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Odorico Tavares foi sacrificado lentamente para que fim fosse justificado

Por Fernando Duarte

Odorico Tavares foi sacrificado lentamente para que fim fosse justificado
Foto: Google Street View

O fim do Colégio Estadual Odorico Tavares é repleto de simbolismos. A unidade foi sendo sacrificada aos poucos, em doses homeopáticas, para que a morte por inanição fosse facilmente justificada. Pelo menos é esse o principal argumento utilizado pelo governo da Bahia para pôr fim à escola. Segundo as desculpas públicas, houve baixo interesse da população em matrículas e, por isso, o Odorico não deveria permanecer aberto. A comunidade escolar, todavia, reclama dessa versão. É um conflito de interesses em um espaço popular incrustado no alto luxo do Corredor da Vitória.

 

Há uma disputa de classes, ainda que isso não seja explícito. Desde sempre, parte da elite soteropolitana que mora naquela região não se sente confortável em dividir a área com representantes de comunidades carentes. À época da inauguração do Odorico Tavares, havia uma demanda alta por colégio público naquele trecho para que empregados e os filhos deles tivessem uma oportunidade de permanecer na escola enquanto conciliavam com o emprego. No passado recente, essa demanda parece ter diminuído, já que o número de matriculados caiu de pouco mais de 1 mil em 2015 para 308 no ano passado.

 

Não é isso que professores e estudantes sugerem. Sem se identificar por medo de represálias, óbvio, a comunidade cita a possibilidade de um boicote, ano a ano, para dificultar a chegada de novos estudantes. Foi uma morte lenta e, aparentemente, planejada. Em meio ao fechamento do colégio, a alternativa de venda do espaço, localizado numa área nobre da capital baiana, só aumenta a especulação de que houve uma programação. A medida, via projeto de lei tramitando em regime de urgência, parece uma expressão popular para viúvos e viúvas recentes que engatam um relacionamento: não esperou nem o corpo esfriar.

 

Antes de decretar o fim do Odorico Tavares com a venda para a iniciativa privada, muitas alternativas poderiam ser discutidas. Não houve esse debate, ao menos não publicamente. Incrustado no centro de Salvador, o colégio poderia virar um espaço cultural, poderia ser integrado à comunidade, poderia continuar até mesmo sendo um colégio, desde que houvesse manutenção ou preocupação em ter um espaço propício para o ensino. Não o estado de abandono que se viu ao longo dos últimos anos.

 

Ah, mas os alunos serão realocados para escolas das proximidades. Ah, mas serão construídas 60 novas unidades em Salvador e na região metropolitana. Que ótimo! Parabéns aos responsáveis por cumprirem as obrigações para as quais foram designados. Porém não reclamem quando houver críticas negativas ou se as pessoas envolvidas com a comunidade escolar resolverem resistir. É parte do processo. E fica a sugestão aos governantes: por mais que a educação do país não seja a ideal, não achem que somos ignorantes. O baiano é esperto por natureza.

 

Este texto integra o comentário desta sexta-feira (10) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para as rádios Irecê Líder FM, Clube FM, RB FM, Valença FM e Alternativa FM de Nazaré.