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Targino Machado, o pseudo-voluntariado médico e a realidade cruel que nos assola

Por Fernando Duarte

Targino Machado, o pseudo-voluntariado médico e a realidade cruel que nos assola
Foto: Reprodução / Facebook

As recentes denúncias contra o deputado estadual Targino Machado (DEM) suscitam a discussão sobre os usos eleitoreiros que parlamentares fazem das próprias profissões. No caso específico, o deputado é médico e utilizaria uma associação como fachada para realizar atendimentos em troca de votos no período eleitoral. Para fazer a ação de “voluntariado”, Targino conta até mesmo com médicos como assessores parlamentares, lotados em seu gabinete, ajudando na ação beneficente.

 

Não são raros os casos de denúncias sobre usos de moral duvidosa das prerrogativas de um cargo. Recentemente, tivemos casos como um deputado federal que abasteceu um barco para visitar redutos eleitorais em pleno mês de janeiro, por exemplo. No entanto, Targino Machado consegue a proeza de, no momento em que está tendo a clínica irregular interditada, fazer um discurso político incitando os possíveis pacientes contra adversários.

 

Em um dos flagrantes da abordagem, vê-se um sem número de pessoas à frente da clínica em busca de um alento para a má prestação de serviços públicos na área de saúde. Sim, a saúde não é meramente uma mercadoria e o Estado brasileiro escolheu, com a criação do Sistema Único de Saúde, que é um direito universal do ser humano. E, nessas horas, aparecem figuras como o deputado, a se aproveitar da inocência e da falta de informação dos eleitores.

 

Há pelo menos sete anos acompanho a cena política baiana diariamente, por força profissional. Desde então, foram inúmeros momentos em que ouvir os discursos inflamados contra a corrupção de Targino poderia empolgar um desavisado. Não somos desavisados e sabíamos que aquele jogo de cena parecia ser de fachada. Porém jamais acharíamos que a situação fosse tão escancarada como o escândalo que veio a público nos últimos dias.

 

Para a sorte dos demais integrantes da Assembleia Legislativa da Bahia, as denúncias emergiram no recesso, quando poucos são instados a se pronunciar sobre as acusações contra Targino. Todavia, mesmo que houvesse sessões no legislativo baiano, o microfone estaria silenciado sobre o tema. O corporativismo fala mais alto e ninguém quer comprar briga com a metralhadora giratória que é Targino quando contrariado. Ou então outros parlamentares coadunam com a postura de “beneficência” usada por ele na clínica interditada.

 

Mas o Conselho de Ética não existe para isso? Quem esperar por uma ação desse colegiado, ainda mais quando não há um deputado disposto a protocolar uma denúncia, é melhor esperar deitado. Atender pacientes numa clínica irregular, usar receituários como santinhos e fingir que não há problema nisso não são ações cabíveis como quebra de decoro.

 

Entre acabar com a cara de pau de um político e acreditar que o Papai Noel existe, a segunda opção parece ser muito mais viável no Brasil que vivemos. Enquanto pessoas como ele se aproveitam da população, viveremos eternamente nessa miserável simulação de realidade, cruel e injusta.

 

Este texto integra o comentário desta sexta-feira (20) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para as rádios Excelsior, Irecê Líder FM e Clube FM.