Com bolsas da Fapesb congeladas desde 2013, pesquisadores vivem sufoco e cobram reajuste
por Anderson Ramos / Lula Bonfim

Há pelo menos nove anos, as bolsas da Fundação de Amparo à Pesquisa da Bahia (Fapesb) estão com o valor congelado, sem correção pela inflação. No último dia 25 de março, um grupo de pesquisadores do estado protocolou, junto ao governo, um documento em que eles reivindicam o reajuste, junto a um abaixo-assinado com a assinatura de mais de 1.100 pós-graduandos.
Na Bahia, um pesquisador mestrando recebe bolsa no valor de R$ 1.500, enquanto um doutorando fica com R$ 2.200. Esses valores são os mesmos desde 2013, quando houve reajuste na Fapesb, ainda no governo Jaques Wagner (PT). Durante os mais de sete anos de gestão Rui Costa (PT), não houve qualquer mudança.
Para comparação, um bolsista mestrando da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo) recebe bolsa de R$ 2.494,20; e o doutorando ganha R$ 4.285,50 por mês. No Nordeste, a Facep, de Pernambuco, remunera com R$ 2.000 o pesquisador em mestrado e em R$ 3.000 o de doutorado.
Um dos envolvidos na mobilização, Caíque Sobreira revelou que boa parte dos pesquisadores da Fapesb vive hoje uma situação financeira complicada, devido à falta de reajuste das bolsas pagas pelo governo.
“É uma escassez muito grande. Para a maioria das pessoas que participam de seleção para conseguir uma bolsa, aquilo ali é o salário deles. Como mostram os dados, o poder de compra caiu muito mais que a metade. A pessoa que tem um contrato de exclusividade e só pode trabalhar pesquisando. Ou seja: ela não pode buscar um emprego de 44 horas para complementar a renda. Ela tem que trabalhar exclusivamente para o estado ganhando R$ 1.500 e aí fica bem complicado”, explicou Sobreira, em entrevista ao Bahia Notícias.
De acordo com os pesquisadores, em 2013, quando houve o último reajuste, uma bolsa de doutorado equivalia a 3,24 salários mínimos, enquanto a do mestrado tinha valor equivalente a 2,21 salários.
Hoje, com a falta de correção anual da Fapesb, a inflação corroeu o poder de compra dos pesquisadores. A atual bolsa de doutorado corresponde a 1,81 salário mínimo e a de mestrado apenas 1,23 salário.
Sobreira contou ao Bahia Notícias que o grupo até tentou negociar com a Fapesb para retirar a exclusividade do contrato das bolsas, possibilitando que os pesquisadores também pudessem trabalhar fora do Estado, como um complemento de renda. Entretanto, não se chegou a um consenso.
“A gente vê várias pessoas que vêm do interior para estudar e tem que dividir um quarto com mais três bolsistas. A gente até conversou com a Fapesb, para tentar resolver ao menos liberar o trabalho. Eles não liberaram. Ou seja: continua do mesmo jeito e o bolsista não pode trabalhar por fora, com um contrato de exclusividade com o estado com um valor muito baixo”, afirmou o pesquisador.
Procurada pelo Bahia Notícias, a Fapesb respondeu que tem feito estudos internos para analisar a possibilidade de um reajuste no valor das bolsas de mestrado e doutorado. Entretanto, não houve garantia de alguma mudança.
“A Fapesb ressalta que é a única agência de fomento, incluindo também as financiadoras federais, que promoveu prorrogação de bolsas sem prejudicar a concessão de novas. A prorrogação dessas bolsas e implementação de novas, diferente de outras FAPs, que prorrogaram e ficaram impedidas de conceder novas bolsas por questões orçamentárias, é mais uma prova do compromisso da Fapesb com a pesquisa na Bahia”, disse a fundação, em nota.
Segundo a Fapesb, há a necessidade de realizar esse estudo de forma minuciosa e cautelosa, para não comprometer a implementação de novas bolsas. Enquanto isso, os pesquisadores seguem passando sufoco.
“A situação é muito difícil para a maioria dos pesquisadores. Quem tem apoio familiar consegue sobreviver, mas quem vem de outras cidades que não têm universidade vivem em uma situação muito precária, de alimentação e de habitação”, finalizou Sobreira.
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