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Bolsonaro, 'príncipes' e a estratégia feudal de expandir os horizontes do 'reino' Brasil

Por Fernando Duarte

Bolsonaro, 'príncipes' e a estratégia feudal de expandir os horizontes do 'reino' Brasil
Foto: Reprodução/ Instagram

A Idade Média rendeu muito para a história do mundo. Um detalhe bem usual é a forma com que os nobres lidavam com as fronteiras e com outros nobres. Ao invés de negociações e conversas olho no olho, era comum que filhos desses nobres fossem enviados para fazê-lo. Era uma forma de respeito, mas também de evitar que o chefe da família ficasse exposto a um risco desnecessário, em meio a um ambiente de possível instabilidade. Quem iria querer por em risco a vida de um senhor feudal, quando para isso existiam filhos dispostos a sacrificar-se em prol de bem maior? Expandir o alcance do reino sempre foi a prioridade. Mesmo que, para isso, um dos filhos seja subjugado em outro feudo.

 

Pode parecer uma aula de história, mas não é. É uma alegoria do que tem acontecido no Brasil recente. O presidente Jair Bolsonaro se tornou um rei repleto de súditos - boa parte dando ao dono da coroa o status de representante de Deus na terra - e com os herdeiros Flávio, Carlos e Eduardo propagando a "boa nova" do pai. A diferença, todavia, é que a Idade Média ficou para trás há mais tempo do que Brasil existe. E não deveria acontecer o menor risco de voltarmos no tempo. 

 

As peripécias dos filhos do rei se intensificaram ainda durante a campanha eleitoral. Antes do segundo turno, uma fala de Eduardo sobre um soldado e um cabo para fechar o Supremo Tribunal Federal foi um marco. O discurso foi minimizado por Bolsonaro, que afirmou que o filho não quis ameaçar o STF ao sugerir o fechamento do órgão. O caçula  então foi para a reclusão e sumiu temporariamente dos espaços midiáticos. Nesse meio tempo, o clã descredibilizou quem falou sobre o tema e ficou por isso mesmo.

 

Depois, já com Bolsonaro eleito Eduardo voltou aos holofotes ao se tornar emissário do pai nos Estados Unidos. As gafes foram públicas e muitas delas notórias. Porém tudo dentro da lógica da política externa até agora defendida pelo presidente, como por exemplo da mudança da embaixada brasileira em Israel e os ataques à China, atual principal parceiro comercial do país. Como se não bastasse o tom errático de ter o filho do presidente como interlocutor internacional ao invés do chanceler do Itamaraty, Eduardo posou com um boné da possível campanha de reeleição de Donald Trump, algo que nem os americanos falam claramente. O mais velho então submergiu.

 

Quando a poeira baixou, foi a vez do filho do meio, Carlos. Ás nas redes sociais e idealizador do modelo de gestão que contribuiu para a eleição do pai, o vereador do Rio de Janeiro usou o Twitter para sugerir que pessoas próximas ao presidente queriam vê-lo morto. O discurso perfeito para teorias de conspiração que se reproduzem aos montes na internet e que provocou mais e mais tensão entre os brasileiros - sim, ninguém quer ver o chefe do Executivo morto antes de concluir o mandato, por mais que Bolsonaro desperte a ira de alguém, ainda mais com o contexto da facada. Carlos deixou o núcleo duro da transição e retomou o mandato na capital fluminense. 

 

Eis que, numa trama envolvendo Flávio, um ex-assessor dele e a primeira-dama Michele, o presidente foi colocado contra a parede por algo mais palpável do que as bravatas dos herdeiros. Movimentações suspeitas nas contas desse ex-motorista e subalterno do clã foram trazidas ao público em meio a um relatório de investigações de irregularidades na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. A cifra de R$ 1,2 milhão movimentada em um ano pelo agora ex-amigo inclui um cheque nominal para Michele, no valor de R$ 24 mil. Bolsonaro demorou para dizer que era a devolução de um empréstimo, que ele "errou" ao não informar à Receita. Deve passar sem muitos arranhões. Porém Flávio ainda não deu uma desculpa menos constrangedora. 

 

Tal qual na Idade Média, os príncipes feudais tiveram um papel relevante para expandir os reinos e os pensamentos do rei, mas também ajudaram a derrubar nobres quando colocavam os próprios interesses à frente daqueles que representavam. Agora, no Brasil de 2018, talvez seja importante ressaltar para a família Bolsonaro que não existe espaço para feudos ou cavaleiros dispostos a vestirem uma armadura achando que são invencíveis. Pois até as armaduras mais resistentes não são impenetráveis. (Atualizada às 19h55)

 

Este texto integra o comentário desta segunda-feira (10) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para as rádios Excelsior, Irecê Líder FM, Clube FM e RB FM.