, que eu tenho que botar pra rodar esse ano, chama-se Salvador Filmes. É um polo de audiovisual criado em Salvador para fomentar a produção aqui, atrair produções da Netflix, da Fox, apoiar os realizadores locais, trazer pessoas de fora, apoiar toda a cadeia produtiva do audiovisual. Isso pra mim, Salvador não é a cidade da música? Pode ser a cidade do cinema de novo”, projeta Fernando Guerreiro, que também pretende “recalibrar” a Fundação Gregório de Mattos para priorizar aspectos técnicos das obras apoiadas. 

 

“Então tem o Salvador Filmes, esse projeto do Boca de Brasa, e eu quero também, de alguma maneira, contemplar os profissionais, especificamente. Existe uma discussão muito grande hoje, que é uma corda-bamba, cultura e reparação. Essa é uma coisa que a gente vai entrar em um grande debate na fundação. Eu acho que mérito artístico tem que ser o primeiro ítem a ser considerado em um edital, depois a gente pode ir pra cota, para LGBTI+, pra uma série de questões, mas a gente não pode perder de vista que eu estou administrando uma fundação cultural e não uma secretaria da reparação. Isso é um ponto que os artistas têm discutido muito, e com razão”, explica o presidente da FGM, que diz ser favorável às cotas, mas salienta a necessidade de um “equilíbrio”. Confira a entrevista completa