VÍDEO: Policial civil de folga é espancado por PMs em serviço no carnaval de Salvador
Por Redação
O carnaval de Salvador era para ser uma fantasia eterna, onde a paz sempre vence a guerra. Mas infelizmente, nem sempre é assim. A violência na folia soteropolitana deixou mais uma vítima traumatizada. Desta vez, um policial civil, que curtia seu dia de folga como folião pipoca no circuito Barra-Ondina.
A vítima da vez foi Adson Gomes Miranda, um homem negro e de dreads, que tirava foto de uma amiga nas proximidades do Cristo da Barra, quando começou a ser agredido por policiais da tropa de Choque da Polícia Militar do Estado da Bahia (PM-BA) em meio à multidão de foliões.
Em um áudio gravado por Adson e encaminhado pelo Sindicato dos Policiais Civis da Bahia (Sindpoc) ao Bahia Notícias, a vítima afirma que o motivo da violência foi preconceito racial.
“Todos sabem a covardia a qual eu fui submetido na terça-feira de carnaval. A abordagem, de forma criminosa, desastrosa e preconceituosa a qual fui submetido, é algo que infelizmente ainda permeia a sociedade brasileira. Há esse resquício ainda de escravidão e de preconceito racial”, avaliou Adson.
Ainda segundo Adson, não havia nenhuma briga no momento em que a agressão ocorreu. Um trio com o cantor Leo Santana se aproximava, quando ele teria sido surpreendido pela violência dos militares.
“Estava eu, com uma pessoa que estava fazendo companhia a mim, fotografando ela, filmando ela, enquanto estava vindo o trio de Leo Santana. Chegou um prepostos desses aí – isso foi relato das pessoas que estavam lá e me disseram, mas eu não tive nem a oportunidade de ver –, parou do meu lado, me olhou de cima a baixo e começou a desferir fantadas em mim. Quando eu virei, ele me empurrou. Naquele momento, eu caí e os demais criminosos – racistas, nazistas – e a horda toda caíram em cima de mim”, relatou Adson.
Mesmo diante dos gritos da amiga com quem ele estava, que avisou que Adson se tratava, na verdade, de um policial civil, os militares teriam continuado a agressão. Após tentar interferir, a mulher – que não foi identificada – também acabou sendo agredida, sendo ferida na mão.
“No final, quando o esposo dela disse ‘ele é colega de vocês, ele é policial’, ainda foi um outro criminoso [policial militar, da tropa de Choque], em um ato covarde, e me deu um chute no rosto, que me arrancou três dentes, me deixou sequelas no olho esquerdo e, provavelmente, no maxilar – estou fazendo exames ainda”, contou Adson.
“Eu não sei até que ponto vai a fúria, a ira de um cidadão ou de uma horda, para com um cidadão negro, rastafari e indefeso, visto que não havia motivos para que eu tivesse sido tratado dessa forma. Não tinha tumulto, não tinha confusão, não tinha nada. Simplesmente pelo fato de ser negro e de ser rasta, eu quase tive a minha vida ceifada no circuito do carnaval”, lamentou, indignado, o policial civil.
Procurada pelo Bahia Notícias, a PM-BA afirmou apenas que “o fato está sendo apurado”.
A Polícia Civil da Bahia, também acionada pelo BN, respondeu que a ocorrência da agressão foi realizada em um dos postos da corporação no circuito Barra-Ondina, onde foram realizadas as oitivas e expedidas as guias periciais.
O caso foi encaminhado para a 14ª Delegacia Territorial (DT Barra), que ficará responsável pela investigação do caso. O Departamento de Polícia Metropolitana (Depom), no qual o Adson é lotado, também está acompanhando o caso.