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Dependência baiana por fertilizantes russos já preocupa Seagri

Por Vitor Castro

Dependência baiana por fertilizantes russos já preocupa Seagri
Foto: Reprodução / Pixabay

Passados nove dias desde a invasão russa à Ucrânia, a economia global já começa a sentir as consequências da guerra. No Brasil, segundo analistas, um dos maiores impactos será sentido na agricultura, já que o país importa grande parte dos fertilizantes da nação russa, que tem sofrido diversas sanções econômicas.

 

Na Bahia, para tentar minimizar os impactos, na próxima semana representantes da Secretaria de Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e Aquicultura (Seagri) se reunirão com produtores visando encontrar os melhores caminhos caso ocorra um possível desabastecimento dos insumos. 

 

A produção agrícola do estado tem ganhado força nos últimos anos. A soja cultivada na região Oeste, por exemplo, representa quase 60% de toda a produção da região Nordeste de acordo com os dados da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba). 

 

No solo baiano também são produzidas outras culturas como algodão, milho e café. Mas para que a produção alcance o mercado externo ou se torne, por exemplo, matéria prima para ração utilizada na pecuária e avicultura, a semente precisa de tempo e nutrição até alcançar o ponto de colheita. É aí que entram os fertilizantes. 

 

À frente da Seagri, João Carlos Oliveira pondera que os solos brasileiro e baiano tendem a uma escassez de nutrientes como o potássio, fósforo e nitrogênio. Justamente os importados da Rússia. “Nosso solo é muito dependente destes adubos químicos. Cerca de 25% de todo o fertilizante importado para o Brasil em 2021 foi oriundo da Rússia. A questão da guerra dificulta a importação por conta do fechamento de portos. Já a alta do preço do petróleo também afeta o transporte dos fertilizantes”, esclarece. 

 

De acordo com o secretário, mesmo antes do conflito começar na prática, a crise diplomática lá já interferia no plantio aqui. “Isso aumentou muito o custo de produção. Embora nossas commodities [soja, algodão, celulose, café] estejam bem situadas no mercado internacional, nos últimos 60 dias já tinha uma tendência para tal, e aumentou muito o custo de produção. Isso é extremamente preocupante”, destacou. 

 

O secretário explica que um ponto positivo a ser analisado é o fato da safra do primeiro semestre já estar plantada. Com isso é sabido que os produtores têm estoque de fertilizantes para os primeiros seis meses do ano. O problema é o futuro incerto, por isso o secretário defende o que chamou de uma ‘postura proativa e de preocupação desde agora’. 

 

"Estamos ouvindo os segmentos, dialogando e ampliando essa discussão neste primeiro momento. No próximo dia 10 vamos realizar um webnário para discutir com técnicos e representantes de outras instituições essa questão do aumento do insumo agrícola, em especial dos fertilizantes e o que isso impacta economicamente com o custo da produção”, disse. 

 

A pasta está recomendando que agentes agrícolas e os produtores invistam em técnicas que reduzam o consumo das substâncias. “Por exemplo, na minha condição de agrônomo entendo que você pode trabalhar com uma reavaliação do manejo. Alternativas como a rotação de culturas, com incorporação de plantas que agregam nutrientes ao solo como algumas leguminosas. Também podemos fortalecer a agricultura de precisão para evitar desperdício de fertilizantes. Tudo isso precisa ser repensado e incorporado nesse momento que vivemos”, ponderou. 

 

ALTERNATIVAS

Uma das alternativas defendida pelo secretário de Agricultura da Bahia é a busca de outros produtores de insumos agrícolas caso a Rússia deixe de ofertar os fertilizantes. Nesta terça-feira (1º), por exemplo, a Belarus, país aliado à Rússia, anunciou que não conseguirá exportar sua produção de fertilizantes para o Brasil por conta de um bloqueio feito pela Lituânia.

 

A busca por outros produtores é vista como viável pelo especialista e doutor em economia, Antônio Carvalho. “É o que chamamos de substituição de importação. É claro que quando você tem um fornecedor que representa mais de 60% do que você compra, há aí uma dependência ainda que teórica, mas não é o único fornecedor do mundo”, avaliou.

 

Ainda de acordo com Carvalho, mesmo que não haja um desabastecimento, já que o Brasil poderá comprar os insumos de outros países, nada garante que os preços não serão superiores. “O Brasil compra em maior quantidade da Rússia muito possivelmente porque as condições de preço são as melhores. Se a Rússia não puder vender, vai ter que comprar de outros países com um preço elevado. Isso pode fazer com que fique mais caro produzir no Brasil, desembocando no preço do trigo, do pão, do cuscuz, do frango ou da carne bovina, por exemplo, já que a ração destes animais tem como origem os produtos da agricultura”, lembrou.