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Fluxo e refluxo

Por Otto Alencar

Fluxo e refluxo
Foto: Marcos Oliveira/ Agência Senado

O que vai acontecer com o mundo quando vencermos a guerra contra o coronavírus? Que países conseguirão superar os traumas da maior tragédia sanitária dos últimos 100 anos e retomar o caminho do desenvolvimento?

 

No momento em que a pandemia ainda não dá sinais concretos de arrefecer o seu ímpeto destruidor, pode parecer precipitado pensar no amanhã. Mas acredite, não é. Até porque o amanhã vai depender das atitudes que tomarmos hoje. E o primeiro passo é entender que o Covid-19 deve ser visto como efeito colateral da globalização e que, portanto, emergir dessa crise requer uma postura convergente e não isolacionista.

 

Não há como negar que a globalização já vinha sendo testada. A guerra comercial entre China e Estados Unidos e mais recentemente, o conflito Rússia-Arábia Saudita, por conta da liderança do comércio internacional do petróleo, já colocava em xeque a lógica da aldeia global, na qual, a mão invisível do mercado reina absoluta sobre as necessidades e aspirações sociais e as vontades e arrogâncias dos estados e seus governantes.

 

Da mesma forma não se esperava que eventos temporários viessem a prejudicar seriamente um modelo de negócios bem-sucedido, onde a característica principal se baseava em dividir a produção em vários processos que se deslocavam pelo mundo, conforme a incidência dos custos.

 

O coronavírus aflorou a preocupação com a grande dependência mundial dos fornecedores instalados na China. A província de Hubei, ponto zero da pandemia, é a principal fabricante de componentes de alta tecnologia, um polo que reúne empresas estrangeiras e nacionais de setores eletrônicos, automotivos e farmacêuticos. Ao menos 300 das 500 maiores empresas do mundo estão instaladas na região.

 

A pandemia expôs a dependência das cadeias globais de suprimentos em relação a   China, levando governos de outros países a pensar sobre como diversificar suas cadeias de suprimentos. O Japão já anunciou um pacote para repatriar empresas e diversificar as suas bases de produção fora da China. Trump há tempos questiona a dependência excessiva da produção chinesa e na Europa, Ângela Merkel se movimenta para recuperar, pelo menos conceitualmente, a unidade política e comercial da União Europeia.

 

E no Brasil? Aqui, vamos seguindo na contramão. A inserção na globalização pós-pandemia, requer unidade nacional em torno de um projeto comum, amplo relacionamento internacional, estabilidade política e, sobretudo, confiança interna e externa. O que vemos hoje, em nosso País, é exatamente o oposto, com um governo que aos poucos, sangra em crises internas e estimula uma segmentação social que parece nos conduzir a passos largos para uma inconsequente radicalização.

 

A pandemia que obriga o mundo a buscar um novo modelo de globalização, parece nos conduzir para os braços da velha e indesejável política, o já tradicional toma lá dá cá, num barco desgovernado, no qual o capitão, ao invés de um porto seguro, parece navegar em busca do naufrágio.

 

Nesse contexto, o Japão foi o primeiro país a delinear um plano de afastamento da China, para que suas empresas locais pudessem ser repatriadas. Com um pacote econômico emergencial, alocou 240 bilhões de ienes (US$2,2 bilhões) com o objetivo de auxiliar as suas empresas a se transferirem de volta ou diversificar bases de produção fora da China.

 

Nos Estados Unidos, há igualmente discussões sobre a dependência excessiva em relação à China, a ponto de o Governo ter manifestado a intenção de ajudar, arcando com os custos de relocação das empresas americanas que retornarem da China.

 

Certamente o Covid-19 não decretará o fim da globalização, mas irá alterá-la profundamente. E para terem sucesso as empresas terão que se adaptar a esta realidade.

 

*Otto Alencar é senador da República, líder do PSD no Senado, médico e ex-secretário de Saúde da Bahia

 

*Os artigos reproduzidos neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do Bahia Notícias