"Crise do metanol" reduz busca por destilados mas aumenta venda de cervejas, relatam donos de bares e restaurantes em Salvador
Por Victor Hernandes
O registro de casos de intoxicação por metanol no Brasil parece não ter assustado e se tornado preocupação de alguns soteropolitanos, no último final de semana. Isso porque, apesar do Ministério da Saúde, autoridades médicas e entidades emitirem alertas sobre o consumo de bebidas alcoólicas no país, bares, restaurantes e botecos observaram a mesma quantidade de clientes, semelhante a outros períodos do ano.
Para saber sobre o balanço dos estabelecimentos após a “onda de casos”, a reportagem do Bahia Notícias procurou alguns dos estabelecimentos mais tradicionais da capital baiana, com o intuito de saber se houve impacto no número de clientes ou no consumo, após notícias envolvendo episódios de intoxicação.
Em conversa com o BN, o empresário Ângelo David Curvelo revelou que não houve mudanças no número de consumidores no Boteco do Caranguejo, de sua propriedade. Com nove unidades espalhadas em Salvador e Lauro de Freitas, o empresário informou que a cerveja, uma das bebidas alcoólicas mais consumidas na empresa, continuou liderando a procura.
“Zero de queda, pelo contrário. As pessoas estão bebendo mais. Quem gosta de beber, está bebendo em dobro. Porém, a cerveja passou a ser mais procurada e o consumo de cerveja aumentou. Como todo mundo sabe, é mais difícil de adulteração”, comentou Curvelo.
Outro estabelecimento conhecido e de grande movimento na cidade, o Bão também não obteve uma queda na quantidade de clientes, durante o último final de semana. No entanto, segundo Henrique Almeida, proprietário do local, houve uma alteração no perfil de consumo, com aumento na busca por cervejas e queda no consumo de drinks e destilados.
“A gente percebeu uma mudança no perfil de consumo. De fato, nesse momento, estamos vivendo uma crise de confiança no que diz respeito ao destilado. Tivemos um crescimento significativo nas nossas cervejas em alguns itens, por exemplo, como as ices, e uma queda significativa na saída de drinks e de destilados garrafas. Considerando que temos um fluxo muito grande nesse aspecto, percebemos, de fato, uma mudança no comportamento e, inclusive, um pouco de equipe ociosa”, apontou o executivo.
“As casas permaneceram bem cheias e movimentadas, graças a Deus. Porém, com um perfil de consumo diferente, de fato, por essa crise de confiança aí no que diz respeito aos destilados”, complementou o empresário.
Outro espaço da cidade que também registrou uma diminuição de bebidas destiladas foi o Allê Varanda Bar, no Santo Antônio Além do Carmo. De acordo com o dono, Wolton Fonseca, foi observada uma queda de 66% de produtos deste tipo nos últimos dias.
“Houve uma queda de 66% (2/3) nas vendas de drinks-destilados comparado aos finais de semanas anteriores. Impacto também na venda de vinhos, 30% a menos. Já a cerveja manteve a mesma média de consumo. Não aconteceu a migração. Percebemos que as pessoas evitaram consumir bebidas alcoólicas. Gerando um aumento de 40% nos não alcoólicos”, indicou.
BARES ESPECIALIZADOS
Um dos bares mais reconhecidos e referências em drinks e bebidas do tipo, o BomBar RV foi um dos que sofreram impactos na venda de bebidas destiladas. A sócia do local, Gabi da Oxe, disse ao BN que foram adotadas promoções de cerveja e enlatados para compensar a queda no consumo de destilados. Ela considerou que as promoções de cerveja ajudaram a manter o faturamento e o fluxo.
“Houve sim uma diminuição brusca no consumo de destilados. Na verdade, a gente teve uma diminuição de 95% neste consumo. Esse consumo foi quase 100% de cerveja e enlatados. Tanto é que adotamos a postura de promoções de cerveja, promoção de balde de cerveja e enlatados, justamente já avisando que isso poderia vir a acontecer. Acredito que foi isso que salvou o nosso faturamento e o nosso fluxo. Talvez se não houvesse essas promoções não teríamos um fluxo alto e intenso, porque as pessoas sabem que a gente tem um cardápio de drinks muito vasto”, revelou.
Outro bar referenciado em destilados, o Oxe Drink também sentiu impactos. Conforme o sócio Matheus Cruz, cresceu o número de vendas de cervejas e vinhos, mas que a influência é momentânea.
“Tivemos, sim, um leve aumento na venda de cervejas e vinhos. Acredito que esse impacto é momentâneo. O público está entendendo, aos poucos, que não se trata do produto em si, mas de práticas criminosas isoladas”, ponderou.
Ele finalizou ainda indicando que os empresários temem por conta de casos deste tipo. “Tememos, sim. E muito. Porque quando algo tão grave acontece, o medo não escolhe marca, ele atinge todo o setor. Infelizmente, acabamos pagando por quem age com má-fé”, concluiu.