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Rui Barbosa em caricatura

Por Nelson Cadena

Rui Barbosa em caricatura

Na oportunidade do início das comemorações do Centenário de Ruy Barbosa, com a divulgação pela ABI, dia 05/11, da programação de eventos e ações que serão realizados de 1º de março de 2022 a 1º de março de 2023, com a participação de 13 entidades baianas, vale conferir a representação do personagem no lápis dos maiores expoentes da caricatura, no seu tempo.
Nenhum personagem da primeira República, fora Ruy, foi alvo das mais refinadas penas do país, artistas gráficos de categoria internacional, que enxergaram nas qualidades do Conselheiro, no seu talento e na sua polêmica trajetória política, uma oportunidade para criar caricaturas, exagerando seus traços físicos, característica dessa arte.

 

 


Os caricaturistas exploraram a sua estatura física, no lápis deles próxima do enanismo e o volume da cabeça, um tamanho desproporcional que não correspondia à realidade. Obvio que um “anão” de cabeça enorme era uma pessoa feia, pelos padrões de estética.  As fotos do Conselheiro mostram o contrário: era baixinho, mas não tanto, e muito charmoso e elegante.

 

 


Ruy foi personagem dos maiores caricaturistas do país: Ângelo Agostini, K-Listo Cordeiro, J. Carlos, Seth, Raul, Lobão, Storni, Julião Machado, Voltolino... artistas gráficos geniais que retrataram Ruy nas páginas da Revista Ilustrada, Semana Ilustrada, Revista da Semana, O Malho, Fon- Fon, Careta, Dom Quixote, dentre as principais publicações da época. Outros caricaturistas como Nair de Tefé e Alfredo Candido, também focaram em Ruy.

 

 


Personagem presente na caricatura que ilustrava capas e seções das revistas, como também, na Publicidade. Sem uma legislação que regulasse o direito autoral de imagem, a imagem de Ruy, em caricatura, foi explorada para vender produtos como os chocolates Lacta, Vermouth Cinzano e até revistas como foi o caso do lançamento da Eu Sei Tudo, dentre outros. Um testemunhal, mesmo que forjado, do Conselheiro, mesmo sem sua autorização conferia credibilidade ao produto.

 

 


A inteligência de Ruy, a sua fluência em sete idiomas, o sucesso de sua participação na Conferência de Haia, em 1907, influenciou os artistas que sempre que a oportunidade surgia, destacavam o baiano com uma cabeça desproporcional. As caricaturas sugeriam aos leitores das revistas um gênio, um homem de cérebro fora do comum. Dois exemplos dessa tendência são a charge o Coco da Bahia em que a cabeça de Ruy é um coco e a de Alfredo Candido, publicada na revista A Larva, onde a cabeça dele é a Biblioteca Nacional.

 

 


O Ruy político, em tempo de eleições, era caricaturizado com um certo sarcasmo. Ora, o homem ingênuo que entrava na corrida eleitoral para perder (o que era verdade), ora o centro das atenções, o “anão” arrodeado das raposas políticas da época, lideranças da Bahia e do Brasil.

 


Na Bahia, onde não tivemos artistas gráficos à altura dos gênios das revistas cariocas, a Revista do Brazil, de José Alves Requião, tio de Altamirando Requião, primeiro presidente da ABI, é quem melhor explorou o personagem nas suas capas. Era revista de alta qualidade, inspirada no O Malho, com impressão em tricomia (três cores). Circulou de 1906 a 1912. Raul Oliveira, artista baiano, o retratou em várias charges. O artista português Raimundo Aguiar, um baiano-português, naturalizado, que assinava como K-Lunga, também se inspirou em Ruy para caricaturas de teor político, publicadas nos jornais.

 


Ruy foi fonte de inspiração de grandes artistas gráficos. Seu físico, sua popularidade, sua cultura, seu sucesso no exterior, a sua trajetória, enriqueceram a imaginação dos talentosos ilustradores do fim do século XIX e primeiro vintenio do século XX. 

 

Nelson Cadena é publicitário, jornalista e historiador