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Cronologia: Os caminhos que (ainda não) levaram à ponte Salvador-Itaparica

Por Rebeca Menezes

Cronologia: Os caminhos que (ainda não) levaram à ponte Salvador-Itaparica
Foto: Divulgação

O projeto da ponte Salvador-Itaparica teve como berço a Secretaria Estadual de Planejamento (Seplan), que, quando a proposta foi anunciada pela primeira vez (relembre aqui), há 10 anos, era chefiada por Walter Pinheiro. Desde então, o projeto já foi tocado por outros quatro secretários: Antônio Alberto Valença (entre 2010 e 2011), Zezéu Ribeiro (entre 2011 a 2012), José Sergio Gabrielli (entre 2012 e 2015) e João Leão (de 2015 ao início de 2019). Em fevereiro deste ano, quando Pinheiro voltou à Seplan, já não tinha mais a ponte nas mãos: Leão assumiu a Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE) e levou o projeto, sua menina dos olhos, debaixo do braço. O vice-governador foi quem até o momento mais se aproximou de ver o sonho concretizado, mas tem os últimos 10 anos como um alerta: o projeto, além de caro, não é fácil.


Verdade seja dita. De março de 2009, quando foi anunciada pelo então governador Jaques Wagner pela primeira vez, o governo do Estado não demorou de agir em relação ao projeto da ponte. Já em janeiro de 2010, lançou o edital para a Proposta de Manifestação de Interesse (PMI) para que empresas se colocassem como interessadas em disputar a concorrência. Segundo a SDE, na época foram recebidas duas propostas de consórcios integrados por grandes empresas nacionais. Porém, o governo considerou que as contribuições apresentadas eram "insuficientes", e decidiu contratar a consultoria McKinsey & Company para "aprofundar o desenho e estruturação" do equipamento, partindo do que foi apresentado nas PMIs. A partir de então, a burocracia tratou de alongar, e muito, as coisas. A questão é que os políticos não queriam exatamente aceitar – ou ao menos transparecer – que não se tratava de algo simples de executar.


Em fevereiro de 2010, Walter Pinheiro disse que a ideia era "nacionalizar" o projeto, para que ele não ficasse restrito ao governo da Bahia, e inclui-lo no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal. "Os recursos serão utilizados para elaboração de estudos e no ano de 2010 vamos precisar muito da bancada para inclusão da ponte no Plano Plurianual, no Plano de Investimentos e no PAC, para garantir que quando a gente fizer o edital do vetor oeste tenhamos já parte expressiva de recursos para a construção da ponte", disse em entrevista ao Bahia Notícias. Não foi o que aconteceu. 


Ainda em 2010, Pinheiro deixou a pasta para disputar o cargo de senador pela Bahia. Foi substituído por Antonio Valença. Em julho do mesmo, o novo secretário sugeriu que havia pouco de concreto na ideia. À época, não estava sequer definido onde a ponte começaria e terminaria. Também não se sabia prazo ou valor do projeto. “As propostas podem trazer redimensionamento e novos trechos rodoviários. Certamente vai para a Ilha e vai sair de Salvador. Nós temos a expectativa de que haja conexão com a Via Expressa”, avaliou. “Não é um projeto pequeno. É projeto para bilhão, mas não temos uma ideia definida", disse, ao ser questionado sobre qual seria o investimento.


Em 2011, ocorreu uma nova troca de gestão da Seplan, que foi assumida por Zezéu Ribeiro (que morreu em fevereiro de 2015). Poucos meses depois de assumir o cargo, Zezéu participou de uma reunião com a então secretária da Casa Civil, Eva Chiavon, para discutir o cronograma de obras do Sistema Viário Oeste. Naquele ano, a previsão era que a ponte tivesse 11,7 quilômetros de extensão e 70 metros de altura. A ideia era lançar a licitação para a construção em 2014 e que as obras fossem concluídas em 2018. A partir daí, as previsões só mudaram.


Em outubro de 2012, por exemplo, o já senador Walter Pinheiro disse que a licitação para a obra poderia ser aberta no começo de 2013. Já em janeiro de 2013, quase um ano após assumir a Seplan, José Sérgio Gabrielli disse que sairia até março de 2014. Em agosto de 2014, durante campanha para o Senado, Otto Alencar disse que o projeto estaria pronto em outubro daquele ano e que, então, Wagner lançaria a licitação. Em outubro, Gabrielli chegou a anunciar, durante um seminário, que as obras da ponte começariam em agosto de 2015, com conclusão prevista para 2020.


Em março de 2015, contudo, a Seplan informou a chamada para a licitação só deveria acontecer no final daquele ano. Em dezembro, mais um adiamento: em nota, a Seplan disse que não havia mais prazo para o processo licitatório. “O cronograma foi modificado, primeiramente, em função da escala e complexidade do projeto, mas também pela evolução da conjuntura da crise econômica mundial”, justificou a pasta, em nota enviada ao BN.


Em março de 2016, o chefe da Casa Civil da Bahia, Bruno Dauster, reforçou o que seria o motivo da cautela: a crise econômica que atingiu mais forte o Brasil pouco tempo após a reeleição da presidente Dilma Rousseff. "Seria um equívoco a gente lançar nesse momento um edital, quando não tem garantia de alguém que não queira depois dar continuidade”, explicou Dauster em entrevista ao Bahia Notícias. "É um projeto também de valor muito elevado, em uma conjuntura muito difícil de se ter dinheiro. É normal que ele esteja em um estágio mais inicial”, afirmou, sete anos após o primeiro anúncio.


Somente em agosto de 2017 houve um avanço mais palpável na discussão sobre a construção da ponte: foi lançado um chamamento público com o objetivo de prospecção de mercado e de acolhimento de novas contribuições técnicas para os estudos realizados pelo Estado, um passo na direção da futura concessão da construção e operação do Sistema Rodoviário Oeste.


O chamamento deu um gás a mais ao governo do Estado, que começou a mostrar mais otimismo. Em dezembro daquele ano, Rui Costa chegou a dizer que o edital poderia já sair em 2018. "Estamos recebendo todos que queiram conhecer e detalhar [um projeto]. A partir de janeiro, nós podemos, com essa e as outras empresas interessadas, estruturar e montar o edital de licitação. Ocorrendo tudo bem, nós vamos lançar o edital ainda no primeiro semestre de 2018”, afirmou o governador. Em agosto de 2018, Rui ainda acreditava que as licitações sairiam até o fim do ano, promessa que foi refeita em outubro do mesmo ano. Novamente, não aconteceu.


Ainda assim, o governo defende que o lançamento da licitação está finalmente próxima. Ao BN, a SDE informou que espera-se que o contrato seja assinado ainda este ano e que estas atividades preliminares durem de 6 a 12 meses. Assim, as obras devem começar entre meados de 2020 e o início de 2021.


Na última quinta-feira (21), durante audiência pública realizada pela Secretaria de Infraestrutura do Estado (Seinfra) sobre o equipamento, Leão negou que houve "promessas" de entrega da licitação, e reforçou que se trata de um projeto complexo. "Não é promessa, isso é um projeto muito grande. Isso começou em 2010. Quando nós fizemos a Via Expressa, que é onde tem aqueles dois túneis, aquilo ali foi baseado no projeto da ponte Salvador-Itaparica. Então isso é uma conquista, e uma obra de R$ 6 bilhões você não vai conquistar do dia pra noite. É uma obra muito complexa, tem uma série de ações que nós tivemos que fazer, que projetar, com um cuidado muito grande do Estado da Bahia, dos parceiros, pra que o projeto ficasse perfeito. E estamos chegando aqui agora à perfeição", avaliou.

 

VER PARA CRER
Mas se o governo do Estado sempre acreditou que a ponte sairia do papel, essa não era uma crença compartilhada por todos. Em 2010, em um café da manhã com empresários, na Associação Comercial da Bahia, Emílio Odebrecht, que presidia o Conselho de Administração, revelou descrença na ponte bilionária: "Sou cético. Não acredito. Acho que temos muitas outras alternativas que convêm melhor, como uma pista por Candeias". Tudo isso muito antes do Grupo Odebrecht ser alvo da Operação Lava Jato.


Dias depois, seu filho Marcelo Bahia Odebrecht, então presidente da empreiteira, negou que a família fosse "contra" a obra. "Meu pai não se posicionou contra a ponte. Vamos ser claros: sendo o projeto do porte que é, a gente tem que estar consciente dos desafios. O que existe é a consciência de todos os desafios da construção, dos investimentos, com a sua magnitude, a oposição que tem. É um projeto que tem seus desafios, não quer dizer que somos céticos. O projeto nasceu com meu avô (Norberto). Temos que ter consciência dos desafios”, argumentou Marcelo Odebrecht.


Mas foi o ceticismo que marcou o tom da oposição a Jaques Wagner e Rui Costa nos últimos dez anos. Para o grupo, os governistas usaram a ponte durante esse tempo como um projeto "eleitoreiro", para convencer a população de que haveria uma obra desse porte mesmo quando havia pouco de concreto para apresentar.


As críticas pesaram ainda mais durante a campanha de 2014. Como Gabrielli era cotado para ser candidato do PT ao governo do Estado, apontava-se que sua nomeação como secretário de Planejamento seria uma forma de ligar seu nome ao imaginário da ponte, fazendo com que o equipamento fosse uma das principais promessas de campanha.


Com os ânimos exaltados em um clima de intensa disputa eleitoral, em maio daquele ano o grupo ligado ao prefeito de Salvador, ACM Neto, organizou na Câmara de Vereadores um "aniversário", com direito a bolo, para marcar os 5 anos do anúncio de Wagner. O à época vereador Léo Prates disse que era uma forma de protesto pelo andamento do projeto. “Ainda não se vislumbra um prazo para o início das obras”, criticou o democrata.

Foto: Divulgação

 

Durante as eleições de 2018, o candidato ao Palácio de Ondina José Ronaldo voltou a criticar o usou "eleitoreiro" do projeto. Ronaldo acusou João Leão de tentar "iludir o povo" ao divulgar que a empresa vencedora da licitação para a construção do equipamento seria conhecida uma semana após a eleição. "De promessa, o povo já está cheio. Promessas que não saem do papel, como a Fiol, o Porto Sul, a duplicação da estrada Ilhéus-Itabuna, a Ponte de Ilhéus e diversas outras são usadas politicamente para enganar os eleitores", apontou.