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Damares enviou equipe ao ES para tentar impedir aborto de menina de 10 anos, diz jornal

Damares enviou equipe ao ES para tentar impedir aborto de menina de 10 anos, diz jornal
Foto: Marcello Casal jr. / Agência Brasil

A ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, agiu nos bastidores para impedir o aborto da menina de 10 anos que foi estuprada pelo tio e engravidou no Espirito Santo. Damares nega.

 

De acordo com reportagem publicada pela Folha de São Paulo, a integrante do governo Bolsonaro enviou representantes da Pasta e aliados políticos para o estado, para tentar impedir a interrupção da gravidez. Eles teriam pressionado os responsáveis pelos procedimentos, em reuniões, e até oferecido benfeitorias ao conselho tutelar local.

 

Fotos obtidas pelo jornal paulista mostram que a própria Damares participou de umas reuniões por meio de videochamada.

 

A ministra ainda teria feito com que representantes dela vazassem o nome da criança à ativista Sara Giromini, que compartilhou a informação nas redes sociais. Isso viola o Estatuto da Criança e do Adolescente.

 

O ministério manteve contato virtual desde o dia 9 de agosto com os conselheiros tutelares Susi Dante Lucindo e Romilson Candeias. A intenção era conseguir mais informações sobre o caso e influenciá-los.

 

"Minha equipe está entrando em contato com as autoridades de São Mateus para ajudar a criança, sua família e para acompanhar o processo criminal até o fim", escreveu Damares no Twitter, no dia 10 daquele mês.

 

Em uma missão do ministério na cidade, estiveram Alinne Duarte de Andrade Santana, coordenadora geral de proteção à criança e ao adolescente da Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, Wendel Benevides Matos, coordenador geral da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, dois assessores e, mais tarde, o deputado estaduall Lorenzo Pazolini.

 

Pazolini, que se tornaria candidato à Prefeitura de Vitória, protagonizou uma invasão a um hospital de Serra (ES) em junho. A ideia dele era provar que leitos de UTI estavam vazios, após incentivo do presidente Jair Bolsonaro.

 

A representante de Damares, Alinne, ofereceu, durante as reuniões com os conselheiros tutelares, o chamado "kit Renegade". O "presente" contém um Jeep Renegade, que custa em torno de R$ 70 mil, além de equipamentos de infraestrutura (ar condicionado, computadores, refrigeradores, smart TVs e outros).

 

De 2019 até agosto de 2020, a pasta da Família e Direitos Humanos afirma que entregou kits parecidos para 672 conselhos tutelares por todo o Brasil. Dentre eles, 16 foram no Espírito Santo. Os bens são adquiridos com emendas parlamentares.

 

Em meio às tratativas, o Hospital São Francisco de Assis (HSFA), da cidade de Jacareí (SP), enviou quatro representantes para propor assumir os cuidados médicos da menina. Eles foram recepcionados por Alinne, e pretendiam realizar o pré-natal da vítima de estupro até que ela ficasse pronta para o parto.

 

Entre os parceiros do hospital, estão a Igreja Quadrangular, que teve como expoente no Brasil o pai de Damares, Henrique Alves Sobrinho. A própria ministra já foi pastora do local.

 

Após a proposta não ser aceita, os comandados de Damares teriam partido para uma estratégia de intimidação. Um morador de São Mateus, denominado Pedro Teodoro, foi à casa da família da vítima dizendo que estava ali para orar.

 

No entanto, ao adentrar o recinto, agrediu a avó e responsável pela criança verbalmente. O Hospital Universitário Cassiano Antonio Moraes (Hucam) já tinha se recusado a realizar o aborto, e o procedimento foi transferido para o Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (Cisam), no Recife (PE). Recentemente, Pedro se lançou candidato a vereador em São Mateus pelo PSL.

 

Pessoas tentaram atrasar a alta médica da menina no Hucam, e isso impediria que ela viajaria para Recife. Depois, veio o vazamento dos dados dela e ocorreram diversas manifestações contra o aborto, inclusive de uma pessoa que teria entrado no Cisam no posta malas de um carro.

 

No Rio de Janeiro, o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ) protocolou um pedido para que Damares explique a atuação de sua equipe no Congresso

 

"A Damares não é diversionista, como por muito tempo muita gente leu. Ela é estratégica, é a argamassa desse campo fiel a Bolsonaro que é movido pelo ódio, pelo medo e que vai ao Brasil Mais profundo", afirmou Freixo, à Folha de São Paulo.

 

O Ministério da Família e dos Direitos Humanos se posicionou sobre o assunto, dizendo que a equipe foi a São Matues pra "acompanhar a atuação da rede de proteção à criança vítima e oferecer suporte do MMFDH e da Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (SNDCA), no sentido de fortalecimento da rede de apoio às crianças vítimas de violência".

 

"O objetivo era avaliar eventuais dificuldades na pretação do serviço, identificando necessidades", disse ainda a pasta, sobre o encontro na sede da prefeitura da cidade.

 

Outro assunto comentado foi o "kit Renegade". Segundo o ministério, conselheiros tutelares relataram a necessidade de melhoria nos equipamentos básicos, como a possibilidade de mais um veículo para diligências.

 

Enquanto isso, o Hospital São Francisco de Assis de Jacarei afirmou que não enviou médicas para a cidade onde a menina estava internada. "O Hospital ofereceu ao juiz da comarca que acompanhou o caso sua estrutura física e técnica, pelo fato de ser um hospital preparado para gestação de alto risco, caso a decisão fosse levar adiante, sendo tal oferta condicionada à autorização de representante legal e/ou da Justiça", explicou, por meio de nota.

 

Damares comentou ainda o assunto em entrevista ao programa Conversa com Bial, da TV Globo, que foi ao ar na última quinta-feira (21). A ministra disse discordar do processo de aborto, e considera que o correto seria aguardar mais duas semanas para antecipar o parto.

 

"Eu acredito que o que estava no ventre daquela menina era uma criança com quase seis meses de idade e que poderia ter sobrevivido", afirmou ela.

 

Sobre o vazamento de informações da criança de 10 anos, Damares declarou que "põe a mão no fogo" por seus assessores, e que não foram eles que fizeram isso. O Ministério Público do Espírito Santo está investigando os dois.