Trump recusa diálogo com Lula e impõe tarifa de 50% ao Brasil: “Talvez em outro momento”

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta sexta-feira (11) que não pretende conversar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre a nova tarifa de 50% imposta a produtos brasileiros. A sobretaxa, anunciada na quarta-feira (9), é a maior entre as 22 medidas tarifárias adotadas pelo governo norte-americano nesta semana.

"Talvez em algum momento eu converse, mas neste momento, não", declarou Trump ao ser questionado por jornalistas sobre um possível diálogo com Lula a respeito das medidas. Em tom de crítica, o republicano voltou a defender o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a quem considera vítima de perseguição política no Brasil.

"Ele [Lula] está tratando o presidente Bolsonaro de forma muito injusta. Eu o conheço bem. Eu negociei com ele. Ele é um negociador muito duro. Posso lhe dizer, ele é um homem muito honesto", disse Trump, reforçando a narrativa de que o ex-mandatário brasileiro é alvo de uma “caça às bruxas”.

Na carta enviada ao governo brasileiro justificando a nova política comercial, Trump cita os "ataques insidiosos do Brasil às eleições livres e aos direitos fundamentais de liberdade de expressão dos americanos" como uma das razões para a imposição da tarifa. Também acusa o país de práticas comerciais desleais e de aplicar barreiras tarifárias e não tarifárias que prejudicariam os interesses dos EUA.

No entanto, os dados comerciais mais recentes contradizem a fala do presidente americano. Segundo o Departamento de Comércio dos EUA, o país mantém um superávit na balança com o Brasil, ou seja, exporta mais do que importa. Ainda assim, Trump insiste na retórica de que as políticas comerciais brasileiras criam um ambiente hostil aos produtos e valores americanos.

A retaliação tarifária e a recusa em dialogar com o governo Lula evidenciam o distanciamento político entre os dois presidentes, que têm visões opostas sobre democracia, comércio internacional e relações multilaterais. O embate ocorre dias após Lula ter publicado um artigo em jornais internacionais criticando o protecionismo e defendendo o multilateralismo como caminho para conter crises globais. Embora sem citar Trump diretamente, o texto foi visto como uma resposta à nova postura da Casa Branca.

Nos bastidores do Itamaraty, a expectativa é de que a situação escale para o campo diplomático, uma vez que o Brasil poderá recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC) para contestar a sobretaxa, especialmente por seu caráter político e unilateral.