Advogado com trânsito em Brasília recebe R$ 4 milhões de associações suspeitas na 'Farra do INSS'
Por Redação
Um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) revelou que o advogado Cecílio Galvão, com bom trânsito em Brasília e forte ligação com a política de Pernambuco, recebeu cerca de R$ 4 milhões de duas associações de aposentados envolvidas no bilionário esquema de descontos indevidos sobre benefícios do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), a chamada "Farra do INSS".
Embora não tenha sido alvo da Operação Sem Desconto, deflagrada pela Polícia Federal (PF) contra o esquema, Galvão, ex-prefeito e suplente de deputado pelo PTB e atualmente no Solidariedade, caiu na "malha fina" do Coaf por movimentações suspeitas. O valor foi pago pelas associações para que o advogado intermediasse seus Acordos de Cooperação Técnica (ACTs) com o INSS, que permitiam o desconto direto de mensalidades nos contracheques dos aposentados filiados.
Segundo o relatório do Coaf enviado à CPMI do INSS no Congresso, a Associação de Amparo aos Aposentados e Pensionistas do Brasil (Ampaben), que antes se chamava Abenprev, repassou R$ 3,1 milhões a Cecílio Galvão. Já a União Brasileira de Aposentados da Previdência (Unibap), que faturou R$ 183 milhões com os descontos, pagou R$ 888 mil. Juntas, as duas associações faturaram cerca de R$ 263 milhões no auge do esquema.
O perfil de Galvão demonstra forte ligação com o setor público e privado. Ele é dono de uma consultoria, a Crédito & Mercado, que assessora institutos de previdência de servidores (RPPS) e que já foi contratada por municípios que aplicaram fundos de previdência no Banco Master, instituição que foi alvo de uma operação da PF por suspeita de fraude bilionária. O próprio advogado também possui uma empresa que atua na venda de empréstimos consignados.
Em um fato que intensifica as conexões sob investigação, a empresa de Galvão promoveu uma palestra de Eric Fidelis, filho de André Fidelis, o ex-diretor de Benefícios do INSS acusado pela PF de receber propinas de lobistas e associações ligadas à farra dos descontos.
Questionado sobre os pagamentos, Cecílio Galvão afirmou ao Metrópoles ter sido contratado para prestar "assessoria jurídica" às associações, sendo a celebração dos Acordos de Cooperação Técnica (ACT) o objeto principal do serviço.
Em sua defesa, Galvão garantiu que sua relação com a Diretoria de Benefícios do INSS "deu-se sempre pelos canais institucionais". Sobre Eric Fidelis, ele esclareceu que o filho do ex-diretor foi apenas um palestrante em um evento promovido pelo Crédito & Mercado para tratar do tema de Compensação Previdenciária.
Apesar da defesa, a pressão sobre as associações envolvidas é crescente. Além de enfrentarem condenações judiciais, as entidades estão na mira da Controladoria-Geral da União (CGU), que encontrou nas investigações indícios de filiações fraudulentas de aposentados com documentos expirados e a inclusão de milhares de pessoas mortas em suas listas de associados.
