Congregação semelhante a de Leão XIV, irmãs negras Agostinianas de Salvador apostam crescimento de "estilo"
Por Victor Hernandes
“Eu sou filho de santo Agostinho, eu sou agostiniano!’, parte dessas palavras foram entoadas pelo novo pontífice da Igreja Católica Apostólica Romana, o Papa Leão XIV, durante seu discurso de apresentação, após o anúncio de que o Conclave tinha sido encerrado, e que o catolicismo teria um novo “pastor” para apascentar as ovelhas.
Pregando união, construção de pontes e diálogos, o sacerdote deu indícios do que deverá ser o seu papado, e de algumas das questões que podem ser fomentados e elucidados durante sua missão. Tanto em questões sociais, a exemplo de imigrantes, olhar social direcionado para os mais necessitados, sustentabilidade, o pontificado de Leão pode ter fortes marcas também na questão espiritual e religiosa, e voltada para as doutrinas da Santa Sé e do Catolicismo.
Isso porque o líder religioso é um agostiniano, como bem declarou e fez questão de enfatizar nesta quinta. Isso se traduz em seguir a linha de pensamento de Santo Agostinho, o mártir considerado doutor da Santa Igreja. Conhecida também como Ordem Agostiniana ou Frades Agostinianos, a linha de pensamento foi criada em 1244.
O grupo de seguidores e o carisma de Santo Agostinho foi crescendo e atingindo diferentes padres, diáconos, leigos, ministérios, igrejas, paróquias, santuários e também freiras. Na Bahia, mais precisamente em Salvador, a Congregação das Irmãs Negras Agostinianas, mantém o legado do santo na religião.
Elas fazem parte da única congregação agostiniana existente na capital baiana, já que o grupo masculino desse mesmo tipo, que existia antes na cidade, precisou sair para nova missão em outra localidade.
Em entrevista ao Bahia Notícias, a irmã Rita de Cássia dos Santos, uma das integrantes da congregação, celebrou acerca de ter um papa, autoridade máxima da religião, com o mesmo carisma dela.
“Para gente é muito importante. Ter um novo papa já é essencial, mas sabendo que ele é agostiniano melhor ainda, pois vai nos ajudar também a caminhar na linha de Santo Agostinho. Caminhamos nessa linha de ajudar o próximo, de estar vendo os mais necessitados, de estar seguindo a vida dele [Santo Agostinho]. É o mesmo caminho que a gente faz de missão e de viver a vida fraterna”, comemorou.
Fundada na Bélgica em 1361 e chegada ao Brasil em 1966, estando presente em território cearense também, no solo baiano, o grupo é composto por 11 freiras, que, além dos votos de castidade, optaram por imitar intensamente o filho de Santa Mônica.
“A congregação das agostinianas segue as regras de Santo Agostinho. Ele foi também um ser humano normal que se converteu e se tornou bispo de Roma, e teve uma vida com regras, que a gente segue e estuda. Então, por isso seguimos a vida espiritual dele”, explicou.
A irmã ainda explicou que um dos pilares da santidade é também vivido por ela com as outras freiras. Castidade, pobreza, obediência e humildade. Uma vida sem vaidades, ostentações, riquezas e suntuosidade.
“Santo Agostinho é como se fosse um livro de oração que inspira a viver na pobreza, sem querer luxo. A gente não vive na vida de querer o caro. A gente vive na humildade através dos votos de obediência à castidade e pobreza”, explanou Rita, ordenada freira há 31 anos e 23 anos de votos agostinianos.
CRESCIMENTO E MISSÃO NA BAHIA
Uma das apostas da religiosa, com um papa assumidamente augustiniano, é que mais outras pessoas se interessem pelo lema de vida a Santo Agostinho, e que o carismático católico tenha mais espaço e seja mais conhecido até por não católicos, em Salvador, por exemplo.
“Acredito que a gente pode ter um avanço. A nossa congregação caiu muito porque algumas irmãs foram envelhecendo e as mais novas foram chegando na faixa dos 46 anos. Acreditamos que esse trabalho de missionário e agora com um papa pode nos ajudar na espiritualidade. Podemos dar novos passos”, disse esperançosa.
Peregrinas e em missão, uma parte dessas freiras vivem na “Casa da Paz”, no bairro do São Gonçalo do Retiro, e fazem parte das atividades da paróquia do bairro, em uma casa construída pelas irmãs que trouxeram o movimento para a capital.
Já a outra parte vive no bairro do Saboeiro, participando das atividades da Paróquia de Santa Dulce, e outras na Boca do Rio. A freira revelou que com o aumento da disseminação dos agostinianos, a congregação dela pode obter um crescimento futuro.
“Somos poucas, mas antes eram muitas irmãs. Acredito que agora a gente vai poder ajudar mais com esse papa sendo agostiniano, isso pode nos ajudar a crescer, não só em quantidade, mas também crescer em qualidade”, ressaltou.
A projeção chega após as religiosas estenderem-se em peregrinação para a cidade de Maragojipe, Cruz das Almas no Recôncavo Baiano, entre outras.
DESAFIOS E RESISTÊNCIAS
Mesmo dando os passos e seguindo o legado do doutor da Igreja Católica, uma das maiores religiões e instituições mundiais, as religiosas ainda enfrentam algumas dificuldades e resistências.
Nos últimos anos, por exemplo, após a morte do antigo pároco da Paróquia São Gonçalo do Retiro, Maurício Abel, que ajudava e prestava suporte a essa missão, elas passaram a enfrentar um desafio, tendo que ir para outros lugares. Isso porque, segundo elas, por não serem amparadas pelo novo pároco que assumiu a administração da igreja do bairro.
“A gente já não está mais fazendo o serviço que fazíamos por causa do pároco, que acabou não aceitando a gente. Não trabalhamos praticamente nas comunidades da paróquia. Nossa casa no São Gonçalo já está à venda inclusive”, afirmou.
O serviço das irmãs, no entanto, ainda continua e pode ser conhecido na Paróquia de Santa Dulce dos Pobres, no bairro do Saboeiro, para quem deseja conhecer mais sobre o segmento agostiniano.
Foto: Arquivo Pessoal / Arquidiocese de Salvador
Foto: Arquivo Pessoal / Arquidiocese de Salvador