Ausência de Alcolumbre e Motta indica estremecimento entre Lula e comando do Congresso Nacional
Por Edu Mota, de Brasília / Victor Hernandes
O que foi programado para ser uma grande festa de celebração da união entre poderes para aprovação de uma nova lei que vai beneficiar milhões de brasileiros, acabou se tornando o retrato fiel do momento de ruptura entre o governo Lula e o comando das duas Casas do Congresso.
A solenidade realizada nesta quarta-feira (26) no Palácio do Planalto, para a sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao projeto que aumentou a faixa de isenção do Imposto de Renda, não contou com a presença dos dois principais convidados. Os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), decidiram não comparecer ao evento, que foi organizado pelo Palácio do Planalto para ser uma grande celebração que uniria governo e Congresso Nacional.
O projeto da isenção do Imposto de Renda foi aprovado por unanimidade no Senado no último dia 6 de novembro, e o presidente Lula decidiu aguardar viagens e a semana de feriado para poder reunir a maior quantidade possível de parlamentares. Do dia da aprovação do projeto até esta quarta, entretanto, a relação do governo com os presidentes da Câmara e do Senado passou por rápida deterioração.
No Senado, o presidente Davi Alcolumbre se irritou com a indicação feita por Lula do advogado-geral da União, Jorge Messias, para a vaga de ministro no STF. Alcolumbre trabalhou pelo nome do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e cortou relações com o líder Jaques Wagner (PT-BA) após a escolha de Messias.
Já o presidente da Câmara cortou relações com o líder do PT, Lindbergh Farias (RJ). Hugo Motta considera que o PT está por trás de campanhas em redes sociais com fortes críticas à atuação dele.
No início do evento, às 11h, era baixa a presença de parlamentares. O cercadinho destinado a parlamentares não chegou a ter a metade das cadeiras ocupadas, e havia cerca de 60 parlamentares, entre deputados e senadores.
Uma ala lateral do salão de eventos do Palácio do Planalto foi preparada com um telão para convidados que não conseguiram assento no espaço principal. Essa ala, entretanto, com quase 400 cadeiras, ficou quase que completamente vazia.

Anteriormente, a crise do presidente do Senado era considerada somente com o líder do governo, o senador baiano Jaques Wagner (PT), não se transferindo para Lula. Em entrevista à GloboNews na última segunda-feira, Wagner afirmou que soube que o senador estaria “chateado” com ele, mas disse desconhecer as razões.
“Recebi notícias de que Alcolumbre estava chateado comigo ou rompido comigo. Confesso que não sei o motivo. Sempre tentei colaborar com ele. Nesse episódio agora do Messias, houve uma chateação, mas foi uma escolha do presidente [Lula]. Eu nunca faltei com a verdade nem com o Rodrigo Pacheco, nem com Davi”, declarou.O mal-estar teria relação com a indicação de Jorge Messias para a vaga deixada por Luís Roberto Barroso no Supremo Tribunal Federal (STF). O presidente Lula (PT) optou pelo advogado-geral da União, contrariando setores do Congresso que defendiam o nome do ex-presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
Wagner disse acreditar que Lula deve conversar diretamente com Alcolumbre para dissipar o desconforto.
