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De adversários a inimigos, como erramos na arte de fazer política

Por Fernando Duarte

De adversários a inimigos, como erramos na arte de fazer política
Foto: Max Haack / Ag. Haack / Bahia Notícias

Gosto de Jaques Wagner. Nem de longe ele é uma unanimidade e discordo de muitas posturas dele. Porém as avaliações políticas que o ex-governador baiano faz, independente do posicionamento partidário, merecem ser valorizadas. Ontem, durante um encontro em Portugal, Wagner atacou um ponto importante da crise institucional que vivemos: ao invés de vermos o diferente como adversário, estamos encarando-o como inimigo. Talvez por isso vivamos tão inertes.

 

Não é de agora que lidamos com essa sombra do “inimigo oculto”. Ela tem sido tão presente que fez com que eu, mesmo sendo tradicionalmente moderado, tenha enfrentado o argumento contrário como uma espécie de afronta à minha forma de pensar em um primeiro momento. Todavia, o exercício da paciência tem segurado bastante os arroubos. Até mesmo quando vejo os adjetivos utilizados pelos leitores quando escrevo algo que os desagrada.

 

A dialética, então, está completamente subjugada como forma de interação social. Isso acontece desde menores círculos sociais, como em grupos de WhatsApp, até grandes esferas públicas, como as publicações de políticos em redes sociais. Enquanto muitos se digladiam por meio de declarações inócuas, o Brasil continua com problemas cada vez maiores, a exemplo dos 12 milhões de desempregados.

 

O inimigo agora é o outro e isso não é um título de filme de ação brasileiro. O anacronismo é tanto que o alto escalão do governo federal – e a família Bolsonaro – não para de transformar eventuais adversários em, digamos, inimigos. Vide o caso do vice-presidente, Hamilton Mourão. Em quase quatro meses desde a posse, sobram momentos em que o vice é compelido a se tornar um inimigo público por quem deveria zelar pela serenidade institucional.

 

Jair Bolsonaro, que ainda não vestiu efetivamente a faixa presidencial, tem até demonstrado mais maturidade em período recente. Todos torcemos por isso, inclusive. Na briga entre o guru Olavo de Carvalho e os militares, o presidente manteve distância regulamentar e, em certo ponto, conseguiu isolar as posturas do autointitulado filósofo. Já o pitbull Carlos Bolsonaro, para usar a terminologia empregada pelo pai, segue sem uma focinheira capaz de controlar os ímpetos que colocam a República em alerta constante. Não há nada de novo nas posturas, porém não dá para esquecer que os filhos podem ser considerados reflexos dos pais e isso assusta.

 

Precisamos evitar criar cenários hipotéticos quando falamos da política brasileira. Até porque a realidade é distópica o suficiente para nos fazer crer nos piores pesadelos, em que estaríamos em uma situação tão imprevisível como a atual. Porém não dá para não pensar em como o Brasil teria sido se a então presidente Dilma Rousseff tivesse ouvido o seu ministro Jaques Wagner no Planalto. Talvez ali, Eduardo Cunha não se tornasse um inimigo real e a arte da política seria mais valorizada hoje. Ou seja, há tempos erramos na mão...

 

Este texto integra o comentário desta quarta-feira (24) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para as rádios Excelsior, Irecê Líder FM, Clube FM e RB FM.