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Harmonia e civilização

Por Gabriel Menezes

Harmonia e civilização
Foto: Acervo pessoal

Vivemos num país onde reina o completo desprezo pelo próximo. Não há um sentimento de união, respeito, nada. Via de regra, cada um pensa em si e naqueles que estão em seu círculo próximo. Talvez isso nunca tenha ficado tão evidente quanto durante a pandemia. 

 

Somos pobres, moral e economicamente. Muitos tentam culpar um grupo pelos problemas do país. Culpam as elites econômicas, as elites intelectuais, os agentes do Estado. Sem dúvida, todos esses têm responsabilidade pela nossa miséria, mas a maior responsabilidade é nossa. 

 

Quem ocupa esses espaços senão nós mesmos? Se o nosso país não prospera, a culpa é, única e exclusivamente, nossa. E nada mudará enquanto nós não alterarmos os comportamentos que temos no cotidiano, que, generalizado, amarra-nos no abismo. 

 

Hoje, no aniversário do presidente Bolsonaro, cidadãos foram às ruas para comemorar. Muitos desses são os mesmos que reivindicam, em manifestações contra medidas restritivas, que “o povo precisa trabalhar para não morrer de fome”, e que “o Estado está usurpando as nossas liberdades”.

 

Não é novidade movimentos políticos dizerem-se defensores de determinados grupos. Vemos isso com os movimentos negros, feministas, LGBT, socialistas, liberais, conservadores. Hoje bolsonaristas, que se proclamam “conservadores” - que nada têm de conservadores, bom deixar claro -, vão às ruas em defesa do “povo”. 

 

Mas digamos que estejam, de fato, defendendo o povo. Nesse cenário, a luta contra as medidas restritivas teriam de vir junto à defesa de medidas de distanciamento social, do uso de máscaras e da vacinação, correto? É isso que vemos? Ou vemos aglomerações desnecessárias, desprezo com os cuidados individuais e teorias conspiratórias contra vacinas? 

 

Negam os efeitos catastróficos causados pelo vírus; negam os cuidados individuais, numa “defesa da liberdade”; negam as vacinas; negam medidas restritivas, através de desinformação. Contudo, utilizam uma causa supostamente nobre para defender os seus interesses ideológicos e/ou particulares. Afinal, “sai de casa quem quer”; “usa máscara quem quer”; “toma vacina quem quer”. Quem não quiser, que sofra as consequências das atitudes irresponsáveis alheias. 

 

A ideia de que a sua liberdade acaba quando infringe a de terceiros, ou que, como apontou o filósofo austríaco Friedrich Hayek, “liberdade e responsabilidade são inseparáveis”, não importa para esse pessoal. É possível escrever um texto apenas sobre a deturpação do conceito de liberdade promovida por esses grupos.

 

Infelizmente, é triste dizer, mas vivemos em meio à morte da sensação de pertencimento a uma sociedade - preceito básico para o convívio próspero em um local.

 

Sobre a importância de certos aspectos morais na sociedade, o filósofo britânico Roger Scruton resume a defesa de Adam Smith em Teoria dos Sentimentos Morais: “(..) confiança, responsabilidade e compromisso só existem em uma sociedade que os respeita e apenas onde é permitido amadurecer o fruto espontâneo da solidariedade humana”.

 

Eu lhe pergunto: nós respeitamos esses valores? Há terreno para o amadurecimento da solidariedade humana no nosso país? Tudo o que vemos ao nosso redor diz que não. Pelo menos,  não hoje em dia.

 

Portanto, é importante que cada um de nós dê o exemplo e influencie aqueles que estão à nossa volta para que ajam conforme uma sociedade próspera exige. Assim, talvez alguma geração futura tenha a chance de viver num país,  minimamente, harmônico e civilizado.

 

*Gabriel Menezes é estudante de medicina

 

*Os artigos reproduzidos neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do Bahia Notícias