Bolsonaro exonera diretor-geral da PF, Maurício Valeixo
por Glauber Guerra / Ailma Teixeira / Fernando Duarte

Maurício Leite Valeixo não é mais diretor-geral da Polícia Federal (PF). A exoneração foi publicada nesta sexta-feira (24) no Diário Oficial da União (DOU) e assinada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e pelo ministro da Justiça, Sérgio Moro.
No Diário Oficial, a justificativa para exoneração é de que foi um pedido do próprio Maurício Valeixo. Mas, na quinta (23), se repercutiu a notícia de que a troca no comando do órgão era um desejo do presidente, que quer ter um nome alinhado a ele à frente da PF. Vale ressaltar ainda que a assinatura de Moro no ato é protocolar e não representa, necessariamente, a anuência dele.
Segundo o jornal Folha de S. Paulo, o incômodo do presidente com a corporação só aumentou com recentes inquéritos sobre um suposto esquema de fake news para atacar autoridades e as manifestações pró-golpe militar, que têm sido promovidas por grupos bolsonaristas.
No entanto, Valeixo é considerado um homem de confiança de Moro. Ele trabalhou como superintendente da PF na Lava Jato, quando o ministro era o juiz federal responsável pelos processos da operação na 13ª Vara Federal de Curitiba.
Por conta dessa iminente demissão, Moro avaliou deixar o cargo de ministro (leia mais aqui). De acordo com o blog de Cristiana Lôbo, no G1, na tarde de ontem, ele disse a Bolsonaro que se Valeixo saísse, sairia em seguida. Já a Folha de S. Paulo foi ainda mais além, confirmando o pedido de demissão. Mas outros ministros tentam convencer o ex-juiz a ficar e a condição dele no governo federal está sendo negociada.
Havia a expectativa de que Bolsonaro não tomasse nenhuma medida enquanto seus auxiliares trabalham pela permanência de Moro, porém, como a exoneração foi publicada, a situação do ministro ficou ainda mais indefinida.
RELAÇÃO COM BOLSONARO
Anunciado como um dos “superministros” a integrar a gestão, Sergio Moro viu seu poder sendo minado pelas ações do presidente Bolsonaro, que o desautoriza em diversas ocasiões. Por exemplo, em agosto do ano passado, o capitão demitiu Ricardo Saadi da superintendência da PF no Rio de Janeiro. Para a corporação, contrária à mudança, isso demonstrou a interferência do presidente no órgão, o que Bolsonaro confirmou ao reclamar que se não pudesse trocar o superintendente, trocaria o diretor-geral.
Na época, Valeixo ficou no cargo, mas Saadi saiu e o poder de Moro passou a ser ainda mais questionado. "Se eu trocar hoje, qual o problema? Está na lei que eu indico e não o Sergio Moro. E ponto final", disse Bolsonaro na ocasião.
Mais recentemente, em meio à crise da Covid-19, a imprensa nacional expôs a insatisfação do presidente com o ministro, pois nos bastidores ele apoiou a postura do agora ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.
Além disso, há o episódio da sanção do pacote anticrime, quando Bolsonaro atendeu poucas sugestões de veto feitas pelo Ministério da Justiça e, depois, sugeriu a possibilidade de recriar o Ministério da Segurança Pública, reduzindo o poder de atuação de Moro (veja aqui e aqui). (Atualizada às 7h27)
Notícias relacionadas
Notícias Mais Lidas da Semana
Podcasts

'Terceiro Turno': Antes tarde do que nunca? Após 11 meses, Bahia adota ensino remoto
O governo da Bahia definiu o modelo e data para a retomada das aulas, suspensas há mais de 11 meses. Em 15 de março, a rede estadual da Educação vai começar as atividades escolares em um ano letivo "2 em 1" e de forma 100% remota. A decisão é compreensível, já que a Bahia enfrenta agora o pior momento da pandemia da Covid-19, com o sistema de saúde pressionado e à beira do colapso. Mas por outro lado surgem questionamentos sobre o motivo dessa medida não ter sido adotada antes, já que escolas do país inteiro, e até de alguns municípios da Bahia, usaram a estratégia desde o ano passado. No episódio do podcast Terceiro Turno desta sexta-feira (25), os jornalistas Ailma Teixeira, Jade Coelho e Bruno Luiz discutem pontos polêmicos do protocolo divulgado pelo governo baiano.
DESENVOLVIMENTO SALVANDO VIDAS
Ver maisFernando Duarte

'Lockdown à baiana' foi servido sem acompanhamentos
O endurecimento das medidas restritivas na Bahia foi anunciado de maneira atabalhoada. Horas antes de o governador Rui Costa apresentar formalmente as “restrições de atividades”, a prefeita de Lauro de Freitas, Moema Gramacho, resolveu “furar” o aliado e confirmou o fechamento de atividades não essenciais entre 17h de sexta-feira (26) e 5h de segunda (1º). A medida era esperada. A forma como acabou anunciada, com uma antecedência tão pequena, não.
Buscar
Enquete
Artigos
O caos não é apenas sanitário. É jurídico e moral também: 'O Brasil não é para amadores'
Tenho sempre neste valioso canal de comunicação e debate, me detido a desenvolver reflexões no âmbito jurídico, sempre com o compromisso (ou pelo menos, tentado) de analisar o impacto jurídico promovido pelos nossos legisladores, sempre tão obcecados pela política na sua acepção mais desnutrida e partidária.